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Alexandre Lozetti
Clube saiu do zero para cair diante do melhor do continente, com erros de arbitragem. Agora, missão é superar perdas, manter projeto e técnico para alcançar novo patamar
O São Paulo deixa a Libertadores moralmente fortalecido. Não se discute em momento algum a superioridade do Atlético Nacional, um time construído há anos, planejado, pensado, com dois técnicos de formação europeia – Juan Carlos Osorio e Reinaldo Rueda – e gosto pelo futebol bem jogado. Ao juntar as partidas do Morumbi e de Medellín, fica evidente na postura e na forma como arquiteta e controla as ações, a superioridade dos colombianos.
Como também é inegável que ambos os duelos estavam empatados quando os árbitros erraram contra o Tricolor: a expulsão de Maicon e o pênalti não marcado em Hudson. Não se pode justificar a eliminação, mas também não se pode ignorar falhas consideráveis.
Até se entregar diante do pênalti ignorado, no último minuto do primeiro tempo, o São Paulo teve atuação bastante digna diante do melhor time do continente. Superior ao desempenho do Morumbi. Além de posicionar seu time mais adiantado, impedindo que o Nacional tivesse tanta liberdade para o primeiro ato de suas jogadas – e sim, muitas delas são como peças teatrais –, a equipe brasileira ocupou os espaços de maneira muito mais consciente.
Na tarefa mais árdua do ano, o São Paulo chegou sem quatro importantes jogadores – Ganso, Maicon, Kelvin e João Schmidt –, com outros, como Mena e Hudson, sem condições físicas ideais, teve dois expulsos, erros de arbitragem e, ainda assim, fez bom papel. Inegável evolução para um time que, há meses, tomava 6×1 e parecia um bando de crianças contra adultos quando enfrentava seus principais adversários.
É justíssimo o orgulho da boa campanha na Libertadores, assim como é obrigatório que o clube, ao contrário do que fez em eliminações recentes, não mude uma vírgula de seu projeto, do bom caminho que passou a traçar depois do caos administrativo do ano passado.
Se havia brechas tão grandes como as listadas acima num jogo importante é porque o plano da Libertadores foi feito sem dinheiro, sem credibilidade, sem patrocínio, sem líderes. O São Paulo não tinha nada em janeiro, quando buscou Maicon e Calleri por seis meses, Kelvin e Mena por um ano, e Lugano para ter uma identidade. É natural que algo construído no “improviso”, mas também na competência de departamentos de negociações e análises, sofresse percalços.
Agora, já num estágio acima, o São Paulo terá desafios árduos já a partir do próximo domingo, no clássico contra o Corinthians. O artilheiro Calleri está de saída, e isso já era esperado. O maestro Ganso está de saída, uma “venda-surpresa”, um negócio que precisa ser feito antes que estrague a relação de respeito e admiração que o atleta conseguiu preservar por quatro anos. O bom Rodrigo Caio será muito assediado, e o dinheiro de sua venda será importante para cobrir buracos abertos pelas irresponsáveis administrações anteriores.
Edgardo Bauza tem contrato só até o fim do ano. Gostem ou não de seu estilo de futebol, pragmático e duro a ponto de não inverter o lado do garoto Luiz Araújo para explorar o fraco setor direito defensivo do Atlético Nacional, o técnico fez do São Paulo um time difícil de enfrentar. Que valoriza cada jogo, briga, reclama, enfrenta, tem gosto pela vitória.
Numa primeira etapa de reconstrução, está mais que suficiente. Para alcançar níveis técnicos maiores, será preciso um aprimoramento. Será de bom tom fazer todo esforço para manter o Patón. O São Paulo precisa se dar a chance de ter um trabalho com início, meio e fim. Um plano, uma ideia, um conceito.
O peruano Cueva deverá ser o substituto de Ganso. Muda o jeito de jogar. Mais fraco? Mais forte? Depende da formação coletiva. Certamente diferente. Sem o brilhantismo do brasileiro, mas com uma dinâmica interessantíssima, moderna, de participação por todo o gramado, o reforço será peça importante nessa nova reinvenção pela qual o time terá que passar. Assim como Alan Kardec, que, neste primeiro momento, voltará a ser titular. Os últimos jogos dão esperança à torcida que ele possa suprir a ausência de Calleri.
Na Libertadores, o São Paulo saiu do zero para eliminar adversários iguais ou até melhores, como River Plate e Atlético-MG, graças ao caráter competidor que faltava e ao brilhantismo de peças individuais que não estarão mais em campo daqui para frente.
O São Paulo não está mais no zero, e, por isso, precisa de maturidade para manter o que já conquistou e subir de patamar. Ainda é pouco para a fome da torcida, mas é digno de aplausos.