GloboEsporte.com
Alexandre Lozetti
Desafiados pelo GloboEsporte.com, 18 treinadores que comandaram o goleiro no São Paulo escolhem palavras para falaram sobre ele: de Muricy e Autuori a Ney Franco…
Titular do São Paulo de 1997 a 2015, Rogério Ceni foi comandado por 18 técnicos. Com personalidade forte, desenvoltura para comentar de esquemas táticos a alternativas de jogo e fama de participar de decisões, o goleiro-artilheiro teve, com a maioria dos “professores”, uma relação harmoniosa.
O GloboEsporte.com conversou com os treinadores de Ceni e fez um desafio: “Defina Rogério em uma palavra, e explique o por quê”.
As respostas revelaram uma enxurrada de elogios: vencedor, diferenciado, honesto, excepcional… Até mesmo técnicos que nem se deram tão bem assim com o goleiro o enalteceram. Ney Franco, Cuca e Emerson Leão saíram do Morumbi com atritos – maiores ou menores – com o ídolo. Com Ney foi pior.
Em 2012, eles discutiram publicamente durante um jogo da Copa Sul-Americana, quando Ceni sugeriu a entrada de Cícero, e o treinador optou por Willian José. Ney criticou a intromissão e a relação se deteriorou. Após ser demitido, o comandante disse em entrevista ao jornal “O Globo” que seu capitão não o ajudou, tinha muito poder no clube e minou a evolução de Ganso.
Em resposta, Ceni afirmou que, se tivesse tanta influência, Ney estaria há mais tempo na rua. Depois, ambos amenizaram o tom.
Vários técnicos se tornaram amigos e fãs declarados. São os casos de Paulo Autuori e Muricy Ramalho, os maiores vencedores da era Ceni, e de outros menos exitosos, como Nelsinho Batista, Paulo César Carpegiani, Levir Culpi e Oswaldo de Oliveira.
Até Mário Sérgio, que o proibiu de bater faltas, e Adilson Batista, que passou apenas três meses sob fortes críticas, deixaram o clube presenteados pelo goleiro.
Quando lesionou o ombro, no início de 2011, Rogério Ceni amadureceu a ideia de ser técnico. Chegou a viajar para a Espanha e acompanhar treinos de Barcelona e Real Madrid ao lado de Pep Guardiola e Jose Mourinho. Caso escolha o caminho do banco de reservas, não lhe faltarão conselhos. Entre eles, Milton Cruz, amigo há tantos anos, interino por tantas vezes e técnico do São Paulo no fim desta temporada – embora o último jogo oficial do agora ex-goleiro, uma derrota para o Santos por 3 a 1 na Vila Belmiro, tenha sido disputada sob o comando de Doriva.
Veja abaixo como os técnicos definiram Rogério Ceni:
MURICY RAMALHO
EXEMPLO
“Cada um escolhe o que quer para a vida, ele escolheu ser diferente. Treina mais, se cobra como ninguém, sofre com o fracasso. Sempre foi assim. Quando um cara chegava, via o maior ídolo do clube treinar muito, queria se sentar ao lado dele no almoço. É um exemplo”
Muricy e Ceni: era técnico quando o goleiro virou titular, entre fim de 1996 e início de 97, depois ficou entre janeiro de 2006 e junho de 2009, e setembro de 2013 e abril de 2015. Juntos, foram tricampeões brasileiros (2006, 07 e 08). Em 1994, com o Expressinho, haviam conquistado a Conmebol. Um dos personagens mais relevantes na carreira de Ceni.
DARÍO PEREYRA
PROFISSIONAL
“Ele é excelente profissional, em todos os sentidos. Não é fácil ser titular de um clube grande por 17 anos. Ele levou a profissão dele muito a sério, não vacilou em momento algum, e teve muita competência”
Darío e Ceni: juntos, estiveram perto de conquistar títulos, mas ficaram no quase. Foram vice-campeões tanto do Campeonato Paulista quanto da Supercopa de 1997. O uruguaio deixou o cargo no início de 98.
NELSINHO BATISTA
INTELIGENTE
“Ele se preparou para vencer. Sempre se preocupou com o time, passou boas influências aos atletas, mas acima de tudo se preocupou com sua forma, sua qualidade. Foi um grande profissional que planejou e cumpriu metas na carreira”
Nelsinho e Ceni: trabalharam em 1998, com um título paulista, e entre 2001 e 2002, quando a equipe não levantou taças, mas a relação se estreitou, já que Nelsinho ficou ao lado de Ceni no período em que ele foi afastado presidente da época, Paulo Amaral.
MÁRIO SÉRGIO
HONESTO
“Ele buscou sempre o melhor para ele, e principalmente para o São Paulo. Na atual conjuntura, quando se é muito honesto, desperta criticas, inveja, sentimentos negativos. Ele aprendeu a administrar isso muito bem durante 25 anos”
Mário Sérgio e Ceni: foram menos de três meses, no fim de 1998, e o técnico foi o único a proibir Rogério de bater faltas. Ruídos? Nenhum. O goleiro o presenteou com uma camisa autografada em sua saída, e, até hoje, ambos mantêm excelente relação.
PAULO CÉSAR CARPEGIANI
CARÁTER
“O Rogério Ceni é um dos maiores ídolos da história do futebol brasileiro, e o maior do São Paulo. Um cara formidável, ganhador, extremamente competente e muito responsável. É uma perda para o futebol porque não há mais ídolos como ele”
Carpegiani e Ceni: mais um que teve duas oportunidades de treinar Rogério, mas não ganhou títulos nem em 1999 nem quando voltou, entre o fim de 2010 e o início de 2011. Resultados à parte, também criaram um ótimo relacionamento.
LEVIR CULPI
PERSONALIDADE
“Ele tem os princípios básicos de honestidade e disciplina que aprendeu com a família, e não tem medo de tomar decisões”
Levir e Ceni: com direito a gol do goleiro na final, conquistaram o Paulistão de 2000. A sintonia foi tamanha que, num duelo da Copa do Brasil contra o Sinop, clube da cidade onde a família de Rogério ainda mora, ele levou o técnico para jantar com os parentes.
OSWALDO ALVAREZ
COMPLETO
“Teve competência inquestionável como goleiro. Além de bom com as mãos, foi goleador. Um exemplo de profissional: comprometido, solidário, vencedor e, acima de tudo, com ótimo caráter”
Vadão e Ceni: sem o titular em campo na final, já que estava na Seleção, o treinador ganhou o único Rio-São Paulo da história do clube, em 2001. Mas durou pouco. Meses depois, o trabalho foi interrompido. Ficou a admiração mútua.
OSWALDO DE OLIVEIRA
DIFERENCIADO
“Rogério Ceni é um exemplo para todos no mundo do futebol. Um dos goleiros mais diferenciados do futebol brasileiro. Fez história com a camisa do São Paulo não apenas por sua liderança, mas pelos títulos e grandes defesas nos momentos mais importantes”
Oswaldo e Ceni: o boa-praça carioca comandou o São Paulo entre 2002 e 2003, e foi outro a se tornar amigo de Rogério. Falavam sobre futebol, música, vida… Só não ganharam o Brasileirão de 2002, mesmo depois de um domínio absoluto na primeira fase.
CUCA
ÍDOLO
“É impossível pensar no São Paulo sem se lembrar do Rogério Ceni e de tudo que ele representa na história do clube”
Cuca e Ceni: em 2004, um desentendimento do goleiro com um membro de sua comissão técnica azedou a relação. A dificuldade do técnico de se relacionar com o grupo na época, apontada por vários jogadores, também. Anos depois, numa entrevista no Atlético-MG, ele daria razão a Rogério.
EMERSON LEÃO
AMBICIOSO
“A ambição tem de fazer parte de um bom profissional. O Rogério foi um atleta de uma só paixão. Fissurado pelos números, por caminhar mais, jogar mais, vencer mais, faturar mais, fazer mais gols. Isso marcou a origem do seu sucesso”
Leão e Ceni: em 2005, eles foram campeões paulistas. Entre 2011 e 2012, os resultados foram piores. As personalidades se chocaram em diversos momentos. O ápice dos atritos foi uma lesão no ombro de Rogério, em 2012. Leão debochou, o goleiro culpou o excesso de treinos durante a pré-temporada.
PAULO AUTUORI
VENCEDOR
“Muito mais do que no futebol, ele é um vencedor na vida. Além de quebrar recordes, é fortíssimo mentalmente. Ele não precisa ser obsessivo por isso, as coisas acontecem naturalmente. Não existe, no Brasil, alguém ligado por tanto tempo a um clube. Ele conseguiu com muita disciplina”
Autuori e Ceni: é o técnico com quem Rogério mais gostou de trabalhar em toda a carreira. Deram-se maravilhosamente bem tanto em 2005, nos títulos da Libertadores e do Mundial, quanto em 2013, nos poucos e caóticos meses em que o técnico esteve de volta.
RICARDO GOMES
RESPONSÁVEL
“Ele tem várias marcas impressionantes. São 131 gols como goleiro, 25 anos no São Paulo, 22 como profissional. Isso é um cara, no mínimo, muito responsável. Além de todas as suas qualidades, o que ele fez é e sempre será brilhante”
Ricardo e Ceni: dividiram derrotas dolorosas, como as do Brasileirão-2009, na penúltima rodada, e da Libertadores-2010, na semifinal, mas conviveram em total harmonia durante um ano inteiro.
SÉRGIO BARESI
PREDESTINADO
“O Rogério é mais do que um modelo de atleta. Ele é a personificação da posição de goleiro, e de líder no São Paulo e no futebol mundial”
Baresi e Ceni: ganharam juntos a Copa São Paulo de Juniores, em 1993, e quando o São Paulo resolveu priorizar a base, lançou o técnico de Cotia ao time profissional, em 2010. Parceria durou pouco.
ADILSON BATISTA
EXCEPCIONAL
“Mesmo com todos os títulos e respeitado no clube, eu via brilho nos seus olhos. Cheguei a ver lágrimas, pois queria vencer sempre, e cobrava de todos os atletas que se entregassem no jogo. Era muito profissional”
Adilson e Ceni: resultados frustrantes e pouquíssimo tempo em 2011, mas suficiente para criar admiração recíproca. O goleiro, favorável à metodologia de treinos do técnico, deu a ele duas camisas com longos autógrafos em sua saída.
NEY FRANCO
EFICIENTE
“O Rogério é um goleiro que construiu uma carreira muito sólida no São Paulo ao longo de todos esses anos, e que teve sua eficiência mais do que comprovada”
Ney e Ceni: a mais espinhosa das relações. Um entrevero na Sul-Americana desencadeou uma série de ações e reações hostis, de ambos os lados. Ainda assim, o título do torneio sul-americano foi conquistado em 2012, o último da carreira de Rogério.
JUAN CARLOS OSORIO
GRANDE
“A característica mais impressionante do Rogério é seu amor pelo jogo de futebol. Ele treina como se fosse um amador e vive como um grande profissional”
Osorio e Ceni: o colombiano foi contratado no primeiro semestre de 2015, mas saiu pouco depois por uma proposta do México e desentendimentos traumáticos com o ex-presidente Carlos Miguel Aidar. O goleiro se cansou de rasgar elogios públicos aos treinos do Profe.
DORIVA
DEDICAÇÃO
“Ele é muito dedicado no que faz. O Rogério se transformou num personagem do São Paulo, construiu uma história maravilhosa no clube”
Doriva e Ceni: foram apenas sete jogos com o técnico que chegou pelas mãos do presidente Aidar que, logo em seguida, renunciou.
MILTON CRUZ
MITO
“O Rogério é um mito porque atende a todos os requisitos que se esperam de um atleta, no que diz respeito à capacidade, comprometimento, orgulho. Ele é completo, inigualável, não existe outro Rogério Ceni”
Milton e Ceni: amicíssimos, estão juntos no São Paulo há 21 anos. O auxiliar foi interino por diversas vezes, inclusive neste fim de 2015. Houve momentos marcantes, como a Libertadores deste ano. Ambos costumam ter opiniões parecidas.
Ainda essa múmia?
Pqp, essa praga já aposentou, bola pra fente