SãoPaulo F.C.
Michael Serra
No dia 15 de fevereiro de 1997, o goleiro entrou para história ao marcar contra o União São João.
Por conta da incrível trajetória como goleiro, Rogério Ceni gravou o próprio nome na eternidade com inúmeros recordes e conquistas, coletivas ou pessoais. E uma delas, certamente a mais peculiar para um atleta desta posição no esporte, é o símbolo da carreira dele: 131 gols marcados. Estes gols tiveram início há exatos 25 anos, quando o goleiro executou uma cobrança de falta que mandou a bola ao fundo das redes de Adnan.
Naquela tarde de sábado, 15 de fevereiro de 1997, quando o relógio marcava 16h44 em Araras – interior de São Paulo – o volante Ricardo Lima, do União São João, cometeu falta em cima de Adriano, perto da grande área do time local e, por essa infração, o adversário recebeu o cartão amarelo. Para a cobrança, apresentou-se Rogério Ceni, que se deslocou da própria meta para a do rival correndo. Ele, então recém promovido ao posto de principal goleiro são-paulino, não se intimidou com o inusitado do fato e nem os olhares atravessados.
O jogo, realizado no Estádio Hermínio Ometto e válido pela segunda rodada do Campeonato Paulista, estava 0 a 0 e perto de ter a primeira etapa encerrada. Com 45 minutos de bola em jogo, Rogério Ceni tinha, aos pés, a chance de pôr o Tricolor à frente do placar. Mas não era somente isso que estava em questão àquela altura.
Rogério Ceni foi escolhido por Muricy Ramalho como o cobrador de faltas oficial do time logo no primeiro dia de titular absoluto no gol do Tricolor – um jogo amistoso contra o Colo-Colo, no Chile, em 3 de dezembro de 1996 (ocasião em que o treinador espantou a todos com essa postura, mas que, curiosamente, não teve nenhuma falta perto da área para que o goleiro pudesse cobrar).
Apesar de treinar exaustivamente essa jogada desde 1995 e tendo executado até então mais de 15 mil tentativas no CT da Barra Funda, Rogério talvez não permanecesse nessa posição caso errasse aquela cobrança. Adriano, o camisa 10 do Tricolor que sofrera justamente a falta onde esta história começou, era forte candidato a assumir o posto.
Isso, pois, o goleiro já havia batido quatro faltas em jogos oficiais naquele início de temporada de 1997, não sendo bem-sucedido em nenhuma delas. A primeira vez que o camisa 1 do São Paulo tentou marcar um gol de falta foi no dia 23 de janeiro de 1997, no Morumbi, contra o Fluminense.
O goleiro do time carioca, Léo, defendeu o chute, meio sem saber como – E como aqui agora se vê, também entrou para a história por ser o primeiro jogador a impedir um gol do M1TO Rogério Ceni.
A segunda ocasião se deu no mesmo Torneio Rio-São Paulo e contra outra equipe carioca, o Flamengo. No dia 28 de janeiro, no Maracanã, Rogério Ceni preparou-se para a cobrança, arrumou a pelota e… Adriano bateu rapidamente, enganando os marcadores rivais. O árbitro mandou o lance voltar, pois ele ainda não havia autorizado. Com o apito do juiz, Ceni cobrou a falta com maestria!
Mas foi um pecado aquela bola, que bateu no travessão, não ter entrado!
Novamente contra o Flamengo, agora no jogo de volta da semifinal do Rio-São Paulo (1º de fevereiro, no Cícero Pompeu de Toledo), Rogério teve a terceira chance de marcar um gol. Detalhe: o árbitro marcou falta, mas o lance na realidade foi de recuo para o goleiro rubro-negro e deveria ter sido anotada a execução em dois lances, dentro da área. Um erro absurdo. E pelo regulamento da competição, essa cobrança não teve barreira adversária pelo fato do Flamengo ter ultrapassado o limite de 15 infrações.
Rogério tentou mais uma vez, mas a bola, teimosa, saiu pela linha de fundo, à esquerda de Zé Carlos. Foi a terceira cobrança de falta sem barreira para o Tricolor na partida. Antes, Adriano havia marcado um gol e perdido uma chance – o que acarretou outro marco importante: foi a primeira vez que torcedores no Morumbi inteiro gritaram o nome “Rogério” para que o jogador se destacasse para a jogada.
A quarta oportunidade poucos torcedores tiveram chance de ver ao vivo (12.249 pessoas), visto que a partida contra a Portuguesa Santista, no dia 9 de fevereiro, no Ulrico Mursa e pelo Campeonato Paulista, não foi televisionada: a imagem é de produção interna do clube.
A cobrança, por sinal, não foi das melhores. No áudio original é possível, inclusive, ouvir o “gol, gol, gol” vindo da arquibancada antes da batida e também os primeiros apupos e “elogios” depois da bola para fora. Rogério Ceni já tentara quatro vezes, sem sucesso, enquanto Adriano, “o concorrente”, havia marcado dois gols de falta nesse período (contra Fluminense e Flamengo). Muricy bancava o sonho de Rogério Ceni – afinal, era ele quem mais se dedicava ao assunto – mas a paciência da torcida com o que muitos chamavam de “brincadeira” acabaria?
Era chegado então momento. Era preciso mudar o rumo dos acontecimentos e traçar o desenrolar da história. A quinta tentativa definiu o futuro de Rogério Ceni, do Tricolor e dos tricolores por todo o mundo.
O goleiro ajustou o posicionamento dos companheiros na barreira e partiu para a cobrança…
O grito de gol, que estava entalado na garganta, veio à tona!
A comemoração que se seguiu foi uma mistura de êxtase e incredulidade. Sim! Um goleiro, um goleiro novato, havia acabado de marcar um gol com a camisa são-paulina! E que golaço! O arqueiro oponente Adnan ainda chegou a tocar na bola, mas não teve como impedir o fluxo do destino.
O que é para ser, será.
E como se viu, foi por outras 130 vezes!
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