Análise: substituição ousada de Bauza faz São Paulo ficar perdido em campo

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

Troca de volante por atacante, normalmente reverenciada pela torcida, bagunça time treinado desde início da pré-temporada e cria buraco enorme no meio-campo tricolor.

Hudson por Calleri. Quando um técnico tira um volante e põe um atacante, a torcida costuma gostar. Soa ofensivo, corajoso, transmite certo inconformismo com o resultado. Mas nem sempre é benéfico ao time. Na quarta-feira, especialmente, a substituição de Edgardo Bauza no intervalo da partida contra o The Strongest foi um desastre para o São Paulo: bonitinha, mas muito, muito ordinária – o time boliviano venceu por 1 a 0, no Pacaembu, na abertura do Grupo 1 da Taça Libertadores da América.

São Paulo x The Strongest Edgardo Bauza (Foto: Marcos Ribolli)Edgardo Bauza acompanha a atuação do São Paulo no Pacaembu: no intervalo, foi obrigado a mexer (Foto: Marcos Ribolli)

Até o fim do primeiro tempo, o Tricolor era um resumo daquilo que havia demonstrado em 2016. Tinha atitude, postura de quem queria vencer, apresentava problemas individuais e coletivos de definição, alternava bons e maus momentos, mas era um time. Tinha cara de time e sabia o que queria.

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O rompante de coragem do Patón quando Hudson saiu, com incômodo na coxa, custou caro. Não que o gol boliviano tenha sido uma consequência da alteração, já que saiu numa jogada ensaiada, mas o segundo tempo retratou os piores 45 minutos do São Paulo sob o comando do técnico argentino.

A explicação é simples. Pela primeira vez, ele alterou radicalmente o que vem fazendo desde o dia 6 de janeiro. Taticamente, o São Paulo é tão bem definido que anda na linha tênue entre a organização e a previsibilidade: 4-2-3-1 com os mesmos jogadores de sempre, mas calcado na passagem de seus laterais e nas triangulações dos meias com os homens de lado.

Com um atacante no lugar de um volante, a ideia era recuar Thiago Mendes para primeiro homem de meio, Ganso para segundo, abrir ainda mais Michel Bastos e Centurión, e deixar Calleri e Alan Kardec centralizados. O esquema não mudaria. A prática contrariou a teoria.

campinho São Paulo The Strongest (Foto: Arte: GloboEsporte.com)São Paulo teve buraco no meio após mudança no intervalo (Calleri no lugar de Hudson); laterais ficam bloqueados

Bagunçado, o São Paulo virou um 4-1-buraco-3-2. Thiago Mendes cumpriu a ordem de se fixar à frente da linha defensiva, mas em péssima atuação técnica, confuso a ponto de levar uma bronca de Mena, que pediu sua projeção à frente para poder fazer o passe. Ganso ficou num meio termo, entre as funções de recuar para receber a bola como volante, ou transitar na linha de três, entre Michel Bastos e Centurión (depois Rogério).

São Paulo x The Strongest Calleri (Foto: Marcos Ribolli)Calleri tenta escapar da marcação do time boliviano no segundo tempo (Foto: Marcos Ribolli)

Ganso, justiça seja feita, foi o melhor jogador brasileiro em campo. Só os seus passes eram capazes de quebrar a marcação adversária. O time não o acompanhou.

Nesse buraco, por várias vezes, os jogadores abriam braços, pediam opções. A subida dos laterais, arma deste Tricolor-2016, também ficou prejudicada. Mena e Bruno encontravam uma parede, já que o excesso ofensivo abriu homens de frente e bloqueou o acesso de quem vinha de trás.

No primeiro tempo, as melhores chances criadas pelo São Paulo, aquelas nas quais o time brasileiro envolveu o The Strongest, tiveram Thiago Mendes transpondo as linhas de marcação boliviana em velocidade. Ainda que estivesse numa noite muito ruim, o volante exercia esse papel. Por isso, se Hudson – bem no jogo – precisasse mesmo sair, Wesley seria a melhor opção. Era preciso insistir sem perder a tal organização que tanto se prega.

Além da substituição bonitinha, mas ordinária, já passou da hora também do Patón calcular os efeitos da manutenção de Centurión na equipe. Protagonista de um lance constrangedor no primeiro tempo, quando recebeu um presente do goleiro e não soube o que fazer, o argentino não justifica tamanha insistência em sua escalação. Há jogadores melhores no banco.

Nas próximas semanas, haverá um hiato sem Libertadores – o próximo jogo será no dia 10 de março –, então Bauza poderá testar alternativas para que o São Paulo não seja refém de um só esquema ou de um ou outro jogador. Com mais lógica do que ousadia gratuita.

2 COMENTÁRIOS

  1. Não adianta negativar quem critica o Patetón não. O cara tá errado o ponto final.

    Escala muito mal,substitui mal, coloca o time nessa tática falida.

    Num deixa nem Caramelo no banco sendo que vem fazendo muito mais que Bruno que não acerta um cruzamento. Deixa Rogério no banco pra jogar com Centurion. Comissao técnica fica com essa viadagem de deixar Lugano e Maicon aprimorar forma física. Porra! Os caras não estavam jogando assim nos seus ex-clubes? Coloca os cara pra jogar.

    E essa tática lixosa 4-2-3-1, de time de 4ª divisão aqui do Comercial de RP. Isso não é tatica pro SP.

    Já cansei de dizer tática é 3-4-3 e 3-5-2. Olha qual foi a tática que o The Strongest jogou: 3-5-2. Tática de vencedor, tática de campeão! Porra!

    Com o atual time, o Bauza deveria escalar assim:

    ——————– Renam ——————–
    ——- Lyanco – R.Caio – Maicon ——-
    ———— Hudson – T.Mendes ———-
    Auro —————————— Carlinhos
    ——————- Ganso ———————
    ———- Calleri ——– Rogério ———-

    Auro e Carlinhos devem ser os alas nesse esquema, pois rendem muito mais atacando, já que são deficientes na marcação.