Por ‘culpa’ de Valdir de Moraes, Rogério Ceni completou 25 anos de São Paulo

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GazetaEsportiva.net

William Correia

Ídolo do Palmeiras acolheu o goleiro e convenceu o técnico Telê Santana a mantê-lo no grupo principal de jogadores.

Em 7 de setembro de 1990, chegava com dois dias de atraso ao CT da Barra Funda um garoto de 17 anos repleto de vestimentas amarelas, logo recepcionado pelo preparador físico Altair Ramos com a frase “Que é isso, hein, loirão?”. Rogério Ceni, que fez uma carreira de 25 anos no São Paulo, não seria muito mais que um “loirão” não fosse uma aposta de Valdir Joaquim de Moraes.

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Ídolo do Palmeiras, Valdir aceitou convite do amigo Telê Santana para chefiar a preparação de goleiros no Tricolor no início dos anos 1990. Entre as primeiras tarefas, estava uma decisão marcante para a história do clube: convencer um garoto em quem via muito talento a não ceder à saudade da família e abandonar a profissão antes mesmo de se tornar profissional.

Valdir chamou Rogério em sua sala e repetiu o que já dizia a Telê: com paciência, seria um goleiro muito bom. “Acabou saindo melhor do que a encomenda, não imaginei que ele fosse se transformar em tudo isso. Imagine quem o futebol teria perdido”, comentou Valdir. Hoje fora do futebol, ele tem exata noção de sua importância para o “mito” são-paulino.

Antes de Valdir de Moraes, tiro de meta de Ceni não passava do meio-campo (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Antes de Valdir de Moraes, tiro de meta de Ceni não passava do meio-campo (Foto: Acervo/Gazeta Press)

O agradecimento do pupilo já deixou o sempre contido Valdir emocionado. Em 2006, ele foi o padrinho para entregar a Ceni o Troféu Mesa Redonda, na TV Gazeta. Ouviu durante a gravação do programa e em conversa posterior palavras que o marcaram para sempre.

“Eu estava escondido, ele não sabia quem lhe entregaria o troféu. Quando apareci, ele me retribuiu dizendo que, se pudesse, dividiria o prêmio ao meio comigo por ser a pessoal responsável por tudo que ele conseguiu. Senti um orgulho tremendo e me emocionei. Um dos maiores goleiros do Brasil estava sendo modesto comigo”, lembrou.

Rogério Ceni não esconde sua gratidão com Valdir, e não apenas por evitar que voltasse a morar com os pais. O então preparador de goleiros ordenou que ele se juntasse aos profissionais mesmo depois de Márcio Araújo, técnico dos juniores, o havia colocado na reserva na categoria. O garoto convenceu Telê de que Valdir tinha razão em seus primeiros treinamentos com o time principal.

“Quando ele chegou, fez uns dois treinos e foi aprovado [por Gilberto Geraldo de Moraes, então preparador de goleiros da base]. Logo o trouxe para perto de mim. Senti que poderia ser um grande goleiro e iniciamos uma relação de confiança que dura até hoje”, justificou Valdir. “Falei para o Telê: ‘vamos deixá-lo no profissional que esse moço pode ter uma carreira muito bonita’. Tive sorte e acertei.”

Ídolo no Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Ídolo no Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes se emociona ao recordar o início da carreira de Ceni (Foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Mais do que garantir a beleza, Valdir acabou plantando a semente de um dos diferenciais da trajetória de Ceni: a batida na bola. “Quando ele chegou, seu tiro de meta nem passava do meio-campo”, gargalha o preparador, em versão confirmada por Rogério, que pedia para o zagueiro Sérgio Baresi recolocar a bola em jogo da pequena área.

Dono de lançamentos quase impecáveis com seus pés, Valdir, que inventou a preparação específica de goleiros no fim dos anos 1970, acabou tendo em Rogério seu melhor aluno. Exigiu dele uma perfeição na reposição de bola com passe de qualidade superior à de atacantes. O ‘aluno’ treinou tanto que foi aprovado com louvor, a ponto de bater faltas e se tornar o goleiro com mais gols na história do futebol mundial.

“Na escola ou em qualquer lugar, em uma turma de 20 estudantes, o professor dá sempre a mesma matéria e dois ou três vão se sair melhor. Comigo também é assim no futebol. O Rogério foi quem melhor desenvolveu essa batida na bola de todos os goleiros com quem trabalhei. Adquiriu a perfeição, é quase impecável. Dificilmente erra. É a prova de que, com treino, dedicação e carinho, é possível atingir a perfeição”, orgulha-se o professor.