Rogério Ceni: ame-o ou odeie-o, mas sempre o respeite!

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UOL

Rubens Chiri

Rubens Chiri / São Paulo FC
Obrigado, capitão!

 

Final do Campeonato Paulista de 1998. Naquele dia, Raí retornava ao Morumbi, dessa vez com a camisa 23. Todos os olhos estavam nele, que abriu o placar. O Corinthians empatou. Comandado por Denílson, o São Paulo foi para o ataque e venceu por 3 a 1, com dois gols de França. No meio da comemoração pelo título, um senhor disse ao seu neto:

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Esse menino, o Denílson, nos daria muitas alegrias se continuasse aqui, diferente desse goleiro

 

O tal goleiro era Rogério Ceni. Naquele dia, fez boas defesas, mas falhou no gol adversário que poderia ter tirado o título do São Paulo. Para muitos torcedores tricolores, ele era uma ponte entre o saudoso Zetti e um novo goleiro que viria a ser contratado. Ainda inseguro, falhava muito, apesar de já alegrar a torcida com suas cobranças de falta e boas defesas. Naquele domingo de maio, ele era só mais um jogador do Tricolor.

 

Sobre aquele senhor, era meu avô. Eu era o menino. Ouvi atentamente as palavras dele, o homem que me apresentou o São Paulo Futebol Clube e me fez amar esse time. Ele nos deixou um ano depois e não pode se arrepender de ter dito aquelas palavras. Queria eu que pudesse, pois perdeu bons momentos do Tricolor, muitos deles graças ao goleiro cornetado.

 

Em 1998, Rogério Ceni não era unanimidade, isso é fato. E demorou para ser. Precisou de um golaço na final do Paulistão de 2000 para mudar o jogo a seu favor. Ali descobrimos que aquele goleiro poderia nos ajudar de outras formas além das convencionais, com as mãos. Caiu nas graças da torcida para nunca mais sair.

 

É verdade que parte de sua carreira foi com um São Paulo que não conquistava grandes títulos. Mesmo assim, se esforçava de todas as formas possíveis e se tornou um símbolo da equipe. Nunca poderemos negar que Rogério se esforçava como ninguém, do primeiro ao seu último dia no clube. Um exemplo para outros atletas.

 

Seu amor pela camisa também sempre orgulhou o torcedor. Não há registro de uma partida de má vontade de Rogério Ceni. Erros acontecem, sim, mas quem nunca errou na vida, né? Só de pensar que nunca mais veremos ele saindo do gol para reclamar com um árbitro dá um aperto no peito, uma gigante saudade. Talvez por isso tenha ficado marcado com adversários, jornalistas e muitas outras pessoas. De personalidade forte, sempre quis vencer, fez de tudo para isso, às vezes usando artimanhas surpreendentes. O atleta competitivo, ambicioso, que sabia articular frases e pensar fora da caixinha rapidamente virou o arrogante e mala. Era a ovelha negra no meio dos boleiros.

 

E isso fez Rogério Ceni ser mais visado. Logo seus gols e defesas ficaram de lado e suas opiniões passaram a ser mais importantes. Os rivais passaram a comemorar suas falhas mais que os gols de suas equipes. Qualquer coisa virou motivo para implicância com o goleiro tricolor. Em paralelo, nascia o Mito. Não sou totalmente a favor do apelido, mas lembro daquela partida contra o Liverpool e mudo de opinião.

 

Aliás, queria ter visto a final do Mundial com meu avô, o mesmo que reclamou de Rogério Ceni em 98. Sete anos depois, já titular absoluto e capitão do São Paulo, ele tinha um objetivo simples: ser campeão do mundo com o clube de seu coração. E fez uma atuação de luxo, parando o Liverpool de todas as maneiras. Não há são-paulino vivo que consiga esquecer aquela partida. E só isso já é motivo mais do que suficiente para respeitá-lo.

 

Divido a passagem de Rogério Ceni pelo São Paulo em “antes da lesão” e “depois da lesão”. Em 2009, se machucou e voltou diferente. As falhas aumentaram, as lesões se mantiveram, a idade pesou. Mesmo assim, por insistência ou amor pela camisa, se manteve no clube até onde deu. E esse dia chegou.

 

Hoje, diante de mais de 50 mil são-paulinos, Rogério Ceni dará seu adeus ao futebol. Será estranho não ver mais seu nome na escalação do time, como foi durante quase toda minha vida, por mais de mil jogos. Será esquisito olhar para o campo e não encontrar mais aquela liderança de nosso goleiro, o jogador que marcou a minha vida.

 

Se meu avô me apresentou ao São Paulo quando eu era criança e me deixou logo em seguida, coube a Rogério Ceni me manter apaixonado pelo clube. E ele soube fazer isso perfeitamente.

 

É obrigação de todos os fãs de futebol prestarem reverência para Rogério Ceni. Acreditem ou não, ele é um caso raro e talvez nunca mais vejamos alguém se dedicar tanto a um clube, com números e feitos tão incríveis. Ele não precisa ser comparado com outros goleiros, não há necessidade pois cada um tem sua história, mas no São Paulo Futebol Clube ele reina absoluto e isso precisa ser valorizado, ainda mais com o tamanho deste clube.

 

Obrigado por tudo, Rogério, tenha seu merecido descanso. Nunca esqueceremos de você, gênio!