Em entrevista exclusiva ao ge, goleiro de 35 anos falou sobre seus objetivos no Tricolor e a preparação para o jogo decisivo contra o Botafogo: “Vamos criar um clima para pressionar”
Alguns jogos que podem consagrar goleiros. Nesta noite, no Morumbis, São Paulo e Botafogo decidem o futuro na Conmebol Libertadores a partir das 21h30 (de Brasília), no segundo jogo das quartas de final. Na semana passada, no Nilton Santos, as equipes empataram por 0 a 0.
Com três defesas de pênaltis em disputas nesta temporada, duas contra o Palmeiras no título da Supercopa (de Murilo e Piquerez) e uma na eliminação do Paulistão contra o Novorizontino (de Lucca), o goleiro Rafael se diz pronto para, caso seja necessário, se colocar como candidato a herói.
– Nosso treinamento é diário, não só do goleiro, mas dos jogadores de linha também, para bater, para buscar confiança. Nosso trabalho é sempre para vencer, fazer nossa estratégia, impor nosso futebol e sair de campo com a vitória. Mas sabemos que jogos de Copa podem ter pênaltis, e venho trabalhando durante todo o ano para que nesta situação eu esteja com a maior confiança possível.
Diferentemente de outros goleiros, Rafael afirma que não leva para campo uma garrafinha de água com a cola de quais os cantos preferenciais dos batedores. Aos 35 anos, porém, ele revela que desde segunda-feira tem devorado todo o material informativo disponibilizado pelo clube. As defesas, porém, são muitas vezes resultado de um árduo estudo.
– A gente faz esse estudo antes de todos os jogos, independentemente se é Copa ou Brasileiro. Toda antevéspera dos jogos chega material para os goleiros, não só os pênaltis. Chega de bola parada, das ações dos atacantes, tudo para que a gente tenha o maior conhecimento do rival. Dois dias antes dos jogos chega o material completo. Tenho as finalizações dos atacantes, as bolas paradas, os escanteios, faltas laterais, as faltas frontais. Depois discutimos com o treinador para entrar em campo ciente de muitas coisas – explicou o goleiro.
Apesar dos estudos, Rafael diz que muitas vezes é o improviso do adversário a grande dificuldade:
– A gente treina muito, mas no campo toda situação é nova. Temos de tomar uma ação depois da do atacante, então a gente treina muita repetição de movimentos, para fazer a melhor ação em campo.
Quem vencer nesta quarta-feira no tempo normal tem garantida a vaga na semifinal da Libertadores para encara o vencedor do confronto entre Peñarol e Flamengo. No caso de novo empate, a decisão da classificação entre São Paulo e Botafogo será nos pênaltis.
Veja mais trechos da entrevista:
ge: o que o São Paulo precisa fazer para conseguir a classificação na quarta-feira?
Rafael: – Precisamos mais uma vez ser consistentes. Os primeiros 90 minutos tiveram muita disputa, eles criaram muita dificuldade para a gente no início do jogo, mas defendemos bem, passamos por esse momento do jogo, depois criamos oportunidades. Foi um jogo bom de jogar e também de assistir. Agora serão 90 minutos de dois times buscando a classificação, um jogo estudado, virão todos os estudos do primeiro jogo. Não podemos errar. Vai ser um grande espetáculo, estamos nos preparando mentalmente, fisicamente e taticamente para fazer um grande jogo novamente.
No Rio de Janeiro, houve um claro domínio do Botafogo na primeira etapa, mas o São Paulo se apresentou de uma forma diferente na segunda etapa e teve suas chances. O que mudou?
– Eles estavam dificultando muito a nossa saída de bola, a nossa construção. Somos um time acostumado a ficar com a posse de bola, ter o controle do jogo, eles pressionaram muito em todos os setores do campo, isso causou um desconforto na nossa equipe. Fizemos isso na segunda etapa, criamos dificuldades e o jogo ficou parelho. Nestes jogos, existem fases e momentos em que uma equipe está mais confiante, mas o mais importante é ser consistente. Em casa, vamos criar um clima para pressionar, tentar encurtar todos os espaços para ter a bola nos nossos pés.
– Somos um time muito forte em casa, graças ao torcedores que nos apoiam. A quarta-feira de Libertadores é diferente, o clima que se faz é diferente, isso vai somar muito na quarta-feira.
O primeiro jogo aconteceu no Nilton Santos, no gramado sintético. Para o goleiro, muda muito?
– Com certeza, é um jogo muito mais rápido, a bola vem mais viva, muda bastante. Mas a gente tem que se adaptar rápido. O fator casa pesa. Conhecemos bem a grama do Morumbis, que precisa de um tempo para se adaptar. São coisas normais no futebol.
O último título de Libertadores do clube foi em 2005. O que você lembra desta relação do São Paulo com a Conmebol Libertadores?
– Sempre foi algo muito comentado, né? Eu via os jogos, mas quando criança não tinha noção de como era tudo isso. Eu via os jogos, vi Rogério Ceni (em 2005), depois busquei os jogos, vi as atuações do Zetti (1992 e 1993), busquei a história do clube, vi a importância da Libertadores, e o quanto marcou para os ídolos maiores do clube essas conquistas. Rogério e Zetti fizeram muito pelo clube, fizeram a diferença na Libertadores. É o sonho de qualquer jogador, vamos trabalhar para conquistar.
E a sua relação com esse torneio? Teve outras experiências no caminho?
– Eu em 2009 cheguei à final com o Cruzeiro, mas perdemos para o Estudiantes*. Tenho um sonho de conquistar a Libertadores, hoje o São Paulo nos dá essa oportunidade. Espero que a gente faça um grande jogo, classifique e que esse sonho siga em nosso caminho. É o sonho de todo grupo.
*O titular era Fábio, hoje no Fluminense. Cria da base da Raposa, Rafael tinha 20 anos.
O que mudou daquele Rafael de 2009?
– Cada oportunidade que a gente tem de entrar em campo é uma chance de aprendizado com acertos e erros. A gente vai aprendendo com as situações e tenta evoluir. Eu estudo muito os jogos que a gente faz, o treinador de goleiros passa todos os nossos lances em jogos para manter o que foi bom ou corrigir o que saiu como não era previsto. A gente segue tentando evoluir e crescer.
Como é olhar para o banco e ver o Zubeldía jogando junto com o time na beira do campo?
– Ele ama tanto o futebol, vive tanto e respira tanto isso, ele quer que independentemente de nomes a gente faça o melhor e entregue ao torcedor, que isso nos motiva muito. Aquela energia dele é a entrega, de querer que a gente corra. Tenho certeza que se ele pudesse, entraria em campo e daria um carrinho. Ele quer que a gente melhore como equipe. Depois que comecei a trabalhar com ele, comecei a gostar ainda mais do futebol. É uma coisa que ele transmite, que ele vive.
E o contrato, já está renovado até 2027*?
– Ainda não, né?… Mas já falei com o presidente que se depender de mim, ele já tem a minha assinatura, só depende dele (risos). Cheguei aqui no São Paulo e disse que 2023 seria um ano muito especial, e com certeza foi. Foi um início de algo muito especial. Há um ano e meio estou muito feliz aqui, sendo campeão duas vezes, poder representar o maior clube do Brasil, um dos maiores do mundo, é motivo de orgulho. Representar esse clube é muito importante, agradeço pelo carinho dos torcedores. Se depender de mim, vou ficar aqui muitos e muitos anos.
*O contrato atual é válido até dezembro de 2025.
E como você está aos 35 anos? Aliás, como é sua relação com seu corpo? As cirurgias que fez ao longo da carreira deixaram marcas ou dores?
– Cara, eu me sinto muito bem. Em quase dois anos de São Paulo, fui a todos os jogos, não faltei em nenhuma sessão de treino, em jogos. Em dia depois de jogo, vou a campo para treinar, me sinto bem e sou apaixonado pelo meu trabalho. Graças a Deus não tenho dores nem limitações. O futebol de 2009 para cá evoluiu muito nesta preparação com o corpo, em fazer trabalhos para evitar lesões, para estar melhor preparado. Hoje, apesar de ter 35 anos, meu corpo está melhor do que há dez anos. Acho que é um dado importante: dois anos de clube e não faltar em treinos e jogos. Isso demonstra que o corpo vai bem e que nossa preparação tem sido importante na trajetória.
Desfalque mesmo, só por Seleção, né? Nesta sexta-feira tem convocação do Dorival Júnior para mais uma rodada das Eliminatórias da Copa de 2026. Como está sua expectativa?
– Dorival é um grande treinador, sou muito grato por tudo o que ele fez por mim, estou sempre na torcida pelo grande profissional que é. Vai nos dar muitas alegrias na Seleção. Tem grandes goleiros que a gente concorre, com capacidade para servir a Seleção. Fico lisonjeado de ser um dos nomes que pode ser escolhido, é um sinal de muita honra. Para mim, os goleiros brasileiros são os melhores do mundo. Independentemente de estar nesta lista ou não, estarei sempre na torcida.
Globo Esporte