Leco responde Abilio: ‘Interesses mesquinhos e vaidades mal administradas’

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ESPN.com.br

Rafael Valente

Divulgação

Abilio Diniz em visita ao CT de Cotia há alguns anos
Abilio Diniz em visita ao CT de Cotia há alguns anos

Alvo de críticas de Abilio Diniz, membro do conselho consultivo do São Paulo, o presidente tricolor, Carlos Augusto de Barros e Silva, reagiu em um e-mail enviado aos conselheiros na noite da última segunda-feira, ao qual o ESPN.com.br teve acesso, classificando a atitude como “interesses mesquinhos” e “vaidades mal administradas”.

O episódio é visto pelos conselheiros como mais um capítulo do racha existente no clube. Antes aliado da atual gestão, Abilio Diniz tem criticado a conduta dos cartolas em sua coluna no portal UOL. Já acusou Ataíde Gil Guerreiro, vice de futebol, e o gerente Gustavo Vieira de Oliveira de conhecerem pouco do esporte e não terem conhecimento sobre gestão.

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Também escreveu que a “cadeira da presidência” fez mal para Leco e reclamou que as auditorias da PricewaterhouseCoopers (PwC) e McKinsey, ambas financiadas por ele, têm encontrado dificuldades para trabalhar. “Elas não conseguem informação nem espaço para trabalhar no futebol. Parece não haver interesse dos atuais dirigentes na abertura para coisas novas e na transparência”, escreveu.

SERGIO BARZAGHI/Gazeta Press

O presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco

Detalhe: na última sexta-feira, dia 12, Abilio Diniz encaminhou o conteúdo de sua coluna (com o trecho acima) aos conselheiros por e-mail. A mensagem provocou a reação de Leco, que enviou um e-mail para todos os conselheiros às 20h01 da última segunda-feira, dia 15. Ao longo de cinco parágrafos, ele rebate acusações de Abilio Diniz, embora não tenha citado o nome do empresário vez alguma, e defende as ações da gestão atual.

“A transparência é um dos pilares dessa gestão. É algo, além do mais, que vem sendo praticado no dia a dia da administração, com resultados palpáveis. É esta gestão, e mais ninguém, quem respalda o trabalho e dá legitimidade às auditorias que vêm sendo realizadas pelaPricewaterhouse e pela McKinsey, visando os interesses do São Paulo. São desprovidas de fundamento, portanto, as ilações de que o departamento de futebol estaria dificultando um trabalho que é do nosso total interesse”, escreveu o presidente.

“Dificuldades existem, e sempre existirão. Serão enfrentadas com desassombro, austeridade e perseverança. Não nos desviaremos do nosso caminho. Não ficaremos inertes nem calados diante de tentativas de tumultuar o ambiente político do clube (pois é disso, afinal, que se trata) em nome de interesses muitas vezes particulares ou mesquinhos que se escondem por trás de vaidades mal administradas”, afirmou em outro trecho do e-mail (veja o conteúdo completo ao final da reportagem).

DESUNIÃO

A troca de e-mails expõe um racha que os conselheiros dizem ter iniciado em novembro do ano passado, quando Leco demitiu Alexandre Bourgeois, então CEO tricolor, e irritou Abilio Diniz. O executivo já havia sido demitido pelo antecessor de Leco, Carlos Miguel Aidar, mas foi recontratado por Leco, mas acabou durando mais 21 dias.

Bourgeois era indicação de Abilio Diniz e sua vinda ao clube tinha como objetivo desenvolver um projeto capaz de profissionalizar a gestão do clube e ajustar as finanças. A proposta dele era a criação de um conselho gestor, do qual o próprio presidente do São Paulo seria o chefe. Abaixo desse conselho gestor estariam o CEO, todos os vice-presidentes (cargos ocupados por conselheiros) e os executivos, que seriam contratados para administrar cada um dos departamentos chaves do clube. Abilio Diniz é defensor desse modelo porque entende que ele descentraliza as tomadas de decisões e torna o clube mais profissional.

Outro motivo que causou o desgaste entre Abilio Diniz e Leco é Milton Cruz. Funcionário do São Paulo desde 1994, o trabalho dele é muito elogiado pelo empresário. No entanto, a determinação da diretoria para que Milton Cruz assumisse o recém criado departamento de análises de desempenho e deixasse o cargo de coordenador técnico não agradou Abilio Diniz, que chegou a comunicar isso ao presidente.

Com a mudança de cargo, Milton Cruz teve de se afastar do dia a dia do futebol (não fica mais no banco de reservas, por exemplo) e isso gerou até críticas de Abilio Diniz.

Segundo conselheiros consultados pela reportagem, Abilio Diniz tem colaborado com o São Paulo desde a saída de Aidar, que renunciou em 13 de outubro. O financiamento das auditorias, cujo objetivo é desvendar problemas financeiros das últimas gestões, é bastante elogiado pelos membros do conselho deliberativo.

VEJA NA ÍNTEGRA O E-MAIL DE LECO AOS CONSELHEIROS

Caros Conselheiros,

Em nome do compromisso com a verdade e do respeito que tenho pelo Conselho Deliberativo, que tive a honra de presidir e ao qual pertenço há mais de 20 anos, sinto-me na obrigação de prestar estes esclarecimentos a fim de repor algumas coisas no devido lugar. Falo com a franqueza que me caracteriza.

Essa gestão completou 100 dias. Neste curto período, são inegáveis os avanços em relação ao quadro que herdamos da administração anterior. Entre os sócios, na comunidade de Conselheiros, entre os funcionários, na nossa imensa torcida, na imprensa especializada, em toda parte há a percepção e o reconhecimento de que o São Paulo mudou, e mudou para melhor. Recobramos a seriedade do clube, sem o que nada se faz. Cortamos custos, estamos revendo contratos, voltamos a obter patrocínios que haviam sido afugentados pelo clima de insegurança e suspeição, hoje superadas. Estamos promovendo uma reformulação abrangente e meditada do nosso futebol, com frutos que já começam a ser vistos, mas cujo alcance e propósito são de longo prazo.

Tais mudanças, obviamente, contrariam interesses ou podem ser mal compreendidas. Eu nunca me furtei ao diálogo. Mas nada e nem ninguém irá me desviar dos compromissos assumidos em meu discurso de posse. A transparência é um dos pilares dessa gestão. É algo, além do mais, que vem sendo praticado no dia a dia da administração, com resultados palpáveis. É esta gestão, e mais ninguém, quem respalda o trabalho e dá legitimidade às auditorias que vêm sendo realizadas pela Pricewaterhouse e pela McKinsey, visando os interesses do São Paulo. São desprovidas de fundamento, portanto, as ilações de que o departamento de futebol estaria dificultando um trabalho que é do nosso total interesse. Fui informado pelos dirigentes da área, o Vice-Presidente Ataíde Gil Guerreiro, o Diretor Rubens Moreno, e o Gerente-Executivo de futebol Gustavo Vieira de Oliveira, de que todos os documentos solicitados foram e continuam sendo postos à disposição dos auditores. Essa é a minha orientação e assim será feito. A profissionalização e a modernização da gestão do futebol do São Paulo são parte fundamental e estão comprometidas com a transparência da administração como um todo.

Dificuldades existem, e sempre existirão. Serão enfrentadas com desassombro, austeridade e perseverança. Não nos desviaremos do nosso caminho. Não ficaremos inertes nem calados diante de tentativas de tumultuar o ambiente político do clube (pois é disso, afinal, que se trata) em nome de interesses muitas vezes particulares ou mesquinhos que se escondem por trás de vaidades mal administradas. O São Paulo realmente não tem dono, mas tem, sim, um Presidente legitimamente constituído pelo voto, em vitória consagradora, que irá exercer suas prerrogativas na plenitude do cargo, sempre estimulando o diálogo e o respeito em relação ao Conselho, aos sócios e à imensa nação tricolor. O São Paulo é maior do que todos nós, que estamos aqui para servi-lo e para honrar a sua história.

Está próxima a oportunidade de nos encontrarmos na reunião do Conselho Deliberativo, a se realizar no próximo dia 23, quando teremos a possibilidade de conhecermos e discutirmos todos e quaisquer assuntos de interesse do São Paulo. É lá, no foro próprio, que abordaremos todos os temas, esclareceremos todas as dúvidas e questionamentos, responderemos tudo o que o Conselho quiser saber. Nossa resposta será dada aos Conselheiros, legítimos responsáveis pela grandeza do São Paulo.