UOL
Thiago Fernandes
Candidato à presidência do São Paulo, Roberto Natel protocolou documentos em que contesta o formato adotado na eleição de 100 novos membros para o Conselho Deliberativo, que ocorrerá em 28 de novembro. Sem provas, ele aponta a possibilidade de crime eleitoral no evento, alegando que o modelo favorece o que chama de “voto de cabresto”. A queixa é pelo fato de os sócios do clube receberem dos coordenadores de chapas um lote das cédulas em branco e terem direito de preenchê-las antes de chegar ao local de votação.
O modelo do pleito, de acordo com o apurado pelo UOL Esporte, é usado nas votações para conselheiros no São Paulo, inclusive foi adotado em 2014. O formato tem a intenção também de evitar aglomeração no espaço por causa da pandemia do novo coronavírus. Em que pese as justificativas, o candidato se incomodou com a decisão e enviou um documento em que, mesmo sem provas, acusa a possibilidade de prática criminosa e solicita a mudança da forma ao mandatário Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, e ao presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Abranches Pupo Barboza.
O UOL Esporte teve acesso à queixa do candidato na íntegra. A manifestação de Roberto Natel conta com adesões de aliados e diz que “é obrigação do Presidente da Diretoria e do Presidente do Conselho Deliberativo agirem de modo a coibir e, principalmente, não atuar de nenhuma maneira que possa colaborar com a prática do delito que vier a ser praticado por aqueles associados que venham a entregar cédulas eleitorais já preenchidas aos associados”.
O candidato à presidência alega que entregar as cédulas aos sócios antes da ida às cabines de votação “contribui para que agentes políticos venham a praticar o ato ilícito”. Ele acrescenta que esta postura “viola frontalmente a norma prevista do Estatuto Social do São Paulo Futebol Clube, porque ao utilizar uma cédula já assinada e recebida antes de sua entrada na cabine de votação, fica claramente caracterizada a quebra do princípio do voto secreto”.
Roberto Natel segue dizendo que “é obrigação não colaborar com a prática de crime durante a Assembleia Geral de Associados a ser realizada no próximo dia 28 de novembro de 2020, para eleição de 100 conselheiros. E isso somente poderá ser feito se Vossas Senhorias se absterem de fornecer cédulas assinadas aos representantes das campanhas, ou a quaisquer associados, de modo que todos os associados votantes somente recebam as cédulas do mesário, no momento de adentrar à cabine de votação”.
Ele conclui alegando que “os associados abaixo-assinados reiteram sua firme intenção de tomar todas as medidas legais, interna e externamente, que estiverem ao seu alcance para, na hipótese da prática das violações legais, estatutárias e regimentais que, claramente, resultam da prática imoral e ilícita de distribuir cédulas assinadas aos associados, realizando a prática de voto de cabresto no São Paulo Futebol Clube, punir os culpados e apurar se/como tais práticas possam ter vindo a macular todo o processo eleitoral”.
Procurados para falar sobre o assunto, Leco e Pupo não se manifestaram. O UOL Esporte, no entanto, apurou que a organização da eleição é de responsabilidade da diretoria executiva. A presidência do Conselho Deliberativo tem como incumbência apenas convocar a Assembleia Geral dos Associados por meio de comunicado, o que aconteceu na última semana.
Roberto Natel também foi procurado pela reportagem e se manifestou: “Quero transparência, o São Paulo está querendo fazer exatamente o contrário. Eu já conversei com o presidente do Conselho Deliberativo [Marcelo Abranches Pupo Barboza] e ele me falou: ‘vamos continuar da forma que sempre foi’. Quero transparência, temos que moralizar o São Paulo. Precisamos mostrar que estamos mudando, não podemos aceitar isso de forma alguma”, disse ao UOL Esporte.
“Voto é secreto e, como querem fazer, fica claro o chamado voto de cabresto, que é crime eleitoral. Nosso pedido foi protocolado na secretaria e protocolado na diretoria da sala do presidente. Eu tenho dois protocolos, um que fiz com a secretaria do presidente [Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco] e o que está protocolado no Conselho Deliberativo”, concluiu. Ex-vice-presidente de marketing do São Paulo, José Francisco Manssur deu entrevista ao canal Sombra Tricolor no YouTube em 28 de setembro passado e falou sobre a situação da eleição. Ele alega que, em 2014, ano da última Assembleia Geral de Associados, houve o que Natel teme que haja em 2020.
“Acontece uma coisa muito grave no São Paulo. O voto para conselheiro é secreto. Tem gente que chega com a cédula preenchida para votar. Estou falando isso agora, porque isso anula eleição. Tem gente que reúne 400 sócios numa salinha e dá uma cédula para cada um preenchida. Eu vi isso, todo mundo viu. Não tem um cara para ter coragem de vir aqui e falar que não acontece. O cara vem com a cédula pronta e deposita na urna. O presidente do Conselho tem que coibir isso. É coronel dos anos 1930. O que é isso? É o Iraque? Eu vou falar antes, porque não quero tumultuar. Se acontecer isso dessa vez, vai ter alguém ali para colher as provas”, comentou.
“Se o cara não quer uma urna eletrônica, que a cédula ao menos fique na cabine. O sujeito chega com a cédula pronta para votar. Como o associado do São Paulo se submete a fazer esse cabresto? Às vezes, o cara nem sabe em quem votou. Ninguém faz isso em troca de comida. Se isso acontecer, ela tem grande chance de ser anulada. Eu não estou imputando isso a um lado ou ao outro não. São os dois lados. A gente pode anular essa eleição do São Paulo. É bom que todos fiquem atentos. Não dá para sair coisa boa de um processo assim”, acrescentou.
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