Motivo de preocupação ao longo da semana por sua timidez, Ricky Centurión se tornou assunto depois do clássico contra o Corinthians por outro motivo: o argentino foi o principal jogador do São Paulo na derrota por 1 a 0, no Morumbi. Não à toa, foi o único a ter seu nome gritado pela torcida nos minutos finais da partida.
Escalado pelo lado esquerdo do campo, o meia-atacante deu muito trabalho ao lateral Fagner desde o início. Irritou o volante Elias com fintas desconcertantes, sofreu faltas e só não fez o gol de empate porque Cássio cresceu e fez ótima defesa – em tarde inspirada, o goleiro corintiano ainda defenderia cobrança de pênalti de Rogério Ceni no começo do segundo tempo.
“Ele realmente foi muito bem. Ele deu profundidade, tem o drible. Hoje em dia, ninguém dribla mais no futebol. Só tem passe”, disse Muricy Ramalho, que havia cogitado deixá-lo fora do clássico por conta de seu acanhamento e da dificuldade em se comunicar com os colegas. Apesar de reconhecer a boa atuação do reforço vindo do Racing, o treinador se conteve.
“Tem que ter calma, porque a gente também se entusiasmou no jogo contra o Bragantino, quando ele foi muito bem. Depois, ele oscilou muito. Tem jogador que não é de treino, tem jogador que é só de treino e chega no jogo e não joga. Se fosse escalá-lo pelos dois últimos jogos e pelo treino, eu não o punha de jeito nenhum”, justificou-se. “Oscilou muito. Ele não chamou atenção pelos dois últimos jogos, em que foi muito mal, mas pelo primeiro. Por isso é que a gente escalou, e também para dar oportunidade de ele jogar no Morumbi”.
O bom desempenho diante do Corinthians não tirou sua timidez, porém. Tão logo tomou banho, o argentino deixou o vestiário a caminho do ônibus e, com sorriso acanhado, negou entrevistas à imprensa. Também não o garantiu entre os titulares no duelo de quinta-feira, frente ao São Bento, quando Alexandre Pato estará de volta no Morumbi. O atacante, entretanto, não é seu concorrente direto por posição, segundo Muricy.”Não são para a mesma posição. Ele (Centurión) prepara, joga no lado do campo. Eu o chamei outro dia, já que ele não fala, e mostrei o campinho (prancheta). Perguntei onde ele gosta de jogar, em qual das três posições da frente. Ele apontou o lado esquerdo. Ele não disputa posição com o Pato, mas eu gostei demais dele pelo lado esquerdo”, contou o técnico, que começará a preparar a equipe titular na terça-feira.
Enquanto isso, Centurión continuará pegando carona calado com o volante Souza e falando pouco também no CT da Barra Funda. A expectativa da comissão técnica é que o argentino comece a se enturmar com ajuda dos companheiros e da psicóloga do clube, Anahy Couto. Para a torcida, porém, ele pode seguir tímido se atuar como atuou no domingo.