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Alexandre Lozetti
“Volta” de Luis Fabiano reduz movimentação, mas aumenta capacidade ofensiva do time de Osorio, que pode variar esquema tático para suprir desfalque de Rodrigo Caio.
A liberação de Luis Fabiano altera completamente o panorama do São Paulo para o clássico de domingo contra o Corinthians. Se antes o desafio era superar a melhor defesa do campeonato sem seus principais atacantes, agora Juan Carlos Osorio tem pouco mais de 48 horas para recriar uma formação com seu centroavante. E sua presença acarreta mudanças profundas.
O técnico afirma que ele trabalhou em situações de jogo durante toda a semana e está muito bem preparado. O colombiano não é dado a bravatas. Não há motivos para duvidar. Sem Pato, artilheiro da equipe no ano, com mais que o dobro de gols do segundo colocado (18, enquanto Michel Bastos tem 8), Luis Fabiano será o eixo do ataque. Em torno dele, girarão Ganso, Michel e Centurión, se jogar. Haverá uma referência de menos movimentação do que seria o argentino mais isolado à frente, porém, com muito mais capacidade de segurar zagueiros e fazer gols.
Osorio ganhou um presente fabuloso e recebeu um desfalque inesperado. Rodrigo Caio está com tendinite. Outro baque na proposta de ação imaginada por mais de uma semana. O jovem é essencial no esquema com três zagueiros, que aos poucos é colocado em prática, e pelo qual o treinador jamais escondeu seu apreço. A equipe atuou assim na derrota por 3 a 1 para o Atlético-MG, provavelmente o melhor desempenho de um perdedor no campeonato.
O Tricolor não teve possibilidade de vencer por três motivos: 1) erros graves de seus principais jogadores nas finalizações; 2) a lei da ação-reação, em que cada gol perdido desanimou e desmontou um pouco mais a estrutura bem montada; 3) Lucas Pratto, três gols em 45 minutos.
A boa notícia é que o São Paulo criou, muito por conta da boa movimentação e da compreensão dos homens de frente sobre como teriam de se posicionar com e sem a bola. É provável que no domingo o substituto de Pato seja menos o argentino.
Definir Centurión é difícil. No lado positivo da balança: ele é destemido, tem estrela para fazer gols importantes e carisma por sua personalidade arredia. E o negativo? Ignora o jogo coletivo, tornando-se um peladeiro de luxo em determinados momentos, e apresenta profundo desapego pela posse de bola – Guardiola teria palpitações ao vê-lo em campo.
Como ultrapassar a sólida defesa corintiana – nove gols sofridos em 16 rodadas? Será preciso um esquema de movimentação intensa, iniciado na raiz das jogadas ofensivas do São Paulo, que terá outro desafio: não perder as estribeiras. Faz parte do perfil desse time se entregar diante da primeira dificuldade, do primeiro gol sofrido. Para vencer, o Tricolor terá de disputar os 90 minutos. Não tem sido fácil…
plano tático
É difícil apontar o sistema que será usado por Osorio, ainda mais depois do desfalque inesperado de Rodrigo Caio. Seus treinos mais reveladores são feitos a portas fechadas. Mas, independentemente dos números, as voltas de Bruno e Carlinhos devem dar ao São Paulo mais força pelos lados. O lateral-direito estava em seu melhor momento quando se machucou. O da esquerda tem jogado muito bem, mas quase nunca joga. Para eles, o efeito suspensivo de Luis Fabiano é ótima notícia. Haverá alguém na área para concluir seus lances.
Será preciso que, além de Fabuloso, os craques do time entrem na área para finalizar. Quem são eles? Ganso e Michel Bastos. O primeiro está em dívida (não tão profunda quanto a do São Paulo) em 2015, e o segundo, desde que renovou contrato, não tem uma performance no nível de excelência com que começou a temporada. Se há um momento para ambos voltarem a ser um ponto de desequilíbrio, a favor, esse momento será o próximo domingo.
E os riscos? Serão bem calculados? Qualquer técnico que analise bem seus rivais (e Tite faz isso) sabe que o São Paulo gosta de sair jogando. Osorio abomina o chutão, e faz sentido. Ele quer construir o ataque, projetar, desenhar, desde seu goleiro, passando por todos os setores. O time melhorou consideravelmente nesse aspecto, mas passa por transformações. A chegada de Luiz Eduardo, zagueiro-gestor financeiro de treinos elogiáveis na primeira semana, permite ao “profe” adiantar Lucão para fazer dupla com Hudson na contenção do meio, ou mesmo manter seus três zagueiros, mesmo sem Rodrigo Caio. Para isso, teria menos pegada central – Wesley ou Michel Bastos na função de segundo volante.
O São Paulo pode entrar em campo com 11 jogadores e utilizar dois sistemas diferentes. Por exemplo: com Rogério Ceni, Bruno, Rafael Toloi, Lucão, Luiz Eduardo, Carlinhos, Hudson, Michel Bastos, Ganso, Centurión e Luis Fabiano, é possível atuar no 4-4-2 ou no 3-5-2.
Talvez, a melhor atuação tricolor em 2015 tenha sido na vitória por 2 a 0, no Majestoso de abril, pela Libertadores. Foi um “amasso”, os donos da casa espremeram os visitantes no Morumbi. Recuperaram a bola sempre muito rapidamente e tiveram eficiência ao fazê-la girar de um lado para outro. Mas valem duas lembranças: houve superioridade numérica tricolor durante quase toda a partida, e a equipe ainda não havia sido desmantelada pelas dívidas. Os volantes, por exemplo, eram Denilson e Souza, ambos negociados no meio do ano.
jogador-chave
Michel Bastos foi “o cara” do São Paulo no primeiro semestre. Destacou-se pela raça, por assistências e gols (é o vice-artilheiro do time no ano, com oito).
De dois meses para cá, proliferaram os toques de calcanhar, tentativas de chapeuzinhos, e os pontos positivos se tornaram raros. Ele mudou. O “velho Michel” é capaz de ser o diferencial no domingo.
Por que? Além do que já foi dito, nenhum outro jogador entre os 10 de linha que estarão em campo pelo Tricolor terá tamanha capacidade de definir num lampejo individual. A força de marcação corintiana é mais coletiva do que individual. Para quebrar o agrupamento adversário, nada melhor do que um chute de média ou longa distâncias, uma tabela em velocidade, uma chegada surpreendente à área. Requisitos que Michel sabe preencher com maestria.
fique de olho
Centurión merece uma atenção especial. O argentino fez o gol do título argentino do Racing no ano passado, marcou, sobre o Danúbio, o gol que manteve o São Paulo com boas chances de classificação na primeira fase da Libertadores, e também comemorou sobre o Cruzeiro no primeiro jogo das oitavas de final: três vitórias importantes, três gols de cabeça de um jogador que tem 1,75m. Histórico propício para quem sonha decidir um clássico, e terá a responsabilidade de liderar um ataque sem seus maiores expoentes.
Domingo vamos ficar com osso de galinha engasgado na garganta.. ..Caso de UTI urgente….