Árbitro nega machismo em jogo entre Bragantino e São Paulo: “Controle disciplinar”

177

Juliano José Alves Rodrigues se defendeu das acusações de atletas das equipes, que dizem que árbitro proferiu falas machistas durante jogo do Paulistão Feminino

O árbitro Juliano José Alves Rodrigues negou que tenha conduzido a partida entre Red Bull Bragantino e São Paulo, na última quinta-feira, 15, pelo Paulistão Feminino, de forma machista. Em contato por telefone com o ge, ele admitiu ter dito “que iria pegar” a zagueira Stella, do Bragantino, mas que a frase teve como objetivo uma advertência verbal, para controle disciplinar, antes da aplicação de um eventual cartão amarelo.

Árbitro nega machismo em jogo entre Bragantino e São Paulo: “Controle disciplinar”

Juliano disse que já assistiu à partida toda duas vezes e está seguro de que agiu conforme à regra e que poucas vezes conversou com as atletas. O lance que originou o protesto de Stella ainda no gramado foi aos 20 minutos do segundo tempo. O árbitro disse que zagueira do Bragantino já havia reclamado da arbitragem outras vezes ao longo do segundo tempo e, por isso, a advertiu de forma verbal.

– O que quis dizer, no jargão do futebol, é que, numa próxima oportunidade, daria o cartão – disse Juliano. Stella terminou a partida sem levar cartão.

Sobre Aline Milena, do São Paulo, que também se manifestou como testemunha de atos machistas, disse que também a advertiu verbalmente ainda no primeiro tempo ao ser cobrado de forma acintosa, com uso de palavrão, pela aplicação de uma falta em que deu vantagem no lance, com a frase “apito a hora que eu quiser”. Segundo ele, cumprindo a regra do jogo de controle disciplinar, reafirmando a autoridade do árbitro na partida. Aline levou cartão por uma falta ainda no primeiro tempo.

Publicidade

Gesto

Juliano Rodrigues também explicou porque não parou a partida quando Stella fez o gesto dos braços em X, como parte do protocolo da Federação Paulista para casos de discriminação. Segundo ele, não houve motivo para que o protocolo fosse acionado já que, na visão de Juliano, não havia um caso de discriminação em curso.

A Federação Paulista de Futebol informou por nota que vai analisar as imagens da partida. Juliano se disse tranquilo, já que ao rever os lances, tem a certeza de que agiu da maneira como deveria para o controle disciplinar das regras de jogo, sem ter tido qualquer atitude machista.

Na súmula, Juliano José Alves Rodrigues não relatou o caso:

– Nada houve anormal – escreveu o árbitro no documento.

As imagens da transmissão também mostram Stella reproduzindo o que ouvir de Juliano:

– Falando que vai me pegar, tá? Para todo mundo ouvir aqui – disse a jogadora, segundos antes de pedir a paralisação da partida.

A jogadora teve o apoio das outras atletas que estavam em campo, inclusive as do São Paulo. Depois do jogo, ela se manifestou nas redes sociais:

– Precisamos falar. Não cabe mais nos calarmos, mas, mais do que isso, precisamos ser ouvidas. Espero de coração que medidas sejam tomadas, não só por mim, mas por inúmeras mulheres e crianças que praticam esse esporte, que lutam diariamente para conquistar o seu espaço e ter o devido respeito – escreveu.

O caso

As jogadoras Stella Terra, do Red Bull Bragantino, e Aline Milene, do São Paulo, relataram casos de machismo da arbitragem da partida entre as equipes nesta quinta-feira, 15, pela segunda rodada do Paulistão Feminino.

Segundo as atletas, o árbitro Juliano José Alves Rodrigues teria proferido falas machistas contra atletas de ambas equipes durante o jogo. Aos 20 minutos do segundo tempo, antes de uma cobrança de falta a favor do Bragantino, as imagens da transmissão mostraram Stella erguendo os braços e fazendo o gesto para denunciar o caso.

– O meu episódio foi um dos que aconteceu. Ele virou para mim e disse: “na hora certa, vou te pegar”. Trouxe a Aline (Milene) aqui porque elas viram e ouviram. Não é questão de “ah, estava perdendo”. Todo mundo ouviu falas preconceituosas, machistas, com o Red Bull bragantino, com jogadoras do São Paulo. Fiz o sinal. A Federação adotou o protocolo de, em qualquer momento de algum preconceito, fazer o sinal. Nada aconteceu. Uma situação muito triste. Medidas tem que ser tomadas – disse Stella Terra em entrevista à TNT Sport após a partida.

– Não pode isso acontecer no futebol feminino. Quando os homens vem apitar, acham que podem falar como bem entendem. Tem que ter respeito. Sofri a mesma coisa ali. Falou que iria dar falta quando quiser. Não é assim, tem que ter respeito. Quando a Stella faz esse gesto, falei para parar (o jogo). Não é desse jeito que tem visto. A Federação faz um trabalho grande para uma coisa dessa acontecer? Ambiente tem que ser respeitoso – afirmou Aline Milena.

Federação diz que vai apurar o caso

Por meio de nota, a Federação Paulista de Futebol afirmou que o caso será apurado e que não tolera atitudes preconceituosas. Veja abaixo a nota na íntegra:

“A Federação Paulista de Futebol informa que recebeu com atenção e seriedade os relatos das atletas Stella, do Red Bull Bragantino, e Aline Milene, do São Paulo, após a partida entre as duas equipes realizada nesta quinta-feira (15), pelo Paulistão Feminino Sicredi.

A FPF não tolera, sob nenhuma circunstância, atitudes preconceituosas, discriminatórias ou desrespeitosas dentro ou fora de campo. Toda manifestação contrária aos valores de igualdade, respeito e integridade será apurada com rigor.

Acolhemos as manifestações das atletas com o devido respeito e já iniciamos uma apuração detalhada dos fatos. O futebol paulista é e deve ser um espaço seguro, inclusivo e respeitoso para todas as pessoas envolvidas.”

Clubes apoiam atletas

Bragantino e São Paulo também emitiram notas de apoio às atletas e repúdio ao preconceito.

Veja abaixo a nota do Bragantino:

“O Red Bull Bragantino apoia e se solidariza com as denúncias feitas pela nossa atleta, Stella Terra, e pela jogadora do São Paulo Futebol Clube, Aline Milene, contra atos de machismo da arbitragem do jogo entre as equipes, pela Paulistão Feminino.

Nosso clube sempre prezou pelo respeito e dignidade para que as mulheres tenham o direito de exercer seu trabalho com profissionalismo, seja dentro ou fora de campo.

Repudiamos toda e qualquer atitude discriminatória e esperamos, com atenção, a apuração dos fatos pela Federação Paulista de Futebol.”

Veja abaixo a nota do São Paulo:

“O São Paulo Futebol Clube se solidariza e se une à equipe do Red Bull Bragantino em repúdio a atos machistas vindos da arbitragem, na partida de hoje (15), entre as equipes, pelo Campeonato Paulista Feminino.

É com a valentia e a força de mulheres que trabalham diariamente para ganhar espaço, que reforçamos que não aceitamos conviver com machismo e ofensas no futebol feminino. Regras são para serem cumpridas.

O São Paulo não tolera tais atitudes, e sempre apoiará o respeito, profissionalismo e direitos do Futebol Feminino.

Ressaltamos que o Tricolor confia na apuração dos responsáveis, certo de que a justiça será feita.

Às atletas, o nosso apoio.”

Fonte: Globo Esporte