Aceitando a realidade e até três zagueiros, Ceni planeja time ofensivo

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GazetaEsportiva.net

Tiago Salazar e Helder Júnior

Rogério Ceni dispensa apresentações, como disse o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva em suas primeiras palavras nesta quinta-feira, ao lado do ex-goleiro, na bancada da sala de imprensa do CT da Barra Funda. Mas, o Rogério Ceni técnico ainda é uma incógnita para todos. Talvez por isso, a nova aposta tricolor tenha feito tanta questão de falar sobre como deve trabalhar no dia a dia, quem são os treinadores que o inspira e até mesmo o esquema que tático que pretende adotar a partir de janeiro do ano que vem, quando inicia a pré-temporada com o elenco.

“Dependo muito das peças que eu tenha disponíveis. Mas não descarto jogar com três defensivos. Já foi um sucesso, já foi obsoleto. Vou me adaptar com as circunstâncias dos atletas, não só o São Paulo. Mas sempre minha intenção é jogar em um sistema ofensivo, em direção ao gol, um sistema de pressão, mas com ajustes para um jogo ou outro. E, claro, com as peças, mas eu me adapto”, explicou Ceni, que evitou citar particularmente o quanto e o que aprendeu com os técnicos que passaram pelo clube durante sua carreira como atleta.

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Rogério Ceni citou muito o técnico Juan Carlos Osorio em sua apresentação no São Paulo (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Rogério Ceni citou muito o técnico Juan Carlos Osorio em sua apresentação no São Paulo (Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

“Garanto a você que aprendi com todos eles. Tive uma discussãozinha com um, com outro. Mas com todos os treinadores, aprendi as coisas que se deve fazer, e as coisas que não se deve fazer, e tento tirar isso como uma mescla, além de todos que conversei ao longo dos anos. Não só os que enfrentei, com certeza todos eles fizeram parte da minha formação como individuo e como treinador”, afirmou, lembrando também das experiências que presenciou na Europa, recentemente.

“Pude ver, pesquisar bastante e acompanhei treinos bem diferentes do que eu fazia. Quem mais se aproximou do que eu vi lá fora foi o Osorio. Acredito na intensidade do treinamento. Na pré-temporada, usaremos dois campos na maioria dos trabalhos, a não ser quando for tático. Os trabalhos terão 60 a 70 minutos por período quando tivermos dois períodos. E 90 minutos quando for um período só”, completou.

Apesar de sempre trabalhar focado em títulos e conquistas, sejam elas coletivas ou individuais, Rogério Ceni evitou vislumbrar uma taça nessa nova função e preferiu adotar um discurso mais cauteloso nesse seu retorno, mesmo diante de um contrato que prevê bônus no seu salário pelas metas atingidas.

“Eu penso na minha primeira vitória, que é meu primeiro jogo. Após isso, conseguir títulos. Méritos para ter títulos. Eu faço planejamento de vitórias. O Atlético-MG entrou como favorito, ontem o Grêmio segurou o empate, foi campeão. Um detalhe ou outro”, exemplificou, tirando até um pouco da sua carga de responsabilidade.

“Eu não tenho como avaliar o percentual de um treinador porque ainda não exerci essa função. Eu me considero apenas uma parte de um todo de um clube, incluindo atletas, comissão técnica. Não tenho como avaliar um percentual exato da importância de um treinador. Acredito que o importante no ambiente de trabalho é que você se sinta à vontade naquilo que você exerça”, comentou.

Uma coisa é certa. Se Rogério Ceni já era um obstinado como atleta, dá para imaginar com o será comandando literalmente um elenco, papel esse que já exercia de certa forma, mas ainda com ponderações enquanto goleiro. E, nesta quinta, Ceni admitiu que não abre mão de que seus jogadores passem a encarar a profissão como ele encarava.

“Sempre fui muito exigente comigo mesmo, antes de ser exigente com qualquer companheiro. Eu penso que o coração, a alma, é algo que já está inserido no profissional de futebol. Não precisa que eu faça isso. E vejo que existe na grande maioria aqui. Talvez precise um pouco de ajuste, que ainda foge do meu conhecimento. Mas não tenha dúvidas de que eu gostaria que eles vivessem o futebol como eu vivi. Até porque acredito que uma das razões de eu estar aqui é como foi meu perfil como atleta”, avisou.

Por fim, Rogério Ceni mandou seu recado ao grupo são-paulino com quem deve começar a trabalhar em janeiro e também para aqueles que estão em vias de chegar ao Tricolor do Morumbi. O maior ídolo da história do São Paulo lembrou até de uma divergência com um ex-treinador seu para tentar antecipar como deve ser sua conduta na nova função.

“A lealdade, a sinceridade, a objetividade, o falar olho no olho. Como sempre gostei que fosse assim comigo. Lamentavelmente tenho que dar esse exemplo, do Mário Sérgio, que veio a falecer. Em 1998, ele me chamou numa sala, disse que não gostaria que eu batesse falta, ele queria que eu fosse o goleiro, organizasse a defesa. Eu não bati nenhuma falta, mas ele foi sincero. Nem sempre você vai conseguir agradar a todos os atletas. Mas acredito no senso de justiça da meritocracia, como me trouxe até aqui. E conto com isso para formar um grupo forte e saiba lidar como homens, olhando diretamente para cada atleta, tratando de forma verdadeira”, concluiu.