Quando Deivid entrou sozinho para superar o Weverton no gol que sacramentou a classificação para a semifinal da Copa do Brasil, no Allianz Parque, tinha recebido a bola de Juan. O chute de fora da área do Luciano na Neo Química Arena, que bateu na trave, nas costas do Cássio e depois entrou, foi após uma assistência do Juan. No Maracanã, no primeiro jogo da final, Juan ajudou um cansado Rafinha a marcar o Bruno Henrique, se sacrificando pelo grupo.
Juan sofreu o pênalti contra o Ituano que impediu a eliminação do São Paulo na primeira fase do Paulista. O atacante entra para ajudar a marcação, cria espaços e é elogiado por todos os treinadores do passado recente do São Paulo, de Rogério Ceni a Zubeldía. Peca ainda na finalização, mas seus gols perdidos são sempre amplificados – Luciano e Calleri também perderam gols ridículos nos últimos meses.
A torcida do São Paulo adora pegar jogadores da base para bode expiatório. O da vez é o Juan, atacante de 22 anos, mas já foi Gabriel Sara, o “Astronauta”, eleito o melhor jogador da temporada da segunda divisão inglesa, já foi Rodrigo Nestor, autor do gol mais importante do São Paulo dos últimos 18 anos, e, acreditem, até mesmo Casemiro e Kaká, em um passado mais distante.
Ironicamente existe uma paciência maior para medalhões ou jogadores medianos, que até tiveram bons momentos com a camisa tricolor, mas que caíram no gosto da torcida, talvez por não ter saído dos campos de Cotia. Um exemplo óbvio, e recente, é James Rodríguez, que jamais fez um décimo do que Juan com a camisa do São Paulo, mas volta e meia retorna às bocas de torcedores que, sabe-se lá por qual motivo, defendem sua presença em campo.
Outro foi levado recentemente aos tópicos mais comentados da rede social do bilionário por ter rescindido contrato com seu time da MLS: Rigoni. O argentino chegou e desandou a fazer gols com a camisa tricolor com Crespo como treinador, mas logo passou a perder na mesma intensidade. Alguns até piores do que os de Juan. E tem torcedor pedindo o seu retorno, sabe-se lá por qual motivo.
Posso citar inúmeros exemplos de jogadores pedidos pela torcida por um período de glória recente – Pato, Maicon “God of Zaga” – e jogadores da base extremamente criticados por alguns erros comuns em atletas em formação – Nathan, Patryck. Por que tanta falta de paciência com Cotia e tanta complacência com quem vem de fora?
Não acho que Juan será um craque, longe disso. Mas é um jogador extremamente útil para o elenco, capaz de fazer diversas funções em campo e com uma força física importante para atacantes. E aqui deixo as palavras de Luis Zubeldía sobre ele:
“É um jogador que permanentemente está dando opções profundas, tratando de marcar um movimento profundo. Depois, sempre digo o que passei com o Cano, no Lanús, onde tinha o Pepe Sand, que foi um goleador na Argentina. Eles, às vezes, terminam dando os gols que têm de dar, mas que a princípio erram. Passei isso com o Cano. Perguntem a ele como foi o processo. Claro que esperam gols dos atacantes, mas também têm de entender que às vezes isso não é tudo, porque o movimento, o espaço que pode nos dar o atacante, nesse caso o Juan, se ele não faz o gol, pode dar para quem está ao redor”.
Juan, Patryck e Rodriguinho são três atletas que Zubeldía tem tudo para fazer crescer, por terem bom histórico na base e demonstrarem bons fundamentos como profissionais. Estão prontos? Não. Mas podem compor elenco e, quem sabe?, até assumir a titularidade. Alisson é um exemplo de superação – e este foi xingado, mesmo sem ser de Cotia e é a exceção que confirma a regra deste texto.
Este texto foi inspirado em um post do Gustavo Nic (@gustavonic_)
André Barros é jornalista e são-paulino, não necessariamente nesta ordem.