Alex, técnico do sub-20 do São Paulo, fala sobre nova carreira: “Jogar bola é divertido; ser treinador, nem tanto”

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SporTV

Ex-meia e agora técnico foi o entrevistado do “Grande Círculo” deste sábado.

Alex foi um dos jogadores que mais bem vestiram a camisa 10 em sua geração, muito porque aprendeu com seus treinadores Zico e Luis Aragonés que, para atuar no limite de seu potencial, era necessário “desfrutar do jogo”. Prestes a completar seu primeiro ano como técnico, no comando da equipe sub-20 do São Paulo, o ex-jogador que brilhou com as camisas de Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe reconhece: jogar bola é divertido; ser treinador, nem tanto.

– Jogar bola é divertido; ser treinador não tem tanta diversão. Essa é uma realidade. Eu me diverti muito no início, no Coritiba, me diverti muito no Palmeiras, depois me diverti muito na Turquia também. Luis Aragonés e Zico falavam muito em se divertir com a bola, desfrutar do jogo (…) Como jogador você cuida de si mesmo, toca sua vida. Quando digo que não é divertido (ser treinador), é porque não é. Tem algumas situações que vejo dentro de campo e penso que eu não faria daquele jeito, mas não é mais minha função (jogar) – comentou Alex.

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Convidado do programa Grande Círculo, do sportv, exibido na noite deste sábado, Alex recordou momentos de sua vitoriosa carreira como jogador, explicou por que decidiu começar na base a carreira como treinador e avaliou o atual momento dos técnicos no Brasil. Afirmou que nunca viu jogador derrubar técnico e garantiu: o camisa 10 ainda não acabou.

–Tem vários 10 espalhados por aí. No sub-20 do São Paulo tem um 10 chamado Pedro. Infelizmente, ele teve uma lesão no joelho e está se recuperando. Tem outro menino chamado Luiz Henrique, que é um 10. O Lazaro, que joga com Paulo Souza na equipe principal do Flamengo, é um 10. O Atlético-MG tinha um menino chamado Rubens, era um 10. A questão é a seguinte: como você vai usar o 10? Vou dar dois exemplos: Raphael Veiga é um 10? Everton Ribeiro é um 10? Aí tem de perguntar para os treinadores. Qualidade ambos têm, a função eles sabem fazer e as características necessárias também possuem. Aí, é do técnico usá-los como 10 ou não – disse.

Alex na entrevista ao Grande Círculo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex na entrevista ao Grande Círculo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex tem como missão principal garimpar em Cotia novas joias para o elenco principal dirigido pelo técnico Rogério Ceni. O ex-camisa 10 ainda não conquistou títulos na nova carreira, mas tem chegado às fases decisivas das competições que disputa. Sob seu comando, o time sub-20 do São Paulo foi finalista do Campeonato Brasileiro, chegou às oitavas de final do Paulista e parou nas semifinais da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Apesar de o empobrecimento técnico do futebol brasileiro ser um consenso entre os torcedores, o ex-meia entende que o país ainda forma jogadores do seu nível.

– Forma (jogadores). Estreei no Coritiba sem contrato. Hoje, um menino de 14 anos assina um contrato de formação e, com 16, já tem contrato (profissional). Se um menino de 16, 17 anos faz um gol na Copa São Paulo já fica famoso. Se um menino que vem do Nordeste faz um gol e elimina o Corinthians, é contratado. Ninguém conhecia o menino até aquele dia, mas é contratado. O futebol mudou muito nesse sentido. A formação de bons atletas continua, o que mudou é a questão da transição. Será que o menino dos juniores transita bem para o time de cima? Esta semana teve a discussão sobre Luiz Henrique, do Fluminense (vendido ao Betis, da Espanha, por R$ 70 milhões). Vale a pena? É pouco dinheiro para o Fluminense? É uma discussão que, nos anos 1990, não existia.

No São Paulo, Alex reencontrou Rogério Ceni, que foi coadjuvante involuntário de um dos momentos mais marcantes de sua carreira como jogador. Foi no dia 20 de março de 2002, em uma partida do Torneio Rio-São Paulo contra o Tricolor paulista no Morumbi, que, após passe do atacante Christian, o então camisa 10 do Palmeiras dá um chapéu em um defensor, outro em Ceni e completou para a rede. Apesar de ter feito um dos gols mais bonitos deste século no Brasil, Alex teve de conviver com críticas segundo as quais era pouco participativo e “dormia em campo”.

– (As críticas) Eram pejorativas, pesadas. As pessoas falavam que eu dormia em campo, que eu participava pouco. Eu discutia muito, falava: “Eu só faço menos gols que Paulo Nunes e Oseas e, nas assistências, só perco para o Arce”. Outra coisa: naquela época ninguém discutia sobre os números. Futebol era discutido de maneira diferente. Às vezes falavam: “a recomposição do Alex não é boa, então o Palmeiras perde um jogador quando vai se defender” – queixou-se.

Alex é hoje treinador do sub-20 do São Paulo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex é hoje treinador do sub-20 do São Paulo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex trabalhou com Luiz Felipe Scolari no Palmeiras e reconhece que aprendeu muito com o técnico, mas não escondeu mais uma vez a decepção com o “Felipão pessoa” por não tê-lo convocado para a seleção brasileira que conquistou o pentacampeonato mundial no Japão e na Coreia do Sul, em 2002.

– A gente trabalhou junto de 1997 a 2000, teve três anos espetaculares, nos quais ele me ajudou bastante. O episódio da Seleção, para mim, é muito simples: ele era o treinador da seleção brasileira e fez as opções dele. Tenho uma decepção com o Felipão, mas não é com o Felipão treinador, que me ajudou pra caramba. Minha decepção com o Felipão é o “Alex pessoa” com o “Scolari pessoa”, mas a gente já conversou e isso ficou para trás.

Em 2003, Alex só não fez chover com a camisa do Cruzeiro. O time dirigido pelo técnico Vanderlei Luxemburgo e que tinha jogadores como Aristizábal, Deivid, Maldonado e Edu Dracena conquistou a tríplice coroa – a Copa do Brasil e os campeonatos Mineiro e Brasileiro – tendo o meia como melhor jogador. Alex era o maestro de um verdadeiro esquadrão, um dos melhores da história do Brasileirão. O agora treinador foi questionado durante o “Grande Círculo” sobre se sua temporada foi uma “resposta” à não convocação do ano anterior.

– Vanderlei me ligou no meio de 2002 e disse: “Alex, nós vamos montar uma equipe para 2003 em cima das suas características”, e eu assinei com o Cruzeiro. Fui muito maltratado no clube e, quando eu digo Cruzeiro, não me refiro ao cruzeirense, mas às pessoas que lá estavam. Por exemplo, os irmãos Perrella, Alvimar e Zezé (ex-presidentes do clube), não me queriam – respondeu.

– Eu fui considerado o melhor jogador do país na época e dizia para a rapaziada que, talvez, eles tivessem contratos melhores que o meu, porque era a realidade daquele momento. Naquele momento, eu fiz uma aposta com o Vanderlei. Ou melhor, o Vanderlei apostou em mim, porque os outros não me queriam. Quem me queria naquele momento era o Vanderlei. Então, meu ano foi legal, espetacular. No Brasil, o melhor que já tive, mas também foi o ano da rapaziada que me acompanhava – prosseguiu.

Alex no estúdio do Grande Círculo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex no estúdio do Grande Círculo — Foto: Reprodução/SporTV

Alex garante que nunca viu jogador derrubar treinador.

– Nunca vi. O que, para mim, derruba treinador é a falta de convicção de quem contrata. Outra coisa que no Brasil acontece: o clube manda o cara embora no início do campeonato e o mesmo cara volta no final. O que mudou naquele período? Então, para mim, o que derruba treinador é o diretor que contrata e não sabe por que contratou. O técnico controla tudo, exceto o jogo, que é incontrolável. A decisão é do jogador. Por exemplo: um diretor vai ao jogo, o Gabriel Sara bate um escanteio no primeiro pau e todo mundo vai no segundo. Se o diretor não assistiu ao treino, não sabe se foi o Sara que errou, se erraram ou os jogadores que foram para o segundo pau, ou se aquilo foi treinado.

Leia outras respostas de Alex:

Em seu livro (Alex, a Biografia) tem uma história sobre sua passagem meteórica pelo Flamengo. O texto relata que, dez minutos depois de você chegar ao clube, um torcedor diz que você não tem a cara do Flamengo. Que cara tem o Alex?

– Sou um cara que cresci em uma família na qual diziam que a honestidade era o que te levaria para frente. Em cima disso segui minha vida, enquanto criança na quadra jogando futsal, depois no campo. Falar de mim mesmo é difícil. Mais fácil é a pessoa que conviveu comigo em algum momento dizer como eu ajo em determinada situação. Porém, o principal para mim é a retidão, seguir sempre reto naquilo que penso e em que acredito. Em cima disso criei minha família e sigo meu dia a dia.

Na Turquia, você diz que aprendeu a ver o futebol de outra forma. O que aprendeu?

– Quando eu estava no Brasil, antes de sair (para o exterior), todo mundo falava que futebol era igual em todo lugar. O campo é do mesmo tamanho, há dez jogadores de cada lado mais os goleiros, um ataca e o outro defende e, ao menos naquele período, não se discutia a questão do local onde você joga. Eu aprendi que os torcedores do Athletico e do Coritiba são diferentes dentro da mesma cidade e, aqui em São Paulo, quando pego um são-paulino, um corintiano e um palmeirense, vejo que são diferentes na maneira de torcer, de enxergar o time. Você vai para o litoral, encontra um santista e percebe que ele vê o futebol de outra forma, porque as histórias são contadas de forma diferente.

– Na Turquia, isso fica muito evidente para mim. Eu já estava com 27 anos, tinha vivido outras coisas e começo a ver como a imprensa trabalha, como a sociedade enxerga o time, como os atletas sentem a derrota, como enxergam a vitória (…) Então, algumas perguntas que eu fazia aqui no Brasil e para as quais não obtinha respostas, lá começo a ter algumas respostas diferentes. Por exemplo, a sociedade turca é diferente da sociedade brasileira e isso já torna o jogo diferente.

Como você vê o momento dos técnicos no Brasil?

– Eu vejo com normalidade. Após a Copa do Mundo em que perdemos para a Alemanha, houve um massacre grande nos treinadores. Aí ficou aquela briga entre os técnicos mais velhos e os mais novos e outra briga imbecil, que o ex-jogador versus o cara que nunca jogou, mas estudou e se preparou para treinar. Então, nessas brigas, os espaços se abriram. Uma coisa que sempre comento é que não sabemos nada dos grandes treinadores que tivemos, por exemplo, Ênio Andrade, Rubens Minelli. A gente não tem nada do Oswaldo Brandão. Antes desse livro que o Abel Ferreira escreveu a respeito do Palmeiras (Cabeça Fria, Coração Quente), o único livro que vi escrito por um treinador foi o do Vanderlei, sobre o time de 2003.

– A minha geração, que está chegando, já passou por essa discussão, aceita o universitário, o universitário já nos aceita, a gente trabalha junto. A geração do pessoal mais velho já entendeu que, dentro da comissão técnica, é preciso ter essas pessoas. Outra coisa importantíssima é como a gente discute isso. Vocês da imprensa têm um papel importantíssimo, de ver o que está sendo feito. Tem algumas coisas que eu vejo na TV e dou risada. Por exemplo, hoje o Abel Ferreira é a bola da vez, o treinador bicampeão da América. Então, o Abel usa uns copinhos, alguém vira na TV e diz: “Tá vendo, o Abel fala de tática até com os copinhos”. Pera aí, pô. Os caras faziam isso com laranjas lá atrás. (Paulo César) Carpegiani, que foi meu treinador, fazia isso com frutinhas, mas só o Abel é legal? Ele é bicampeão da América, mas aquilo que ele fez já era feito.

– Quando um treinador decide sair de uma plataforma de quatro e posiciona três jogadores é porque treinou, não tirou aquilo na hora do jogo. Ele até faz uma loucura quando faltam dois, três minutos e não tem mais o que fazer. Porém, o resto do jogo ele treinou. Ninguém faz nada aleatório. Então, essa discussão pós-2014 levou para um caminho ruim. Os estrangeiros entraram bem porque são bons treinadores, mas a gente tem de lembrar também que alguns estrangeiros não funcionaram, o que é normal, e que um brasileiro, o Cuca, fez um campeonato espetacular no ano passado. Quando avalio um treinador, não olho o passaporte dele, mas aquilo que tem condições de fazer.

Como você se prepara para esse mercado? Como seria treinar uma equipe com a qual você tem vínculo grande?

– Ouvi isso do Cuca, já ouvi isso do Levir (Culpi), do (Gilson) Kleina, do Adilson (Batista), de vários do Coritiba. Acho que a questão é a família, porque se perco um jogo no Rio de Janeiro dirigindo qualquer equipe do Rio, vou para minha casa e não tem esse contexto. A família é a que mais sofre. O filho vai para a escola, a esposa vai ter de trabalhar e ouvir as besteiras naturais que se ouve no futebol. Sendo sincero, não tenho esse tipo de preocupação, porque eu fui vidraça durante muito tempo. Quando as coisas davam certo, era porque o Alex funcionou bem. Quando não dava certo, eu era um dos mais criticados. Então, cresci na minha vida esportiva lidando com elogio e crítica.

– Quando o Muricy (Ramalho, coordenador técnico do São Paulo) me contratou, por dois anos, vieram clubes atrás de mim para que eu deixasse o São Paulo e dirigisse equipes principais este ano. Agradeci, mas falei que seguiria meus planos e, a partir de 2023, estarei lá, debaixo da arquibancada, treinando um time principal, que é minha ideia.

O movimento Bom Senso, criado em 2013 por jogadores para cobrar melhores condições no futebol, não deu muito certo. Por quê?

– Eu acho que deu certo, e volto para quem comanda o futebol. O jogador é uma peça, mas não assina nada. O treinador é uma peça, mas não assina nada. O Bom Senso chegou no poder maior, na época a presidente Dilma Rousseff. Sentamos com a Dilma duas, três vezes, com o ministro do Esporte duas, três vezes. Sentamos com o ministro da Casa Civil duas, três vezes. Sentamos com a CBF, conversamos com dirigentes de clubes, com executivos. Então, a meu ver, o Bom Senso funcionou, mas infelizmente era (liderado por) jogadores mais velhos que começaram a parar. Não houve sequência, como infelizmente acontece com muitas situações em nossa sociedade.

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