Belmonte diz que planos do São Paulo para 2025 incluem Zubeldía: “A continuidade é quase óbvia”

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Em entrevista exclusiva, diretor de futebol afasta especulações sobre saída do treinador, fala sobre o planejamento do clube e afirma que time será competitivo mesmo com menor investimento

Só a chamada “imprevisibilidade do futebol” impede que a diretoria do São Paulo crave publicamente que Luis Zubeldía será mesmo o treinador da equipe na temporada 2025.

Como ele tem contrato por mais um ano e até aqui entrega bons resultados, num aproveitamento superior a 60%, apenas uma mudança abrupta de rumo interromperá o trabalho em dezembro. Ao menos é que afirmou ao ge o diretor de futebol tricolor, Carlos Belmonte:

– A gente viu muito essa conversa sobre “Zubeldía sair” ou “Zubeldía não sair”, mas aqui, internamente, nunca sequer conversamos sobre isso. Temos feito reuniões sistemáticas com ele, quase que uma vez por semana, discutindo o planejamento para a temporada 2025. Até porque não temos uma quantidade de recursos grande, então temos que trabalhar quem vai ficar, quem não vai, entender quem a gente precisa, quais posições, tudo isso ele tem feito. Eu não vejo nenhum movimento que possa tirar o Zubeldía daqui – afirmou o dirigente.

– Nunca cravamos porque tem também o ponto de vista do treinador. Lá atrás ele teve uma proposta da seleção do Equador, não sabemos o que vai acontecer. Às vezes ele pode ter uma proposta e querer ir embora. O que posso dizer é: estamos muito felizes com o trabalho, o resultado no Brasileiro é o melhor dos últimos anos, competimos muito bem, apesar das eliminações nas copas. Estamos muito satisfeitos com ele, nossa relação é ótima, a relação do elenco com ele é ótima, do Zubeldia com o todo é ótima. Ao meu ver, a continuidade do Zubeldía é quase óbvia – completou Belmonte.

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Contratado em abril, o técnico argentino levou o São Paulo às quartas de final da Copa do Brasil e da Conmebol Libertadores, com eliminações para Atlético-MG e Botafogo. Segundo o dirigente, o contrato prevê uma multa caso o treinador opte por deixar o Tricolor na próxima temporada.

– Mas ele tem dito claramente que está muito feliz, né? Nosso trabalho está indo muito bem, o trabalho é muito bom. Temos bastante tranquilidade, acho que a permanência do Zubeldía vai (se dar) por si só, é assim que a gente trabalha, por isso temos feito todas as reuniões de planejamento.

Numa conversa de uma hora com os setoristas do ge, Carlos Belmonte falou sobre os planos do clube para 2025 e disse que já teve várias conversas com o técnico sobre o que virá pela frente, incluindo detalhes da pré-temporada, da disputa do Paulistão e da chegada de alguns poucos reforços pontuais.

Abaixo, você confere a primeira parte da entrevista:

ge: como você vê o atual momento do São Paulo no Brasileirão, hoje na sexta colocação?
Carlos Belmonte: – É muito importante para a gente conseguir a vaga na Libertadores, óbvio, é um objetivo não só desportivo como financeiro. Os resultados foram bons, com a vitória contra o Bahia a gente conseguiu se aproximar mais da garantia da vaga da pré-Libertadores e agora é tentar buscar até o final da temporada, nos seis jogos, a vaga direta para a Libertadores. Dá um fôlego maior do ponto de vista de calendário e uma garantia de faturamento também maior. Nossa expectativa nessas seis rodadas é buscar uma vaga direta na Libertadores. Se não der, vamos buscar a pré. A temporada de 2025 necessariamente precisa da Libertadores por questões de caixa.

Dá para torcer então para Botafogo e Flamengo nas finais da Libertadores e Copa do Brasil para que vençam esses títulos e abram mais vagas diretas da Libertadores?
– Na verdade, estamos na busca de mais vagas. É óbvio que com Flamengo e Botafogo conquistando os títulos, abre vaga a mais para a gente ir direto na Libertadores. Estamos de olho, mas nosso objetivo mesmo é estar entre os quatro até o final da temporada. É com isso que a gente está trabalhando.

Você tem uma estimativa de quanto o um clube como o São Paulo perde financeiramente ao não ir para a Libertadores?
– Do ponto de vista de arrecadação, a gente está falando em dois terços. A Libertadores paga três vezes o que paga a Sul-Americana. Então você perde dois terços da sua arrecadação, você vai ter só a arrecadação da Sul-Americana. Isso em premiação. Tem jogo da Sul-Americana que a logística é mais cara que a logística da Libertadores, porque os times da Libertadores, quase todos, estão em capitais. Então você tem uma logística muito melhor. Na Sul-Americana, muitos jogos são no interior de outros países.

– Teve viagem, no ano em que a gente disputou a Sul-Americana, que o que a gente recebia (de prêmio) era menos do que a gente gastava para jogar. Apesar de a gente ter tido bons resultados de bilheteria na Sul-americana, a Libertadores te agrega muito mais também do ponto de vista da bilheteria. E vale pra tudo, né? Do ponto de vista de marketing, de renovação de contratos, a Libertadores afeta o todo. O marketing tem mais facilidade na busca de recursos.

Como foi feita a retomada do foco dos jogadores para o Brasileirão após a queda nas Copas?
– Nosso elenco tem muito comprometimento. Montamos um time que quer ganhar, que quer brigar pelos títulos. Quando vem a dor da eliminação nas Copas, o luto é maior. Isso liga uma luz amarela do risco de o time não voltar rapidamente e de se recompor para disputar o Brasileirão, mas felizmente conseguimos. Tem o peso das lideranças, Rafinha, Luiz Gustavo, Lucas, Calleri, jogadores experientes que conseguiram puxar o todo para que se voltasse rapidamente ao foco do Brasileiro, para que a gente pudesse ter o objetivo de estar na Libertadores de 2025.

– E logo tivemos o clássico contra o Corinthians, e a vitória sempre dá um ânimo maior para o elenco, então conseguimos retomar bem, mas não é fácil. Sempre tivemos essa preocupação e temos como exemplo positivo o Palmeiras, que tem isso muito claro. Quando eles são eliminados de alguma competição, muito rapidamente, até pelo tempo que o Abel está com o elenco, se recompõem e voltam a disputar as outras competições. É um grande mérito no foco. A gente trabalha muito para atingir essa situação também aqui, porque, óbvio, que você não vai ganhar todos os campeonatos.

Sobre a continuidade do Zubeldía, de fato chegaram propostas da seleção do Equador e do Boca Juniors? Vocês chegaram a conversar? O clube deu a ele alguma valorização?
– Do Boca não teve nada. Do Equador, sim, teve uma conversa, eles foram procurados, à época, pela Federação Equatoriana, aí a gente teve uma conversa, mas nunca foi: “Ah, estou saindo, quero ir embora”, foi mais para relatar que eles tinham tido uma aproximação, mas que o desejo era a continuidade. Para nós foi tranquilo. Ele continuou com os mesmos valores que ele tinha quando chegou aqui.

Numa coletiva recente, ele falou que existe um limite na relação de treinador e diretoria. Na visão de vocês, qual é esse espaço que ele gosta de ter?
– Eu acho que a colocação dele foi mais no sentido que é normal, que é de todos os treinadores. O espaço do treinador é dele. Quem escala o time, quem define quem vai jogar, o sistema tático, tudo isso é o treinador quem define. Ele é contratado para fazer isso, não cabe à diretoria discutir com ele essas situações. O que você pode discutir são coisas maiores e obviamente cobrar quando você acha que alguma coisa não está indo bem do ponto de vista técnico, tático… O treinador, todos eles, se você perde um jogo, ele não gosta de falar depois do jogo, no dia seguinte. Ele não quer conversar. Eles são pessoas solitárias por natureza. Então, normalmente, nos dias seguintes, eles ficam sempre mais reservados. Isso não é o Zubeldía, são todos. Nós sabemos que é assim.

– Mas a nossa relação é muito boa. Eu converso com o Zubeldía três ou quatro vezes por semana, eu, o Rui (Costa) e o Nelson (Ferreira). O Muricy fala com ele todo dia. E praticamente em toda viagem a gente faz uma reunião para conversar sobre futebol, sobre como está o time, quem está rendendo bem, quem não está, como ele está vendo as situações. Tenho um hábito que a gente criou aqui quase todo treinamento de sábado, pré-jogo, eu fico só eu e ele 1h, 1h30 ao final do treino debatendo como vai ser o time, o que ele está pensando, como ele vê o adversário. A relação é muito boa, mas ela não é muito diferente do que tinha sido com o Dorival, com o Rogério, com o Carpini e com o Crespo. A gente sempre teve esse relacionamento com os treinadores. A gente sempre conversa de futebol com os treinadores em níveis diferentes. O Muricy, como coordenador técnico, conversa mais das questões técnicas. A gente, como diretoria, conversa mais sobre questões conceituais e também como a gente vai trabalhar a Copa do Brasil, Libertadores, o Brasileiro, como os times vão jogar, que situação nós vamos forçar um pouco mais ou forçar um pouco menos.

Em junho, quando o time ficou quatro jogos sem ganhar, vocês de fato conversaram com ele sobre a importância de usar os melhores jogadores também no Brasileiro?
– Sim, depois no jogo contra o Vasco lá no Rio de Janeiro (derrota por 4 a 1), porque precisa ter o entendimento. Isso é muito legal da relação com o Zubeldía. Por exemplo, outro dia ele me chamou e queria entender o que é o Campeonato Paulista, como lidar com uma competição como o Campeonato Paulista, que pra ele é diferente. Então, eu fui explicar pra ele que temos as quartas de final e a semifinal em jogo único e depois a final em dois jogos. E que quem tem a vantagem de jogar em casa é quem tem a melhor campanha na fase classificatória, por isso ela tem um peso gigante ao final do campeonato. Que no ano em que a gente ganhou o Paulista contra o Palmeiras (2021), a gente fez a melhor campanha na primeira fase, o que nos garantiu decidir no Morumbis. Todas essas explicações são muito importantes para que ele possa entender e preparar a estratégia dele para a competição, né? O Zubeldía é um cara muito acessível no todo, muito tranquilo e muito bom de conversar.

Se ele quer saber do Paulistão, é porque ele estará em 2025…
– É, não tenho dúvida, é a nossa expectativa. É que é futebol, o Júlio (Casares) fala muito isso e ele tem razão, é futebol. Nós estamos aqui falando agora de Libertadores, mas vamos dizer que São Paulo tenha seis jogos terríveis, seja eliminado de tudo, que os resultados sejam péssimos, pode mudar a visão. Vamos dizer que o São Paulo tem resultados ótimos e que chegue para ele uma proposta em janeiro que ele ache que é boa. Então não dá para você cravar. Dá para você dizer o seguinte: hoje, tudo o que nós estamos fazendo aqui, é pensando no Zubeldía na próxima temporada. É o que a gente quer. Então, nesse momento, esse é o encaminhamento.

Ainda sobre 2025, ele tem questionado vocês sobre as limitações financeiras que serão impostas pela criação do fundo? Porque isso limita e terá um impacto nas contratações, né?
– Sim, ele já conversou com a gente sobre isso, mas ele tem muita confiança no que a gente faz, porque a gente faz junto. Para nós, do futebol, não muda tanto a questão do fundo, a gente sempre teve pouco recurso aqui. Claro que agora a gente sabe que tem que ter saídas para ter entradas. É um pouquinho diferente. A gente tem que casar mais saídas e entradas. Antes a gente podia eventualmente conseguir uma entrada de um atleta para depois fazer uma saída. Agora, por causa do fundo, a gente tem que ter o cuidado de as coisas estarem casadas.

– Mas ele sabe, e para nós do futebol continua a mesma situação. Nesta janela, a gente trouxe quatro jogadores por empréstimo (Ruan, Jamal Lewis, Santi e Marcos Antônio). Então a gente vai continuar trabalhando nesse mercado que a gente já atua, não é muito diferente. A gente teve pouca margem para grandes contratações do ponto de vista financeiro. Então, continua igual, não tem muita alteração.

Você imagina grandes mudanças no elenco para 2025?
– Hoje nós temos um elenco que já atende muito a nossa demanda, não temos que fazer grandes movimentações. Ao contrário do que ocorreu, por exemplo, em 2021 e 2022. Nosso elenco está mais ou menos formado, a gente sabe que precisa de algumas posições pontuais, vai sair o Welington na lateral esquerda, vamos precisar trazer outro, mas não tem nada que a gente ache que precise muito. Aí vai depender muito realmente do mercado, se tiver uma proposta por algum jogador nosso, aí talvez tenha que repor. Mas nosso elenco basicamente está formado, não terá grandes mudanças no elenco.

Nos últimos anos, vimos Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG investirem muito e montarem equipes muito fortes no Brasil. No último ano, o Botafogo se juntou a esse grupo na briga pelos títulos. Como o São Paulo vai se colocar nas disputas em 2025 tendo de cortar alguns investimentos?
– Acho que a preocupação do presidente Julio Casares no sentido de recuperar o São Paulo do ponto de vista financeiro é importante para a instituição, a gente tem que fazer isso mesmo. É fundamental que o São Paulo consiga pouco a pouco diminuir a sua dívida para ter lá na frente mais possibilidades de investimento. Mas eu continuo achando o meu time muito competitivo. Ele vai ser capaz de ganhar? Não sei. Mas eu acredito no meu time. “Ah, você vai ter poder de investimento?”. Não. Vai dar para trazer grandes jogadores do ponto de vista de custo? Não. Mas eu acredito no time que eu tenho. Eu acredito em tudo que a gente formatou até agora. Eu olho para o time que eu tenho, titulares e reservas, e acho que eu posso competir de novo em 2025, mesmo sabendo que tem times com maior poderio econômico, com mais investimento, que a gente vai competir de novo.

– Nós criamos um time aqui com gente de caráter e que gosta de competição. E por isso nós vamos competir. A gente ganhou a Supercopa, depois fomos eliminados no Paulista, a única eliminação que não poderia ter ocorrido, a gente sabe disso. Aí vem a eliminação com o Atlético-MG, em que a gente fez dois jogos muito parelhos, fizemos um jogo muito melhor no Morumbis, o Atlético-MG fez um gol no final, lá foi equilibrado, e o Atlético-MG passou. Com o Botafogo, o time que está à frente no Campeonato Brasileiro e na final do Libertadores, tivemos um primeiro tempo ruim no Rio, e depois nos três tempos a gente foi melhor que o Botafogo. E fomos eliminados nos pênaltis. Por isso é uma dor muito grande, poderíamos estar na final da Libertadores. Como a gente poderia esse ano, acho que podemos estar o ano que vem. Por quê? A gente não deve fazer grandes mudanças no elenco. Acreditamos na permanência de muitos atletas e isso ajuda. Se a permanência da comissão ocorrer, o que eu acho que vai ocorrer, a gente mantém o nível de competição. Ano que vem a gente tem de novo um ano que vai competir. Eu acho que o São Paulo está na briga. Está na briga sempre, mesmo contra elencos que são mais poderosos que o nosso.

Fonte: Globo Esporte