GloboEsporte.com
Marcelo Hazan e Marcelo Prado
Com a mesma camisa 15 que vestiu quando foi o melhor do Brasileirão, meia mantém excentricidade de sempre, fala em recomeço e diz que mudou de ideia para retornar ao Tricolor “de coração”.
– A nossa vida é uma sucessiva sucessão de sucessões que se sucedem sucessivamente.
Ao menos fora de campo, Hernanes continua o mesmo. Em sua primeira entrevista coletiva na volta ao São Paulo, mandou logo esse excêntrico trava-línguas para mostrar que segue pouco afeito aos clichês, e explicar a opção por defender novamente o clube que o revelou, em 2005. Entre razões profissionais e pessoais, destacou-se a justificativa mais simples:
– Foi de coração.
E no que realmente importa ao torcedor tricolor, sair da incômoda zona de rebaixamento, a profecia de Hernanes foi bastante otimista. Trajado com a camisa 15, a mesma que usou quando foi campeão e eleito o melhor jogador do Brasileirão-2008, ele assegurou que a equipe deixará a 18ª colocação e ressaltou os sinais percebidos no empate de segunda-feira, 1 a 1 com o Grêmio.
– Vamos nos salvar. Não sei em que rodada, mas vamos. Temos muito tempo e qualidade no elenco, estamos trabalhando para que isso aconteça. A reação de espírito e coração de ontem, com o torcedor junto, é algo que está se materializando.
O resto da entrevista teve explicações sobre seu posicionamento preferido, citação bíblica e até certa dificuldade em encontrar algumas palavras no seu vasto vocabulário:
– Tenho que atualizar o software – brincou.
Veja abaixo os principais trechos da apresentação do meia, emprestado por um ano pelo Hebei Fortune, da China:
POSIÇÃO NO TIME
– Quando eu comecei aqui, jogávamos no 3-5-2, com dois volantes bem fixos. Ao longo dos anos, fui avançando um pouco mais e a quantidade de gols cresceu porque eu jogava mais próximo do gol. Após sair daqui para a Lazio, joguei quase como um atacante. E percebi que jogando um pouco mais à frente eu poderia contribuir mais, com jogadas ofensivas e gols. Eu ainda não conversei com o Dorival, vamos conversar e encontrar a melhor solução.
RECOMEÇO
– A vida é feita de ciclos. Sete anos é um ciclo interessante. A Bíblia dizia que se você comprar um escravo, ele trabalha por sete anos e depois você dá liberdade a ele. Quero recomeçar e quero me surpreender em termos de performance de atuação. Acredito muito nisso. Quero provar para mim mesmo e me sinto muito bem, física e psicologicamente. Quero recomeçar e atingir novos objetivos. Eu me dou o direito de tê-los secretamente. Prefiro sonhar e planejar.
ESTREIA
– Acredito que eu esteja pronto. Faz um ano e meio que não falto a um treinamento, sem problemas físicos ou de saúde, todos os dias presente em campo. Ritmo de jogo talvez falte um pouco, mas quem vai dizer será o tapete verde. Às vezes pensamos uma coisa, e ele diz outra. Quando eu entrar em campo, com o Dorival vendo minha situação, isso vai se decidir.
MUDANÇAS NO JOGO
– Taticamente, sinto que cresci bastante porque na Itália se dá muita importância a isso. É muito teórico e você é inserido nesse futebol, automaticamente aprende noções e posicionamentos de marcação. Além de ser um futebol mais pegado. Minha pegada aumentou. São duas coisas que eu cresci: taticamente e no contato físico. Foram mudanças positivas.
RESPONSABILIDADE
– No futebol, temos um time que joga em conjunto. Num jogo, um jogador pode fazer a diferença, noutro jogo, outro jogador. É difícil que um jogador consiga fazer diferença em todos os jogos. Para ganhar ou ter um campeonato regular, é preciso um time equilibrado, um suporte para que os jogadores que têm condições possam fazer a diferença. Estou disposto e assumo a responsabilidade de vestir e honrar essa camisa, ajudar e dar o que eu posso ao time. Mas sempre será o conjunto.
JUVENTUS E CHINA
– Na Juventus, eu não estava mais contente, numa posição muito recuada. Foi legal por realizar o objetivo de jogar a Liga dos Campeões, mas depois não fui aproveitado, e na posição em que eu não estava feliz. Apareceu a China, fui pensando em voltar a jogar e me divertir na posição em que, de fato, eu queria. Mas as coisas se restringiram bastante a estrangeiros, mudaram as regras, e o treinador pediu para eu jogar mais recuado. Falei que naquela posição, para mim, não fazia sentido. E fechei minhas portas porque já havia poucas posições, eu ainda falei que naquela eu não queria. Eu não dei chances ao treinador também.
LUCAS FERNANDES
– O São Paulo sempre teve esse histórico de revelar jogadores, esse trabalho continua bem desenvolvido e fico feliz de, talvez, estar sendo um exemplo, uma inspiração. Fiquei feliz pelo gol do Lucas, ajudou bastante e não deixou apagar a chama do torcedor. Parabéns ao Lucas, ao São Paulo e ao pessoal da base também.