Ex-Palmeiras relembra assédio do São Paulo: ‘Era mais desejado que mulher bonita no baile’

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ESPN.com.br
Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini

Andre Cunha Treino Palmeiras 07/02/2005
André Cunha durante treino do Palmeiras, em 2005. Hoje, ele joga a Série A-2 do Paulista

André Gustavo Cunha vive os últimos tempos de sua longa carreira no futebol, que começou no final dos anos 90. Hoje atuando pelo pequeno Batatais, grande surpresa da Série A-2 do Campeonato Paulista, o lateral e meia viveu seus tempos áureos no meio dos anos 2000, quando, após ser uma das revelações do Campeonato Brasileiro pela Ponte Preta, em 2004, assinou contrato com o Palmeiras.

O que muitos não sabem, porém, é que por pouco André Cunha, hoje com 37 anos, não vestiu a camisa do São Paulo e virou o “novo Cicinho”, como ele mesmo conta.

“Eu sempre fui mais meia do que lateral, mas o Estevam Soares me colocou para jogar de lateral na Ponte e eu fui muito bem em 2004. Aí chegaram muitas propostas: Santos, Atlético-PR, Vitória, Fluminense e Palmeiras. Rapaz, nessa época eu estava mais desejado que mulher bonita no baile (risos)!”, lembra, ao ESPN.com.br.

“Só que aí um dia o São Paulo me ligou, por meio do Milton Cruz, e disse que queria que eu fosse pra lá. Pediram para ter paciência, porque eu iria ficar um tempo na reserva do Cicinho, mas depois que ele fosse vendido eu seria titular, o novo Cicinho. Engraçado que nessa época eu nem tinha empresário, o pessoal ligava direto no meu celular. Jantei com uns oito empresários diferentes até assinar com o Juan Figger”, conta.

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Como no Palmeiras a titularidade era certa, porém, Cunha acabou indo para o Palestra Itália, onde ganhou a camisa 2 e foi titular na temporada de 2005, indo bem principalmente no Brasileirão, torneio no qual a equipe alviverde terminou em 4º lugar. Na Libertadores, porém, os palmeirenses acabaram caindo justamente para o São Paulo. Por ironia do destino, justamente com um golaço de Cicinho no primeiro jogo das oitavas de final.

André, porém, garante que não se arrepende de ter escolhido o Palmeiras, clube no qual alcançou fama nacional e teve oportunidade de jogar com grandes nomes. De sua passagem pelo Parque Antarctica, também guardou uma série de histórias curiosas.

“Quando cheguei, não estava acostumado com aquele assédio, tudo grande, um monte de repórteres (risos). Fui muito feliz no Palestra, sempre me trataram muito bem e me colocaram o apelido de ‘Tocha’, porque sou meio ruivo. Tive a oportunidade de jogar com grandes caras, como o Marcos, o Sérgio, o Gamarra, muitos outros”, recorda.

Sua melhor anedota dos tempos palmeirenses envolve justamente o “Santo”.

“Estávamos jogando na Venezuela contra o Deportivo Táchira e ganhando de 2 a 1. Faltando uns dois minutos para o fim, o refletor quebrou bem ao lado do Marcos. Ele queria parar a partida, mas eu falei pra seguir, disse que já estava acabando. Aí ele ficou puto: ‘Tá louco, André? Eu já não enxergo no claro, imagina no escuro! (risos)’. Ele é muito figura (risos). No final o jogo seguiu e nós seguramos a vitória”, relata.

Após deixar o Palmeiras, em 2006, Cunha passou pelo Fortaleza e diversos times do interior paulista nos anos seguintes. Entre 2008 e 2009, aventurou-se em Angola, onde viveu experiências tristes e alegres defendendo o Recreativo do Libolo.

“Fui sozinho para Angola. Não sabia nem que tinha futebol lá, mas, como era para ganhar em dólar, aceitei e fiquei um ano e meio. É um país muito diferente, a pobreza é muito grande e as pessoas vivem muito mal. Fiquei bem baqueado com várias coisas. Quando saíamos dos jogos, a gente dava garrafas de água para as crianças, e eles disputavam no tapa, porque era água potável. Era doído demais ver isso”, conta.

FERNANDO PILATOS/Gazeta Press

Andre Cunha Apresentacao Palmeiras 18/01/2005
André Cunha em sua apresentação no Palmeiras

“E tem umas loucuras lá. Na rua, quem faz as unhas das mulheres são os homens, e no meio da rua, nada de salão. O pão tinha gosto de terra, porque a mulher batia o pão pra tirar a poeira da comida (risos). Mesmo assim, foi uma experiência muito boa, porque eles adoram os brasileiros lá. E, apesar da pobreza, carregam sempre um sorriso no rosto e são muito animados”, ressalta.

Quase foi jogador de basquete

Nascido em Araçatuba, no interior de São Paulo, André Cunha trabalhou por muito tempo em uma loja de conveniência de um posto de gasolina, mas sempre sonhou em ser jogador de futebol. No entanto, a habilidade em um esporte bastante diferente quase o levou a seguir carreira em outra modalidade.

DJALMA VASSÃO/Gazeta Press

Andre Cunha Palmeiras Anailson Sao Caetano 30/01/2005
André Cunha em ação pelo Palmeiras, em 2005

“Por causa do meu irmão, joguei basquete dos 12 aos 20 anos, junto com futebol. No basquete, fiz todas as categorias de base e disputei Jogos Abertos do Interior por Araçatuba, inclusive com profissionais. Eu era armador, porque era o que sobrava com a minha altura (risos)”, brinca o lateral/meia, que chegou a enfrentar um dos maiores jogadores brasileiros da atualidade em seu início de carreira.

“Joguei muito contra o Alex, da seleção brasileira e da NBA, que hoje está no Bauru. Ele jogava no Rio Preto e já era bom para caramba, canhotinho difícil de marcar. Era muito forte, sempre dava lavada na gente, porque todo mundo era magrelo, ninguém aguentava na dividida”, afirma.

No entanto, André virou mesmo jogador de futebol, começando na Penapolense, em 1999, quando o time estava na Série B2, então a 5ª divisão paulista. Depois, passou pelo Araçatuba antes de chegar à Ponte Preta e despertar o interesse do Palmeiras.

Experiente e com várias camisas no currículo, Cunha estava pensando em se aposentar quando recebeu a proposta do Batatais para disputar a Série A-2 deste ano. Apesar dos problemas enfrentados pelo “Fantasma da Mogiana”, resolveu encarar o desafio, ao lado de outros jogadores experientes, como o volante Fábio Simplício, ex-São Paulo.

“Eu estava parado e me chamaram. Está complicado o mercado do futebol, mas deu tudo certo. Montamos um time pra não cair, mas foi uma surpresa esse nosso sucesso na briga pelo acesso, ainda mais com todos os problemas financeiros desse ano. Mas nosso time encaixou de um jeito que percebi que ia dar certo”, diz.

Divulgação/Batatais Futebol Clube

Andre Cunha Batatais Bragantino Campeonato Paulista Serie A2
André Cunha em ação pelo Batatais

Os problemas financeiros são as dificuldades de pagamentos que a diretoria do Batatais teve desde o começo do campeonato. Não à toa, a torcida tem feito “vaquinhas” (até mesmo durante os jogos) para arrecadar dinheiro e ajudar a bancar os salários dos atletas. Apesar disso, tudo vem dando certo para o “Fantasma”, que eliminou o favorito Bragantino (líder da primeira fase) nas quartas, e agora luta com o Mirassol pelo acesso à elite.

Já se preparando para a aposentadoria, André Cunha espera jogar até o o ano que vem, para aí poder pendurar de vez as chuteiras e curtir a família. A vontade de sua esposa e filho, aliás, era que ele já tivesse largado a bola faz tempo.

“Eu estou bem fisicamente, mesmo quando estava parado mantive a forma. Minha esposa queria que eu parasse de jogar, porque estou morando sozinho aqui e ela lá. Meu filho de cinco anos sente muita falta de mim, até falou assim: ‘Papai, quando você parar de jogar bola para eu ficar uns mil dias com você?'”, conta.

“Mas minha esposa me viu jogando e disse que eu estou bem, que tinha que aproveitar enquanto tinha pernas. Meu plano é jogar até o ano que vem, quem sabe conquistando o acesso e encerrando a carreira por cima, na primeira divisão do Paulista. Tive uma carreira muito boa, feliz, estou inteiro e aguento. Quero prolongar isso o máximo de tempo possível”, encerra.

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