São Paulo reduz salários, tira luvas e muda promoção de garotos no clube

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

Agora, promessas tricolores ganham até R$ 10 mil e processo de integração ao grupo profissional tem mais de uma etapa: tudo para substituir a acomodação pela “briga”.

No último sábado, o volante Banguelê, o meia Lucas Fernandes e o atacante Joanderson, destaques do time eliminado nas quartas de final da Copinha, treinaram com o time profissional do São Paulo no CT da Barra Funda. Isso não significa que eles subiram. Esse processo, agora, é mais lento, gradativo e passa por observações mais profundas, e de diversas áreas.

Essa é uma das mudanças que o departamento de futebol vem promovendo na base tricolor. A redução do patamar salarial, a extinção das luvas (prêmios pagos pela assinatura de contrato) e da cessão de percentuais aos atletas ou a seus agentes nas renovações contratuais, são outras. Além de economizar, o clube quer acabar com a sensação que o CT de Cotia passou por muitos anos: um lugar magnífico, mas que estimulava a acomodação, e não o desejo de evolução em seus garotos.

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Audax x São Paulo Copa SP Joanderson Banguelê (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)Joanderson e Banguelê, no primeiro plano, treinaram com Bauza (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)

Neste time que disputou a Copinha, e será base para a Libertadores sub-20, a partir do fim deste mês, o teto salarial é de R$ 10 mil. De acordo com a diretoria, o salário médio de um garoto que se destacasse durante as categorias de base, à essa altura de sua formação, girava entre 25 e 35 mil reais. O diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira calcula uma economia de 1,5 a 2 milhões de reais em cada contrato, num período de cinco anos.

– Reduzimos patamares de renovação. Há dois anos, o São Paulo pagava, em média, de 200 mil a 300 mil reais de luvas para garotos promissores, e salários de 20 mil, 35 mil reais. Padronizamos a remuneração em até 10 mil reais, não há luvas, e existem bonificações dentro do contrato. Se subiu ao profissional e jogou um certo número de partidas, ganha aumento. Se chegar a um outro número determinado, novo aumento e bônus. Isso garante um tratamento mais isonômico, evita paternalismos, (acaba com) “gosto mais desse do que daquele” – afirmou o diretor.

A maioria dos contratos também teve seus períodos reduzidos. Em vez de cinco, em regra, são renovados por três anos. O intuito é reduzir passivos de atletas que acabam não vingando. Como era feito antes, aos 20, 21 anos, jovens viviam num ciclo de empréstimos, quase sempre com os salários sendo pagos pelo São Paulo, que só terminava ao fim do contrato de cinco anos. Ou seja, muito tempo gastando dinheiro para garotos vestirem outras camisas.

Inácio, lateral-esquerdo São Paulo, Copa São Paulo (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)Lateral-esquerdo Inácio foi um dos destaques da Copinha (Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net)

– Eu evito distorções e coloco estímulos para o atleta se desenvolver. Ele precisa conquistar espaço no São Paulo para merecer a remuneração. Esse contrato estimula a briga pro espaço, o anterior criava satisfação. O garoto com 18 anos ganhava 30 mil reais e tinha 200 mil na mão, a família já estava feliz, ninguém queria mais nada. Agora colocamos energia – justificou Gustavo.

O diretor também diz que não negocia percentuais em renovações. Se o clube tiver 70%, por exemplo, manterá o mesmo pedaço da fatia.

Nem todos os jogadores que disputaram a Copinha, entretanto, pertencem ao São Paulo. Alguns vieram por empréstimo, mas todos com opção de compra e valor estipulado. São os casos de Jeferson, Shaylon, Artur, e de Banguelê, capitão do time e utilizado por Bauza no treino do último sábado. É muito provável que, ainda neste mês, o clube adquira o jogador definitivamente.

O instrumento da “opção de compra” tem sido um dos elementos de contrapartidas esportivas que o Tricolor pede em variados tipos de negociações. Quando empresta um garoto a um clube menor e tem de pagar seus salários, por exemplo, exige em troca o empréstimo de um jovem nesses moldes, com valor pré-determinado de compra.

Banguelê, para ficar de vez com os profissionais, terá que agradar a Bauza, ser convocado para mais treinos, ser alvo de debates entre os dois centros de treinamento, sempre acompanhados pelo coordenador Rene Weber… Esse processo será comum a qualquer atleta. Em fevereiro, depois da Libertadores da categoria, a comissão técnica discutirá mais a fundo quem aproveitar.

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