Financiador de Centurión vira diretor de marketing e promete reformulação

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GloboEsporte.com – Marcelo Hazan

Mudança na diretoria de marketing do São Paulo: sai Ruy Barbosa, entra Vinicius Pinotti, empresário responsável por financiar a contratação do argentino Centurión, por aproximadamente R$ 14 milhões.

Antes diretor adjunto e assessor do presidente Carlos Miguel Aidar, Pinotti agora comandará a pasta e segue auxiliando o mandatário. Douglas Schwartzmann continua como vice-presidente de comunicação e marketing. A troca será oficializada na próxima semana, mas já está em prática no dia a dia.

Questionado sobre como encararia possíveis insinuações de que sua ascensão no São Paulo estaria ligada ao fato de ter investido no argentino, Pinotti rechaçou:

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– Estou ganhando importância pela minha biografia positiva e experiência. Apesar de não ter muita idade, comando negócios importante há algum tempo (é acionista da Natura, empresa de cosméticos). O fato de ter investido não tem a ver com a ascensão no clube. O Carlos Miguel (Aidar) me enxergou como gestor. Minha loucura de torcedor de colocar milhões no clube nessa situação não tem nada a ver com isso. O Douglas me apoia e dá confiança. É uma questão profissional – afirmou.

Apresentação de Centurion (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)Vinicius Pinotti, entre Aidar e Centurión: ele é o novo diretor de marketing (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

De acordo com Ruy Barbosa, sua saída do clube foi uma decisão pessoal. Pinotti, porém, afirma que eles tiveram desgaste porque não concordavam em assuntos importantes, como preço dos ingressos, falta de patrocínios e programa de sócio-torcedor.

Pinotti adianta que a promoção “Você mais um”, na qual o são-paulino pode levar um acompanhante grátis em quase todos setores do estádio, será repetida no clássico diante do Corinthians, no dia 22 de abril, pela Taça Libertadores, mesmo sabendo dos possíveis problemas jurídicos envolvidos (entenda abaixo). A ideia será adotada para o jogo desta quarta-feira, contra a Portuguesa, no Morumbi, pelo Paulistão. O desejo do novo diretor de marketing é manter essa promoção para toda a temporada.

O GloboEsporte.com conversou com Pinotti e Barbosa sobre esses e outros assuntos. Abaixo, você vê a opinião do antigo e do novo diretor de marketing do Tricolor.

PREÇO DOS INGRESSOS

Protesto São Paulo (Foto: Marcelo Prado)Torcedores protestam contra preço dos ingressos
(Foto: Marcelo Prado)

O mais imediato dos assuntos. O São Paulo cobra R$ 120 por um ingresso de arquibancada em jogos da Taça Libertadores para torcedores comuns (sócios-torcedores têm desconto). O valor é considerado muito alto e motiva protestos.

O Tricolor fez uma promoção para tentar amenizar as cobranças: o são-paulino que quisesse adquirir antecipadamente seu lugar nos três jogos em casa na primeira fase, contra Danubio, San Lorenzo e Corinthians, pagaria R$ 100.

Foi justamente esse pacote que proibiu o clube de diminuir o preço dos bilhetes, pois se o valor fosse reduzido, o clube poderia ser alvo de processo daqueles que participaram da promoção.

Vinicius Pinotti:

– Vamos abaixar os preços a médio e longo prazo. O que é melhor para o São Paulo: ter uma renda de R$ 1 milhão com 20 mil pessoas no Morumbi ou R$ 1,1 milhão com 50 mil? Essas 50 mil pessoas consomem, dão ganho esportivo, geram outras receitas, movimentam a imprensa e as redes sociais. Se vai ganhar ou perder é outra história. Aqui não é NBA ou Super Bowl para pagar US$ 1,5 mil no ingresso. E vamos fazer a promoção “Você mais um” para o jogo do Corinthians. Estamos apenas checando a viabilidade com bombeiros e policiamento, por conta de superlotação. A ideia é repetir esse conceito da promoção do jogo contra a Portuguesa no clássico. É claro que o preço não será o mesmo, mas o conceito, sim. Juridicamente, vamos estudar o que isso significará para quem comprou os pacotes lá atrás. O objetivo da nova diretoria de marketing é aproximar o torcedor do São Paulo. Não podemos pensar como elite. A nossa massa não é de elite. Quero o Morumbi cheio.

Ruy Barbosa:

– A nossa estratégia tinha um objetivo específico: crescer o sócio-torcedor. Não foi o São Paulo que inventou isso. Palmeiras, Corinthians e Santos também perceberam essa importância. O preço do ingresso top era R$ 120, mas o mesmo lugar custava R$ 60 e R$ 30 (para sócios). Depende do formato que você tem para pagar. O problema grave não foi o preço, mas a pane no sistema de troca dos ingressos. Essa foi a crise. Abaixar o preço de R$ 120 para R$ 80, por exemplo, não acho que mudaria. Os R$ 120 eram o último degrau, porque você comprava os três jogos por R$ 100. A torcida precisa entender que há uma conta a pagar quando se abre o estádio: você sai de R$ 250 mil a R$ 300 mil de despesas. A torcida quer melhor time, técnico, CT e acha que tudo isso não custa? Não tem jeito. Nenhum lugar faz assim. Se o time vai mal, tradicionalmente a torcida do São Paulo não vai. Se o time estivesse bem, lotaria, assim como Palmeiras e Corinthians estão lotando.

PATROCÍNIO

São Paulo Patrocinio (Foto: Divulgação)Tricolor fecha acordo para fornecimento de material esportivo (Foto: Divulgação)

A falta de patrocinadores no uniforme também incomoda. O clube está sem um parceiro master desde o fim da Copa do Mundo de 2014. Nesta temporada, o Tricolor fechou com a Gatorade,que expõe sua marca nas mídias sociais (site oficial, Twitter, Facebook, Instagram e Youtube) por R$ 8 milhões em quatro anos, sendo R$ 2 milhões por temporada.

O São Paulo também oficializou a parceria com a Under Armour por R$ 135 milhões em cinco anos, sendo R$ 27 milhões por temporada e divididos em dinheiro (R$ 15 milhões) e material esportivo (R$ 12 milhões).

Vinicius Pinotti

– Precisamos ter governança, organização, transparência, gestão e objetivos traçados. Um plano de ação. É uma soma de tudo o que gera credibilidade para sentar à mesa com o patrocinador e ele sentir que o São Paulo tem um projeto e sabe aonde quer chegar, para entender que terá retorno associando a sua marca ao clube. Hoje, o São Paulo não tem credibilidade com grandes patrocinadores e empresas. Nesse pouco tempo em que entrei como adjunto e assessor do Aidar, todo tipo de negócio que levo recebe a mesma resposta: “O São Paulo precisa melhorar”. Precisa ter um plano de ação e hoje não tem. Não vai mudar da noite para o dia. Dentro dos meus poderes: ou eu implanto essa gestão de organização, ou eu saio.

Ruy Barbosa

– O patrocínio era um dos objetivos, mas precisa ter uma reformulação no departamento e levar para um grau de profissionalismo necessário. Essa questão é mais estrutural do que de resultado. Depende do mercado, que está recessivo. As empresas estão absolutamente sem horizonte para investir. Estruturalmente tinha um conceito, mas não consegui implementar por vários motivos: pontos de vistas diferentes e questões políticas. Essa foi minha dificuldade maior: não transito bem dentro da política. Às vezes, você é impedido de tomar certas atitudes por política. O Aidar também enfrenta essa dificuldade, porque é uma situação ruim. O São Paulo tem disso: a atitude correta pode gerar massacre político. Hoje, os grandes problemas são políticos. Uma gestão adequada precisa de paz interna. Fico chateado, porque queria fazer mais, mas não foi possível. Não me vejo mais em condição de ajudar.

SÓCIO-TORCEDOR

Outro tópico importante dentro do marketing é o programa de sócio-torcedor. Atualmente, o Tricolor tem 53.538 cadastrados, segundo o site do “Movimento por um Futebol Melhor”. A ideia é fazer uma ampla reformulação para alavancar essa receita. As mudanças estão em andamento, e o clube pretendo lançar em breve o novo programa.

Vinicus Pinotti

– Acho que é um erro levantar o preço do ingresso para estimular o sócio-torcedor. Percentualmente, é pequeno o número de sócios no estádio. Não é assim que vai aumentar. Tenho uma visão diferente da do Ruy: o motivo do sucesso do programa do Palmeiras é o formato e os benefícios dados ao torcedor e quem faz o projeto. Não é o simples desconto do ingresso que alavanca os sócios. Isso é bobagem. Até outro dia eu estava na arquibancada, e meu desejo é fazer o São Paulo ter o melhor programa de sócios do Brasil. Eu ouço a torcida, porque sei que eles pagam a conta. É claro que também sei que não adianta ter uma linda teoria se o time não for bem e a torcida não se unir. O próprio Palmeiras tem excelente programa e a união da torcida. Não é a propaganda do (Alexandre) Mattos (diretor-executivo) que vai mudar o rumo das coisas.

Ruy Barbosa

– Tive uma opinião vencida sobre como tocar o programa. Prevaleceu uma outra opinião, mas a mudança era a mesma. Eu só entendia que o São Paulo deveria ter uma gestão externa do sócio-torcedor, assim como o Palmeiras, que tem uma empresa responsável por isso. Tenho certeza de que o sucesso do Palmeiras está ligado a isso (gestão terceirizada), com profissionais capazes de fazer esse tipo de trabalho. Não é que as pessoas do São Paulo são incapazes, mas a situação do clube e a falta de dinheiro para investimento torna tudo mais lento do que deveria ser. No meu entendimento, você entrega uma parte da receita para essa empresa, mas a conta tem de ser global. Se o gasto vai subir de 10% para 12%, mas os sócios vão de 50 mil para 200 mil, é a conta importante e não se você vai custar mais caro.

Estádio do Morumbi, em São Paulo (Foto: Murilo Borges)Estádio do Morumbi, a casa do São Paulo (Foto: Murilo Borges)