Durou 70 dias a passagem de Alejandro Sabella pelo futebol brasileiro, em 2005, depois de se aposentar como jogador de futebol. Auxiliar de Daniel Passarella no comando do Corinthians, no ano em que a equipe teve o aporte do MSI, Sabella só não prolongou o trabalho no Parque São Jorge porque o São Paulo não deixou. São Paulo que hoje, dez anos depois, o espera para suceder Muricy Ramalho e reformular o futebol praticado no Morumbi. São Paulo que hoje oferece, mas que em 2005 tirou de Sabella o emprego ao aplicar sobre o rival uma goleada por 5 a 1, no Pacaembu. As lembranças do Corinthians daquele auxiliar técnico, no entanto, são muito positivas.
Os jogadores que trabalharam com Sabella no Corinthians de 2005 descrevem o então auxiliar técnico de Passarella como algo muito além de um ajudante. Segundo os relatos, Sabella chegava a ser em determinados momentos mais atuante que o próprio treinador – tanto ao aplicar os treinos como ao decidir esquemas táticos e escalações. Os atletas daquela equipe lembram de Sabella como um profissional que prezava mais pelo futebol bonito, bem jogado, do que propriamente pelo resultado, e também das tentativas de dar mais influência argentina àquela equipe que já contava com Carlos Tevez e Javier Mascherano no elenco.
Sabella é ainda descrito como um treinador paciente e inteligente, preocupado em manter o clima harmonioso no vestiário, com conversas individuais principalmente com os atletas que não faziam parte do time titular. Todos eles dizem que o argentino sempre se fez entender e nunca encontrou problemas para se comunicar.
“O Passarela dava total liberdade pra ele [Sabella] opinar no esquema tático, opinar com os jogadores sobre a parte técnica dos jogadores. Então eu acredito que sim, ele dava muito palpites, colocava muito a opinião dele na parte tática. Na verdade eram dois treinadores, ele não era só um auxiliar”, conta o ex-volante, 29, que se aposentou no ano passado.
“Considero o trabalho dele top, nível de Tite, de Mano Menezes, todos esses que hoje são do alto escalão, como chamam. E o Sabella mesmo às vezes treinava com a gente a parte técnica, tática. Até o rachão ele jogava também, então ele tinha uma proximidade muito grande. Com ele era um contato direto, mesmo, e sinceramente ele está entre os mais inteligentes que eu já trabalhei”, diz Bruno Octávio, que fez parte de equipes comandadas por Oswaldo de Oliveira, Tite, Antonio Lopes, Emerson Leão, Paulo Cesar Carpegiani e Nelsinho Baptista.
Daniel Passarella e Alejandro Sabella eram a aposta do MSI, então representado pelo iraniano Kia Joorabchian, para tirar o melhor das grandes estrelas da companhia: os compatriotas Tevez e Mascherano. A escolha pareceu equivocada quando, na estreia, Passarella foi derrotado por 3 a 0 pelo pouco expressivo Cianorte, pela Copa do Brasil. Nos jogos seguintes, no entanto, a história mudou: sete vitórias, quatro empates e três derrotas. Números positivos, mas o peso da última derrota custou o emprego.
Sabella não se satisfez com a missão de tentar tirar o melhor da valiosíssima dupla argentina. Tentou dar às promessas brasileiras um pouco de futebol argentino. Tentou ensinar ao meia Dinelson, à época tido como grande promessa do futebol brasileiro, o papel de “enganche” – algo que veio a ser conhecido de forma mais clara no Brasil pelos pés de Darío Conca e Walter Montillo. Quem conta é o próprio Dinelson.
“Ele usava uma expressão da Argentina, “enganche”, que é o meia aqui. Quando ele montava o time de baixo a molecada estava ali, ele sempre me usava e falava essa expressão e pedia para eu organizar bem as jogadas. Ele gosta bastante deste meia assim que organiza, então ele falava mais isso. Na época eu tinha 18 anos, ele falava bastante para eu ir para cima, para eu fazer as jogadas e armar o time”, conta.
Sabella foi um camisa 10 clássico. Não foi propriamente um “enganche”, mas sempre gostou da figura do meio-campista criativo. Jogou em bom nível nas décadas de 1970 e 1980, em 1985 atuou pelo Grêmio, e chegou a atuar quatro vezes pela seleção argentina. Perdeu espaço por ser contemporâneo de Diego Maradona. Em 2012, consolidado como técnico da seleção, teve de comprar publicamente a briga para que a crítica entendesse que aquela equipe deveria jogar sem um “enganche”. Conseguiu, foi para a Copa do Mundo sem um jogador fazendo essa função e conquistou o vice-campeonato.
“Às vezes, os que não estavam jogando não estavam bem, mas ele conversava e dava muita moral, e falava que a vaga estava aberta, desde que se esforçasse bem e treinasse muito. Eles davam essa oportunidade para todo mundo. Eu defino o Sabella como um cara ofensivo, um cara que gosta que o time jogue e que jogue bonito. Gosta bastante da qualidade técnica dos jogadores, ele cobra muito isso. É um cara que jogou futebol e me falaram que jogou muito. Jogou de meia. Eu lembro que naquele tempo ele me dava muita moral no time, sempre me orientava. Só tenho coisas boas pra falar dele, profissional que dispensa comentários”, relata Dinelson.
A atenção aos reservas é relatada também pelo ex-zagueiro Marinho: “Tudo o que ele falava junto com o Passarella, ele mantinha a palavra. Sempre apoiando aqueles que estavam de fora do treino, explicando, ensinando, bem atencioso. Ele falava devagar, explicava bem as coisas. Explicava também com gestos, da forma do futebol, na prática, aí não tinha como não entender o que ele falava”.
O também zagueiro Betão, 31, atualmente no Dínamo de Kiev, da Ucrânia, conta que além do cuidado ao passar instruções, Sabella conseguia falar português com os atletas.
“Foi uma experiência legal trabalhar com ele porque era a pessoa que fazia o meio campo entre o treinador e os jogadores. Ele falava um bom português, fala bem, e isso facilitou bastante a comunicação com a gente. De repente o Passarela não falava tão bem em português, mas o Sabella era do tipo de pessoa que gostava de entrar em contato com os jogadores para trocar ideias. De estar conversando, de passar a experiência dele com o futebol. Isso facilitou bastante o contato dele com a gente”, conta o defensor.
Para Betão, a grande qualidade de Sabella era conseguir exemplificar com clareza nos treinos aquilo que queria de cada jogador: “O que era legal dele é que quando tinha treinamento tático ele participava com a gente, mostrando os lances de uma maneira prática. Dava para ver que ele tinha muita intimidade com a bola, também. Deve ter sido um grande jogador também, ele participava demais”, relata.
Antes de brilhar pelo São Paulo e sob o comando de Muricy Ramalho, o volante Hugo fez parte daquele Corinthians dos argentinos. E por na época não ser um titular da equipe, viu de perto o contato mais próximo de Sabella com os reservas. Hoje ele traça o perfil de cada um e como Sabella atuava na dupla.
“Ele era um cara mais tranquilo. O Passarela era mais explosivo, mas o Sabella era um cara que entendia muito. Era uma dupla com a qual o Corinthians estava muito bem servido. Sabella tinha ali uma determinação muito grande. E, se ele falava, o Passarela escutava. Até em formação de equipe ele tinha muitas participações na escalação de jogadores. Passarela o ouvia muito”, relata o meio-campista, que até 2014 jogou pelo Vitória.
É o mesmo que conta o lateral direito Edson, hoje no Santa Cruz, jogando como volante: “Passarela ouvia muito ele, de uma forma intensa, tanto que muitas das vezes nos treinos era ele [Sabella] que dava os trabalhos. Era um cara bem participativo tanto com quem jogava como com quem não jogava”, relembra o jogador, que descreve ainda a importância que Sabella dava nos treinos à recomposição defensiva e à necessidade permanente de ter dois jogadores próximos ao companheiro que tem a posse de bola, para permitir a realização de triangulações.
Dez anos depois da passagem pelo Corinthians, Sabella construiu uma carreira breve e vitoriosa como treinador. Em 2009 assumiu o Estudiantes, da Argentina, e se sagrou campeão da Copa Libertadores. Ainda pelo clube, em 2010 conquistou o troféu da primeira fase do Campeonato Argentino. Assumiu a seleção argentina em 2011 e liderou a reformulação da equipe, processo no qual tiraria do elenco o velho conhecido de Corinthians Carlos Tevez. Barrando um dos maiores ídolos nacionais, Sabella realizou 41 jogos pela seleção, com 26 vitórias, dez empates e apenas cinco derrotas – uma delas para a Alemanha, por 1 a 0, na final da Copa do Mundo de 2014, partida que encerrou sua passagem.
Um ano depois disso, Sabella procura o terceiro desafio da carreira como técnico. A prioridade do argentino de 60 anos era o mercado europeu. Ele tem fé que possa brigar pela vaga no Manchester City, da Inglaterra, que deve demitir o chileno Manuel Pellegrini, mas corre por fora na disputa. Em conversas com o São Paulo desde o último dia 6, Sabella é esperado para dar uma resposta nesta terça-feira. Até o fim da noite de segunda-feira, a diretoria são-paulina manteve acesa a possibilidade de receber o treinador no CT da Barra Funda para discutir salários, finalizar acordo e assinar contrato. É possível, porém, que a definição se arraste até o fim da semana.
Eu acredito que esse técnico pode dar certo no tricolor. Além do mais o cara eh argentino, pura raça ta no sangue dos caras. Pode fazer esse time jogar com mais sangue nos olhos.
Vai ser mais um a ser engolido pelo zumbi das traves.
A panela vai continuar
Fora Pipoca, Mum-ra e Isabela
fala gambicha. de novo perdendo seu tempo e logando para comentar no site tricolor? vc é muito mediocre. tenho pena de vc