Vitor Birner
Como diretor de futebol, Juvenal Juvêncio foi fundamental para o São Paulo ganhar os títulos estaduais em 85, 87 [eram muito mais importantes que hoje] e em 2005, o campeonato brasileiro em 86, e a Libertadores e o Mundial de 2005.
No cargo de presidente da agremiação comemorou o Paulistão de 1989, o tricampeonato nacional e a Copa Sul-Americana.
Foi um dos dirigentes com melhores resultados na história do futebol.
Marcelo Portugal Gouvêa
Mas resumir as suas gestões nos títulos é algo pobre.
Marcelo Portugal Gouvêa, saudoso presidente do clube, conseguiu ser eleito quando era oposição porque Juvenal Juvêncio ficou ao seu lado na articulação da campanha.
Naquela noite de 2002, no salão nobre, após ganhar por dois votos de Paulo Amaral, um dos piores cartolas da história da instituição, com enorme sorriso e em frente aos conselheiros, fez o seu discurso inaugural na presidência em agradecimento ao senhor que nesta quarta-feira teve a experiência inevitável para todos seres da soberana natureza.
Não haveria o Mito
A eleição de Marcelo Portugal Gouvêa foi crucial para Rogério Ceni no São Paulo.
A ideia de Paulo Amaral era negociar o jogador. Fez o possível para ele pedir para ir embora.
A probabilidade de o goleiro permanecer, caso a então oposição perdesse e Paulo Amaral ficasse no cargo, era irrisória.
Reeleição
No primeiro de Marcelo Portugal Gouvêa, houve altos investimentos para montagem do time, como a contratação de Ricardinho, e nenhum troféu relevante.
O dinheiro, por conta dos gastos no futebol, minguou e o dirigente cogitou renunciar, se Juvenal Juvêncio não aceitasse dirigir o departamento de futebol.
Ganhador
O “sim” garantiu a permanência de Marcelo Portugal Gouvêa, outras candidatura e mandato, e o início de uma era de conquistas.
Juvenal Juvêncio, atento às novidades da Lei Pelé, montou, com baixo investimento, o elenco campeão Mundial e da Libertadores.
E depois, com um pouco mais de dinheiro, o time tricampeão do torneio de pontos corridos.
Patrimônio
Juvenal Juvêncio reformou o Morumbi quando caía aos pedaços e construiu o CT de Cotia.
Ficava feliz ao caminhar pelos locais, tateava as paredes do estádio, comentava que não existiam infiltrações e rachaduras, exaltava a qualidade do gramado, e falou uma de suas frases folclóricas e sinceras ao chamar o palco dos jogos de sacrossanto.
Política e coragem
Os dirigentes de quase todas as agremiações tinham ‘medo’ de Ricardo Teixeira.
Diziam amém para tudo que o presidente da CBF queria.
Marcelo Portugal Gouvêa foi, numa das reeleições do hoje morador de Miami, o único a não apoiá-lo ao anular o voto.
Juvenal Juvêncio como presidente tornou a oposição mais ferrenha, em princípio por questão ideológica, e depois, principalmente, porque foi driblado quando abriu mão das convicções para se juntar ao bloco dos ‘teixeiristas’ em na eleição da entidade, numa tentativa de trocar seu apoio por jogos da Copa do Mundo no Morumbi.
Ganhou dele na eleição do Clube dos 13.
Sabia que os líderes de outros clubes se aproveitaram disso, obviamente em detrimento do que é melhor ao futebol e dependendo do caso para a própria população, no intuito de conseguirem o que pretendiam, tal qual houve. Tinha ideia que ficaria impopular, mas nem assim alterou os rumos.
Marco Polo del Nero foi mais um com quem teve alguns entreveros.
O ápice, após muitas questões de bastidores que não devem ser mencionadas, foi à vésperas da última rodada do Brasileirão na conquista do hexacampeonato, quando o ainda presidente da Federação Paulista supôs que haveria compra do resultado.
Por conta disso, Juvenal Juvêncio pediu aos advogados do clube para entrarem com ação.
Ao notar que realmente poderia ser suspenso, Marco Polo del Nero pediu para quem convivia com Juvenal Juvêncio convencê-lo a esquecer aquilo que iniciou.
Irredutível, não aceitou e o cartola hoje licenciado, foi suspenso por 90 dias de sua função, algo inédito em nosso futebol.
Cada torcedor avalia isso como achar melhor.
Esses posicionamentos, com exceção ao acordo frustrado, políticos e sociais são dignos de encher de orgulho quem ama a agremiação.
Não há como reclamar, por exemplo, de qualquer governo por causa de corrupção, e no gramado comemorar os resultados gerados em parte pelo apoio ao ‘establishment’ e na brecha de quem não quis fazer o jogo.
O declínio na soberba
Os resultados, o elenco superior ao dos concorrentes, a estrutura do futebol elogiada, fizeram o dirigente ter mais certezas que as necessárias.
Não percebeu, pois achou que tudo que planejou funcionaria, que suas escolhas nem sempre eram melhores que as dos presidentes de outros clubes.
Não cogitou que esses faziam o possível para alcançar a sua gestão e tinham capacidade disso.
Em suma, sentou no confortável trono da soberba e, com plena sensação de que não podia ser ultrapassado, começou a errar mais que outrora.
Além disso, gastou muita energia nas questões contra Ricardo Teixeira que tiraram seu foco da gestão do Ct da Barra Funda.
Nunca mais o local teve líder capaz de agregar o elenco e fazê-lo mostrar união e raça regularmente no gramado.
Centralizador e repressor
Juvenal Juvêncio não foi democrático.
Tinha muito mais apreço pelo poder que por qualquer regalia oferecida no cargo.
Para mantê-lo, optou por utilizar as ferramentas que o mesmo disponibiliza, conseguiu suprimir a oposição, o que inevitavelmente, cedo ou tarde, seria ruim para a instituição, tal qual o desenrolar disso mostrou.
Fundamental: quando foi oposicionista, não aceitou diretorias para apoiar quem não achou competente.
O terceiro e antiético mandato refletiu a maneira de ele enxergar o poder.
A gestão do clube nessa fase ficou muito abaixo do padrão que ele mesmo construiu.
Tomou decisões por pressão da torcida.
As rédeas do CT da Barra funda foram ficando maiores até não conseguir mais, com suas idas ao local e apesar de ser respeitado pelos jogadores, retomá-las.
Tinha que fazer alterações que o tornariam muito impopular com a torcida, achou que com paliativos colocaria tudo em ordem, e não conseguiu.
Nessa época, a doença que causou o desencarne o fez ir, muitas vezes, ao hospital, fato que ele e a família preferiram manter em sigilo.
Último equívoco
A opção por Carlos Miguel Aidar foi fruto da preocupação de perda da eleição e consequentemente do poder.
Achou que teria ascendência sobre o escolhido, não conseguiu tal qual alguns comentaram quando não indicou Carlos Augusto de Barros e Silva ou Roberto Natel como candidato, e prometeu, ao saber o que havia na gestão, salvar o São Paulo antes de morrer, pois não queria carregar isso ao túmulo.
Curiosidades
Juvenal Juvêncio foi ao PSOL, na última candidatura de Plínio de Arruda Sampaio para presidente, falar que pretendia declarar apoio e talvez ajudar na campanha.
O partido não aceitou.
Aos amigos com quem debatia política, citava episódios e ideias de Mao Tsé-Tung, o que explica muitas decisões que tomou na agremiação do Morumbi.
A política, os cavalos, a esposa, descendentes que tiveram, o São Paulo e principalmente o neto, filho de Marco Aurélio Cunha, foram as grandes paixões dele.
Torcida
Será espetacular se o monte de críticos de Juvenal Juvêncio, que acham pequena tal contribuição ao São Paulo, conseguirem oferecer mais que ele à instituição.
Conquistem maior quantidade de troféus, agreguem mais ao patrimônio da agremiação e serão reverenciados pelos milhões que amam a agremiação.
Meus sentimentos
Que Deus receba a alma dele e conforte seus parentes e amigos.
PSOL muito pior que o PT, o pior tipo de comunista, e tem gente que babaqueia o pior presidente de todos os tempos, que afundou o S.Paulo deixando terra arrazada.