O torcedor do São Paulo passou 90 minutos com a mesma dificuldade de respirar que os jogadores na altitude de 3.600 metros de La Paz, capital boliviana. O empate por 1 a 1 com o The Strongest classificou a equipe para enfrentar o Toluca, do México, nas oitavas de final, mas seus ingredientes épicos tiraram o fôlego: falha do goleiro, craque no banco, artilheiro expulso e, no fim, zagueiro no gol. Uma classificação histórica.
Denis sofreu com o laser em seu rosto e depois fez os são-paulinos sofrerem ao sair sem convicção para tentar cortar a cobrança de falta de Pablo Escobar. A bola passou por todo mundo, resvalou em sua perna e sobrou para Cristaldo, livre, embaixo do gol, abrir o placar. O goleiro reclamou de desvio em atacante do The Strongest, o que configuraria impedimento do jogador que concluiu para as redes, mas a bola só bateu nele mesmo.
Na única chance de gol que teve durante todo o jogo, Calleri completou de cabeça a cobrança de escanteio de Kelvin. Contou, também, com uma ajudinha do goleiro Vaca, que saiu mal e perdeu o equilíbrio na hora de voltar. Foi o oitavo gol dele em sete partidas na Libertadores: artilheiro da competição e já na história do São Paulo. Antes, só Luis Fabiano havia marcado oito vezes na mesma edição com a camisa do clube, em 2004.
Oi? Sério? Sim. Ganso começou o jogo no banco de reservas, tacada de Edgardo Bauza, que escalou Wesley para conter a criação no meio-campo do The Strongest. A altitude pesou muito na decisão, claro. O técnico sabia que seu time teria menos a bola e queria o camisa 10 em campo quando houvesse mais espaços, no segundo tempo. Dito e feito. Ganso entrou na etapa final e só não arrumou a virada porque sobrou capricho num toque por cobertura e pelo cansaço absoluto da grande maioria dos companheiros.
Faltava pouco mais de um minuto e o jogo estava sob controle, mas Denis insistiu na cera mesmo tendo levado cartão amarelo ainda no primeiro tempo, quando estava 0 a 0. Ao tirar a bola de uma ponta da pequena área e levar à outra para bater o tiro de meta, o goleiro recebeu cartão vermelho do árbitro chileno Roberto Tovar. E o coração do são-paulino, que estava quase no batimento normal, saiu pela boca.
O que é um ponto preto dentro da área? É Maicon! Patón já havia feito as três substituições quando Denis foi expulso, então o zagueiro, que salvava tudo dentro da área, vestiu a camisa do companheiro e assumiu o gol. Em duas saídas pelo alto, agarrou a bola, caiu no chão, ganhou alguns segundos e deu bicões para frente. Momento mais épico da campanha são-paulina.
Fim de jogo! E quem disse que os torcedores, enfim, poderiam respirar? Calleri saiu do banco, onde passou os últimos 20 minutos, depois de ser substituído por Alan Kardec, entrou no campo, abraçou Maicon e, pivô das polêmicas antes do jogo por ter dito que não gostaria de enfrentar seu ex-clube Boca Juniors e causado nos jogadores do The Strongest a impressão de que já contava com a classificação, envolveu-se numa briga generalizada.
Foi expulso depois do apito final e, a não ser que o São Paulo tenha sucesso na tentativa de anular seu cartão, será desfalque pelo menos na ida das oitavas de final, semana que vem, contra o Toluca, no Morumbi. Pelas imagens, é impossível garantir que não tenha havido nada, embora não se veja nenhuma agressão partindo do atacante.