Ex-São Paulo colocou Kaká no banco e fez estágio com Guardiola; hoje, está na Série D

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ESPN.com.br

Vladimir Bianchini

Da esquerda para direita: Oliveira, Kaká, Harisson e Renatinho
Da esquerda para direita: Oliveira, Kaká, Harisson e Renatinho

Um antigo companheiro e discípulo de Pep Guardiola disputa a Série D do Campeonato Brasileiro: trata-se do ex-atacante Oliveira, revelado no São Paulo na mesma geração de Kaká, Julio Baptista, Renatinho e Harisson no começo da década passada. Com apenas 35 anos ele poderia estar dando seus chutes pelos gramados, mas é o treinador da Caldense-MG.

Depois de se aposentar com apenas 31 anos por problemas no púbis, ele foi se preparar para a nova carreira. Fez cursos, estágios no Botafogo e no São Paulo, além de permanecer um tempo com o treinador espanhol que assumirá o Manchester City na próxima temporada.

“Todo fim de ano o Bayern de Munique vai para Doha, no Catar. Queria fazer um estágio com ele, pois jogamos juntos no Al-Ahli e temos muitos amigos em comum. Fui para lá e quando ele me viu no hotel me chamou para conversamos”, contou, ao ESPN.com.br.

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Foram duas semanas, em janeiro de 2015, acompanhando a rotina de trabalho dos bávaros e de muitos papos com Guardiola. “Ele me passou muitas coisa importantes da forma como pensa o jogo. Disse que eu poderia olhar todos os grandes treinadores, mas deveria ter as minhas convicções. Tenho meu conceito de futebol e acredito nele”, garantiu.

Arquivo Pessoal

Estágio com Guardiola durou duas semanas
Estágio com Guardiola durou duas semanas

“O que mais me surpreendeu foi o convívio dele com os jogadores, tem um respeito enorme. Mesmo assim, ele é próximo aos caras, brinca o tempo todo. Ele cobra muito e busca a perfeição o tempo todo. Dá gosto de ver a forma como o Ribery e o Robben treinam com intensidade e volúpia incríveis. Dificilmente no Brasil você consegue fazer isso”, analisou.

Mesmo com as enormes diferenças de estrutura entre um dos maiores clubes europeus para a quarta divisão nacional, o brasileiro acredita que conseguiu tirar importantes lições.

“Ele disse que lá no Bayern era mais fácil porque contratava quem ele queria, mas comigo era mais complicado. Tenho uma parte financeira mais limitada aqui. Foi um salto de qualidade na minha vida e carreira”.

O Brasil é um assunto que não sai da cabeça de Pep Guardiola, que jogou ao lado de craques como Romário, Ronaldo e Rivaldo no Barcelona. Além disso, atuou com Oliveira no Catar, em 2004, quando foi comandado por José Macia “Pepe”, craque do Santos de Pelé.

“Ele respeita demais o futebol brasileiro e acha que os jogadores são muito talentosos. Jamais perderão a qualidade, mesmo em uma fase ruim. Pelo que eu senti nas conversas, era um sonho dele treinar a seleção brasileira”, confessou.

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‘KAKÁ PREVIU QUE FARIA O GOL NA ESTREIA’

Oliveira começou nas categorias de base do Vasco da Gama, mas, como seu pai era preparador de goleiros da equipe profissional do São Paulo nos tempos de bicampeonato mundial (1992 e 1993) com Telê Santana, ele foi chamado para um teste.

Agradou tanto que, mesmo depois de retornar ao clube carioca, foi recontratado pelo Tricolor anos mais tarde. No Morumbi, o atacante era um dos destaques do time que tinha o meia Kaká (então Cacá) na reserva.

“Ele não jogava porque nosso grupo era muito forte e os caras estavam voando, o Harisson fazia muitos gols. O Kaká era um ano mais novo que a gente, mas estava junto com a turma sempre. Quando nos encontramos é muito especial, relembramos muitas histórias. Ganhamos tudo”, recordou.

Campeões da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2000 e vice no ano seguinte, Renatinho, Oliveira e Kaká foram alçados ao time de cima. O centroavante lembra com precisão a estreia do amigo na final do Rio-São Paulo diante do Botafogo.

“Nós estávamos no banco e o time perdendo. O Kaká falou assim: ‘Um de nós três irá entrar no jogo e fazer o gol do título. Quem fizer tem que correr para o banco de reservas’. Daí, ele entrou e fez os dois gols e foi comemorar com a gente (risos)”, recordou.

A “profecia” do então camisa 30 foi o pontapé inicial de uma trajetória que teve seu auge em 2007, quando foi eleito o melhor jogador do mundo. “Ele falou aquilo espontaneamente e aconteceu. A carreira dele foi maravilhosa, quase ficou sem andar depois de um acidente na base e chegou ao topo. Fico feliz por ele”, comemorou.

Gazeta Press

Kaká (à esq) e Oliveira
Kaká (à esq) e Oliveira em 2001

Se o amigo se firmou como um dos principais atletas do São Paulo até 2003, com Oliveira não foi assim. “Eu entrava na maioria das vezes no final das partidas. Só fiz um jogo como titular quando batemos o Vitória por 3 a 0. Poderíamos ter muito mais oportunidades pelo histórico que tivemos na base”, lamentou.

A falta de chances também acontecia pela grande concorrência em sua posição. “Tinha muita qualidade também: Dodô, França e Luís Fabiano. São caras de alto nível técnico. A vida me levou para outro lugar, fui para o ‘mundo árabe’ e fui feliz por tudo que fiz”, disse.

Sem espaço no profissional, ele passou por vários clubes e no ano seguinte viveu uma situação inusitada na mesma competição, em 2002. “Fui emprestado para a Matonense e fui rebaixado no Campeonato Paulista sem os grandes. Quando voltei ao São Paulo, os atacantes estavam machucados e o Oswaldo de Oliveira me chamou para o time. Joguei e fui campeão do Super Paulistão no mesmo ano (risos)”, afirmou.

FÃ DE CHAMPIONSHIP MANAGER

Antes de se aposentar dos gramados, ele ainda passou por Kalmar-SUE, Caxias-RS, Portuguesa, Rio Branco-SP, Qatar SC-CAT e Guarany de Sobral-CE.

“Sempre gostei de tática e jogar o [jogo de computador] Championship Manager com o Kaká e o [goleiro] Márcio. Desde aquela época eu tinha essa ideia de ser técnico e gostava de falar com meus treinadores”.

Divulgação

Thiago Oliveira comanda da Caldense
Thiago Oliveira comanda da Caldense

Agora chamado de Thiago Oliveira, ele já comandou Sinop-MT, Dom Bosco-MT, Taboão da Serra-SP. Neste ano, fez ótima campanha com o modesto Batatais na Série A2 do Campeonato Paulista.

Chegou até as semifinais com jogadores como André Cunha (ex-Palmeiras), Fábio Simplício e Júlio Santos (ambos ex-São Paulo), mas perdeu o acesso para o Mirassol.

“Mesmo com muitos problemas de salários atrasados fizemos um bom time. Quase subimos, eliminamos o Bragantino nos pênaltis que se classificou em segundo. Foi histórico”.

Com o bom trabalho, Oliveira foi treinar a Caldense na Série D do Campeonato Brasileiro. Pelo grupo 13, ele estreou com vitória diante do Espírito Santo por 1 a 0, fora de casa, e agora enfrentará o Boavista-RJ no Ronaldão, em Poços de Caldas-MG, neste sábado, às 16h.