Clássico do abandono: Ricardo Rocha se recusou a sair e até hoje é elogiado por rival do São Paulo

1192

GloboEsporte.com

Marcelo Hazan

Em um histórico Newell’s x Rosario, ele se negou a simular lesão e é reconhecido por adversário tricolor

e toda a delegação do São Paulo não há quem se sinta mais em casa em Rosario, na Argentina, do que Ricardo Rocha.

Hoje coordenador de futebol tricolor, o ex-jogador atuou entre 1996 e 1997 pelo Newell’s Old Boys, arquirrival do Rosario Central, adversário do Tricolor nesta quinta-feira, às 21h30, no estádio Gigante Arroyito, pela Copa Sul-Americana. Mas a realidade é completamente diferente.

Publicidade

Ricardo Rocha é bem visto tanto no Newell’s, clube que abriu as portas do CT para o São Paulo de Diego Aguirre treinar na última quarta-feira, quanto no Rosario Central.

Tudo porque tomou uma atitude reconhecida até hoje por dirigentes do Central em um histórico derby de novembro de 1997 entre os arquirrivais.

Após quatro expulsões e uma suposta lesão de José Herrera, o clássico teve de ser terminado aos 19 minutos do segundo tempo por falta de jogadores, com vitória do Rosario por 4 a 0 sobre o Newell’s, no Gigante Arroyito, palco do duelo com o Tricolor.

O jogo é chamado até hoje de “Dia do Abandono” pelo Rosario (veja mais abaixo). Mas Ricardo Rocha se recusou a simular uma lesão para melar a partida.

Diego Aguirre e Ricardo Rocha no CT do Newell's Old Boys, durante treino do São Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

Diego Aguirre e Ricardo Rocha no CT do Newell’s Old Boys, durante treino do São Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

– Ganhamos em casa e fomos jogar em Rosário. Foram vários expulsos do nosso time. Houve uma pancadaria. Foi um jogo violento. Terminamos com seis jogadores. Teve uma atitude naquele jogo que muita gente queria que o time saísse e eu não deixei. Falei: “Vamos perder de pé”, porque não tivemos culpa das expulsões. O árbitro errou. Na época, os caras do Central acharam muito legal. Falei: “Não vai sair. O erro não é nosso. Depois vocês vão ver que foi da arbitragem” – disse Ricardo Rocha, em entrevista exclusiva.

– Falei para o presidente Eduardo Lopes que é meu amigo. Muitos falavam: “Ah, o presidente pediu para que o time não continuasse para não ser goelado”. Perdemos de 4 a 0 para o Rosario, mas a gente com quatro a menos estava no limite. Se um caísse acabava o jogo. Seria uma falta de respeito de todos nós. Falei: “Depois vocês olhem o jogo e vejam os erros da arbitragem. Agora, eu não concordo com cair dentro de campo e simular contusão. Independentemente de ser clássico ou não. Na época ficou marcado por uma decisão minha e de outros jogadores. Falaram para eu cair, mas me recusei – completou Ricardo.

View image on Twitter

O prestígio de Ricardo Rocha com o adversário do Tricolor na Sul-Americana foi comprovado na última quarta-feira à noite, quando dirigentes de São Paulo e Rosario Central jantaram juntos.

Na ocasião, o presidente do Rosario, Raúl Broglia, disse que a atitude de Ricardo foi histórica, que nunca havia visto alguém ir contra uma ordem e elogiou muito a postura do dirigente do São Paulo.

Justamente por conhecer tanto o Rosario Central e o Gigante Arroyito, Ricardo Rocha tem conversado com os atletas do São Paulo para orientá-los.

– Tem de ter concentração, equilíbrio mental e paciência. Às vezes tem um momento de pressão no início, mas se acalma. O importante é não tomar gol nesse momento e ser equilibrado em campo, seguir a parte tática do treinador. O Aguirre é inteligente e estuda muito. Essa pressão no início existe, mas temos atletas experientes. Alertei também sobre a bola parada. Eles têm jogadores altos, mas nós também.

– O time deles está pressionado e não ganha mais o campeonato argentino (está em 14º). Eles têm uma competição internacional e vão dar o máximo, dar a vida pra ficar. Mas também não ganhamos nada. Então não são só eles que vão dar a vida. Nós também. Os dois lados. Tem de respeitar o Rosario, mas saber que podemos obter um bom resultado.

O provável Tricolor para o jogo no 3-5-2 é o seguinte: Sidão; Éder Militão, Rodrigo Caio e Arboleda; Régis, Jucilei, Liziero, Petros e Reinaldo; Nenê e Tréllez.

Ricardo Rocha em ação pelo Newell's Old Boys e Maradona, pelo Boca Juniors (Foto: Arquivo pessoal)

Ricardo Rocha em ação pelo Newell’s Old Boys e Maradona, pelo Boca Juniors (Foto: Arquivo pessoal)