– O pior já passou. O primeiro mês foi muito complicado, você sente mais dor. Dentro do que foi programado, não tenho mais nenhum tipo de incômodo. Já é possível notar a evolução. Dentro de algumas semanas, espero ter boas novidades aos torcedores do São Paulo que tanto me apoiam e querem o meu retorno – afirmou o jogador, que recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em sua casa, na última quarta-feira.
Se por um lado Kardec conviveu com a angústia de uma lesão, por outro ele ganhou tempo de sobra para curtir seu maior presente: a pequena Maria, que nasceu um dia antes de ele se machucar. O atacante fez questão de apresentar a herdeira. Vestida com uma roupinha do Tricolor, a garotinha que está com três meses se comportou muito bem durante a realização da matéria, com caretas e sorrisos, arrancou comentários de um pai totalmente babão.
– Sem dúvida, ela é a maior vitória da minha vida – resumiu.
No papo, que durou aproximadamente 30 minutos, o atacante também falou sobre a situação do São Paulo que, após um período de instabilidade na temporada, começa a reagir sob comando de Juan Carlos Osorio. Mesmo fora, ele já percebeu os métodos diferentes do colombiano e se mostra animado com o retorno.
(Foto: Marcelo Prado)
Veja os principais momentos do papo com Kardec:
GloboEsporte.com – Nesta semana, com três meses de recuperação, você começou a correr na esteira, que é a última etapa antes de começar a trabalhar no gramado. O que isso representa para você?
Alan Kardec – É bom porque o principal de tudo é que consigo notar a evolução. Dentro do que foi programado, não tenho nenhum tipo de incômodo. O que existe é um pouco de dor muscular, o que é normal. Nada fora disso. Foram três meses muito duros. O período inicial é muito chato. Você fica muito tempo dentro de casa, deitado na cama, já que está imobilizado. Quando levanta, o sangue desce para a perna e a dor aumenta. Quando comecei a ir para o CT, após 10 dias (da cirurgia), tudo começou a melhorar. Hoje, com três meses e alguns dias, eu me sinto muito melhor. Em pouco tempo, estarei correndo no gramado para dar ainda mais ênfase aos treinamentos.
Como é sua rotina?
– A mesma de segunda a sábado. Levanto cedo e vou para o CT. Tomo café por volta das 9 horas e começo o trabalho no Reffis. Paro para almoçar, depois tem uma hora de descanso. Às duas da tarde recomeça. Cada período é um tipo de tratamento. Chego em casa no finalzinho da tarde. É cansativo. No final de semana, como trabalho apenas um período no sábado, aproveito para curtir os familiares. Durante a semana é só foco no trabalho na recuperação e na alimentação, coisas que podem me ajudar a voltar mais cedo do que o previsto.
Qual foi o momento mais difícil?
– O início da recuperação é chato. Tem a cirurgia, fica um pouco de fibrose e você precisa dobrar o joelho. Os fisioterapeutas conversaram comigo e explicaram que haveria duas maneiras de conseguir fazer os movimentos necessários: ou eu dobrava, ou eles dobravam por mim. Com muita dificuldade, consegui fazer os movimentos. Dobrava, dobrava, dobrava, até conseguir ganhar toda a angulação da perna.
Um dia antes de você sofrer essa grave lesão, sua filha nasceu. Como você lidou com situações tão distintas?
– O nascimento da Maria é a maior vitória da minha vida junto com a minha esposa. Vem para unir ainda mais a família, mostrar o sentido. É algo inexplicável, veio no melhor momento possível. Nada acontece por acaso. Ela nasceu um dia antes da lesão. É claro que, quando machuquei, fiquei triste na hora. Mas, com ela, tenho motivos de sobra para ter motivação e foco para lutar, me recuperar e buscar meus objetivos.
Como é o Kardec como pai?
– Sou babão, pai de primeira viagem, Sou participativo, dou banho, troco fraldas, troco roupa, estou sempre ajudando minha esposa. É claro que na madrugada é ela quem acaba ficando mais com a Maria, até vai dormir no quartinho dela para que a pequena possa acostumar a dormir no berço. Chego em casa, é uma alegria muita grande. Pai de primeira viagem é um sentimento inexplicável, não dá para definir.
Falando agora sobre futebol, quando você ainda estava jogando, o São Paulo vivia um momento de muita irregularidade sob comando do Muricy Ramaho. Como você vê o time hoje, três meses depois?
– Vejo o time melhor. Nesse período, recebemos jogadores que vieram encorpar a equipe que havia sido vice-campeã do último brasileiro. Essas peças tinham de entender como funcionam o clube. Mas passamos por um momento de instabilidade que não foi normal. Dentro de casa, o time foi muito bem. Fora de casa, acho que nosso desempenho nos clássicos acabou tirando nossa confiança, o time passou a ser contestado. Saiu o Muricy, entrou o Milton que já conhecia bem o elenco e deu sequência no trabalho. Agora veio o professor Osorio, e o time está conseguindo uma sequência mais estável.
Mas aonde esse time pode chegar?
– Estamos a cinco pontos do líder em um campeonato que está muito equilibrado. As próximas partidas vão dizer muitas coisas para a nossa equipe. Tem confronto contra Atlético-MG, Corinthians, Cruzeiro e o Sport. Nosso time tem condições de ir bem. A tendência é crescer. Quando tem uma troca de comando, é normal que se leve um tempo para assimilar as novas maneiras de atuar. Alguns atletas melhoraram, estão jogando em suas posições e ganharam confiança. A torcida enchendo o estádio nos ajuda demais. Jogadores, comissão e torcida foram um grupo muito forte.
Do lado de fora, o que você consegue falar sobre o trabalho do Osorio?
– Não tenho conversado diretamente com nenhum jogador a respeito. Quando posso, dou uma escapada da fisioterapia e vou até o campo para observar os treinamentos. Vejo o que tem de diferente, ele está sempre passando coisas novas. As duas zagas, por exemplo, sempre treinam do mesmo jeito. Você vê treinos de dois contra um, com laterais se enfrentando, e essa situação acaba acontecendo nos jogos. Estou observando a equipe e fico me perguntando a razão de estar machucado agora, já que existem jogadas no fundo, muitas bolas são cruzadas na área. Para um camisa 9, isso é muito bom. É claro que quero participar. Mesmo fora, vejo muita coisa diferente, e os atletas estão assimilando bem.
Hoje, o São Paulo é um time confiável?
– Sim, acho que sim. A confiança pode passar muito pela opinião de cada um. Mas os resultados positivos são importantíssimos. No Brasileiro, tivemos uma sequência de quatro jogos sem vitória, mas conseguimos reagir contra Vasco e Coritiba. A tendência é ter confiança e crescer. O importante é sempre acreditar no trabalho. Quando todos estão unidos dentro e fora de campo, temos motivos para acreditar.
Qual projeção que você faz para sua volta?
– No dia 9 de outubro a cirurgia completa seis meses. Temos um jogo no dia 13 (na verdade, dia 14, contra o Fluminense). Em algumas semanas, quero ter boas notícias em termos de novas etapas. Tem muita gente perguntando e torcendo pelo meu retorno, esse carinho é importante. Quem sabe não volto um pouco antes?
Se essa sua previsão se confirmar, você terá 10 jogos do Brasileiro para mostrar serviço. Dá para prometer algo?
– Além desses 10 jogos, a Copa do Brasil também estará em andamento. Mas, nesses 10 dá para marcar sete gols. Isso me faria terminar o ano em alta, com confiança. Tenho a cabeça boa e certeza de que vou voltar ainda mais forte do que estava na época da lesão. Quero voltar a jogar bem no São Paulo e, no futuro, brigar por vaga na seleção brasileira.
Melhor do o pipoca