Bola de tênis e 12 gols: Diniz e Carille saíram da mesma quadra de futsal

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UOL

Arthur Sandes e Gabriel Carneiro

Em uma rua pacata da Zona Leste da cidade de São Paulo, às margens de um colégio e escondido por um muro colorido, está o berço de Fábio Carille e Fernando Diniz no futebol. Hoje treinadores, os dois frequentaram juntos uma quadra de futsal na Vila Ema durante os anos 80, e o UOL Esporte foi até lá ouvir as histórias sobre a infância da dupla.

Diniz e Carille se enfrentam amanhã, no Morumbi, no São Paulo x Corinthians válido pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro. Ambos já falaram publicamente sobre a longa amizade, mas alguns pontos curiosos merecem destaque: um drible nas regras da escola para jogar bola na aula de educação física; a fixação na bolinha de tênis para afiar a habilidade; e 12 gols marcados no mesmo jogo – seis para cada lado, para equilibrar.

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“O time tinha eu no gol, o Fernando na ala e o Fábio meio de pivô, finalizando”, conta Eduardo Alves, o Edu, ex-goleiro de futsal e amigo de ambos na infância. “O Fábio tinha um chute muito forte, levava vantagem sobre os goleiros porque tinha um chute descomunal; pegava de longe e acertava de onde fosse. E o Fernando era muito habilidoso, escondia a bola, para tomar dele era difícil”, recorda.

Eduardo se refere ao time da Escola Estadual Stefan Zweig, que na década de 1980 reuniu os dois então aspirantes a jogador. Só pelos nomes dá para imaginar que o time dava trabalho. Inclusive na sala de aula. “Nós estávamos na quarta série, e ainda não tínhamos aulas de educação física por causa da idade. E a professora, a tia Célia, liberava a gente para fazer educação física. O pessoal ficava com inveja, porque só a gente saía. O professor ia buscar na sala, para juntar na quinta série e poder usar a gente no time”, lembra Eduardo.

Apesar do protagonismo na escola, a dupla chamava atenção mesmo era na quadra do Círculo dos Trabalhadores Cristãos do bairro – o CTC da Vila Ema. O clube faz um trabalho comunitário e atrai uma porção de garotos que alimentam o sonho de despontar no futebol – de salão ou de campo. Fernando Diniz e Fábio Carille eram dois deles.

Fundado em 1958, CTC da Vila Ema tem times de futebol de salão do sub-5 ao sub-18  - Arthur Sandes/UOL

Diniz já treinava no Juventus-SP quando passou a frequentar o CTC. Tinha a parte do campo e, paralelamente, ia até a quadra na Vila Ema para fazer a parte complementar, principalmente de fundamentos. “Às vezes ele treinava”, relembra Toninho, um dos técnicos do CTC na época e que até hoje exerce a função. “O Diniz ficava conversando, dali a pouco pegava uma bolinha de tênis e ficava fazendo embaixadinhas. Várias seguidas. Pode perguntar para ele, que ele confirma. Pegava a bolinha e ficava. Era muito habilidoso, e detalhista.”

Carille, por outro lado, se destacava pela opulência. “Teve um jogo aqui que o Fábio fez 12 gols”, conta Cidão, outro treinador que acompanhou de perto o despontar da dupla. “Ele estava jogando para um time, e virou o intervalo em 6 a 0, com seis gols dele. Aí mudaram ele de time; pois ele fez mais seis gols e acabou empatado.”

Todos que viram juram que Diniz e Carille já tinham um quê de liderança, de visão macro sobre o jogo, característica essencial para qualquer técnico. “Os dois já mostravam interesse, falavam bastante, davam instruções para os outros jogadores. Nenhum dos dois era de ficar calado: eles ouviam muito o treinador mas também davam as opiniões deles”, explica Eduardo. “Hoje o Fernando pede para os caras fazerem o que ele fazia naquela época: jogo com qualidade de passe, habilidade”, diz Toninho. “E o Carille trabalhou muitos anos com o Tite, então aprendeu com o Tite também”, completa Cidão.

Turma do CTC da Vila Ema acompanhou o começo da carreira de Fernando Diniz e Fábio Carille - Arthur Sandes/UOL

A parceria entre Diniz e Carille nas quadras logo seria desfeita, pois Fábio deixaria São Paulo aos 12 anos para morar em Sertãozinho, no interior paulista – onde aliás começaria sua carreira de futebol. Fernando ficou na capital, cresceu no Juventus-SP, depois Guarani, Palmeiras e daí em diante. Carille assumiu função na beira do campo em 2007, ainda como auxiliar do Grêmio Barueri, dois anos antes de Diniz começar como treinador no Votoraty-SP.

Desde então os dois só se enfrentaram uma vez (Audax 0 x 1 Corinthians, no Paulistão 2017). Quando estava tudo armado para um reencontro decisivo, Diniz foi demitido do Fluminense na semana em que enfrentaria o Corinthians pela Copa Sul-Americana, em agosto. Amanhã, porém, o reencontro no Morumbi está garantido. E o bolão do CTC está pegando fogo. “Como o Fernando Diniz está começando agora, ainda está conhecendo as peças que ele tem na mão, dá Carille”, opina Cidão, ao que Toninho rebate. “Pela qualidade, se os caras em campo apresentarem o que os treinadores pensam, o Fernando Diniz ganha.”

Mas o ideal mesmo para a turma da Vila Ema seria uma combinação no estilo Parreira-Zagallo. “Tinha que colocar os dois juntos na seleção brasileira. Na hora de atacar é o Fernando Diniz, para defender é o Carille. Na seleção ganhariam tudo, aí o resto só precisava disputar o vice.”