O torcedor gosta de badalar as principais estrelas, mas poucos atletas têm tanta moral no São Paulo com o técnico Muricy Ramalho quanto o volante Denilson que, nesta quarta-feira, escreverá mais um capítulo especial na história que começou a ser construída no Tricolor em 2000, aos 11 anos.
Denilson completará 200 jogos no clássico contra o Palmeiras, justamente contra quem marcou seu único gol como atleta profissional.
Filho do seo Pereira e da dona Luciene, que deixaram a Paraíba em 1986 em busca de uma vida melhor em São Paulo, o volante cresceu e se formou no Jardim Ângela, um dos bairros mais violentos da capital paulista.
A comida em casa não era farta, às vezes só tinha pão velho, mas a família nunca se desestruturou. A mãe morreu em 1998 e ele, a partir do momento que se tornou profissional e começou a melhorar de vida, tomou o posto de líder da família. Hoje, não deixa nada faltar ao pai e os irmãos.
A boa fase atual só pode ser comemorada devido à mudança de postura do jogador, que caiu em desgraça com o técnico Muricy Ramalho no fim da temporada 2013. O São Paulo teve um ano muito ruim, lutou muito tempo contra o rebaixamento, e Muricy chamou Denilson para uma conversa em sua sala. Disse que ou ele mudava de comportamento ou seria afastado e não se reapresentaria com o elenco no ano seguinte.
– Realmente, só tenho que agradecer ao Muricy. Ele foi muito homem de falar tudo que falou. Respondi na ocasião que jamais ele questionaria meu comportamento novamente. Hoje, tudo está bem, estou casado, com filho pequeno e só quero trabalhar, trabalhar e trabalhar. Porque em 2015, temos a obrigação de conquistar um título – afirmou o jogador, que comemora o ótimo momento com a chegada do filho João, que nasceu no começo de fevereiro.
Confira a entrevista com Denilson:
GloboEsporte.com – Como é chegar ao 200º jogo com a camisa do São Paulo?
Denilson – É difícil falar, expressar. É uma felicidade muito grande, até porque tenho uma trajetória toda no São Paulo. Comecei no clube com 11 anos, tive oportunidade de ir para fora, ficar cinco anos, aprender bastante e voltar para o São Paulo. É algo que traz muito orgulho.
E comemorar esse fato certamente traz um personagem muito importante que é o seu pai.
Minha família era de Alagoa Nova. Ele era jogador de futebol na Paraíba, defendeu Botafogo, Campinense e Auto Esporte. Mas a vida lá não era fácil e ele resolveu vir para São Paulo com a minha mãe em 1986. Chegaram com uma mochila nas costas. Na época, a Portuguesa mandou uma carta falando para ele ir fazer um teste, mas ele não quis. Preferiu trabalhar para sustentar a família e virou segurança. Ele era um jogador de muita qualidade, batia com as duas pernas, saía jogando. Jogava como zagueiro e volante, era melhor que eu.
E sua mãe?
Ela era a grande incentivadora da minha carreira, sempre falava que seria jogador do São Paulo e que me veria atuando no estádio do Morumbi. Infelizmente isso não foi possível, já que ela morreu em 1998 (doença cardíaca). Passamos por muitas dificuldades no passado. Lembro que em algumas vezes só tinha pão velho para comer. Eu serrava e botava açúcar para tentar comer. Mas meu pai não desistiu, seguiu fazendo tudo que era possível até que as coisas começaram a melhorar. Sou muito grato a ele, faço questão de morar perto dele. Se ele está bem, estou bem.
Como você foi parar no São Paulo?
Quando tinha quatro anos, meu pai me levou numa loja de esportes e pediu que eu escolhesse uma camisa. Escolhi a tricolor (número dois do São Paulo). Ele ainda perguntou se eu tinha certeza. Respondi que sim. Lembro que, naquele ano, ele conseguiu me dar um presente e foi uma bola. Jogava todos os dias onde morava. Até que aos 11 anos, em 2000, o Bauer (ex-zagueiro do São Paulo) me viu jogando e me levou para escolinha dele. Meses depois, ele me recomendou ao São Paulo e fui para a base. Aos 17 anos, subi ao profissional.
Como foi crescer em uma das regiões mais violentas da cidade de São Paulo?
Acho que tudo deu certo por causa da educação que meus pais me deram. Porque não era fácil. Ainda tenho amigos com quem converso hoje, mas a grande maioria morreu tomando tiro porque escolheu o caminho do tráfico de drogas. Cansei de ver gente morrendo na minha frente, de sair correndo da rua para casa porque tinha começado tiroteio, de ver gente invadindo nossa casa pelos fundos. Lembrar disso tudo é doloroso, dá vontade de chorar. Mas segui em frente. Talvez eles tenham tomado esse caminho porque não tinham em casa o que eu tinha.
A história que começou em 2000 na base teve seu primeiro capítulo no profissional em 2005. O que recorda desse dia?
Tudo. Foi num jogo contra a Ponte Preta, pelo Brasileiro, em Campinas. Lembro que um dia antes, o Autuori (técnico da época) me chamou para conversar na sala dele e perguntou se eu estava preparado. Disse que sim. Ele respondeu que eu iria jogar. Saí correndo de lá, peguei o telefone, liguei para o meu pai e meus irmãos. Foi uma festa muito grande. Na hora, a lembrança da minha mãe foi muito forte. Hoje, muita coisa passou e posso comemorar que estou chegando aos 200 jogos.
O Denilson é craque?
Posso dizer que sou um jogador muito dedicado, sou um jogador útil para qualquer equipe. Gosto do trabalho, gosto da responsabilidade, escuto críticas, escuto elogios, nada me altera.
O São Paulo tem obrigação de conquistar um título este ano?
Este ano o São Paulo precisa ser campeão, não importa a competição. Cada torneio tem sua importância, mas, pelo elenco que temos, não podemos passar em branco. Em 2013, o Muricy voltou a organizar o time. Em 2014 foi o ano de unir e preparar. Foi o que aconteceu, terminamos com o vice-campeonato brasileiro. Não há outra alternativa para 2015 que seja título.
Você parou por um período difícil no São Paulo, entre o segundo semestre de 2013 e o primeiro de 2014. Por que isso aconteceu?
Não estava nem aí para o trabalho, só ia trabalhar por obrigação. Se o treino era às 9h30, eu chegava 9h20 no CT, me trocava e ia para o campo. Hoje me cuido, procuro chegar pelo menos uma hora antes. Fora, tenho um personal que auxilia na preparação. Isso faz a diferença.
Qual a importância da sua família nesse crescimento?
Eu gostava de sair com amigos antes de conhecer a Luiza. Quando a conheci, mudei porque ela veio do Rio para ficar comigo, não podia deixá-la sozinha. Ela me ajudou bastante, me entendia nos momentos difíceis, quando não era relacionado. Quanto ao meu filho, é difícil expressar o amor que sinto. Eu só penso nele, quero trabalhar, trabalhar, guardar mais dinheiro. Meu filho veio e não quero que ele passe necessidade. E posso falar que sou um paizão. Troco fralda, acordo de madrugada, só não dei banho. Gosto de acompanhar tudo. Além disso, a Luiza precisa descansar também. É uma alegria muito grande.
Se fôssemos ilustrar sua carreira, como gostaria que fosse?
Primeiro, ela deveria ter o vídeo do meu gol que fiz contra o Palmeiras. Depois, imagens dos meus carrinhos, batalhando no campo pela vitória. Acho que é assim que sou lembrado. Sempre que entro em campo, tento fazer o máximo por essa camisa. Tenho de fazer cada vez mais porque estou construindo a minha história com a camisa do São Paulo.
Boa fase foi foda.
Denilson só é titular pq o Muricy gosta dele, assim como era o caso do Richarlysson.
Eu armaria o time só com um volante (Hudson) e com o Centurion, MB e ganso no meio. Ataque Pato e L.F. (kardec)
Lamentável, tudo bem que a posição dos dois é diferente, mas vc ver Denilson sempre como titular e o Centurion mais uma vez na reserva jogando o que esta, não da para desanimar com o futebol com o técnico burro desses.