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Patrick Mesquita
Entre o empate “sem sal” do dia 16 de março contra o Trujillanos-VEN e a partida da noite desta terça-feira (5) diante do mesmo adversário, no Morumbi, pela Libertadores, o São Paulo passou por mudanças consideráveis. Se dentro de campo ainda não é notável e o time encara um mau momento, fora a ideia é de renovação. E foi exatamente o desejo de oxigenar os conceitos que abriu espaço para o novo diretor de futebol, Luiz Cunha.
Há duas semanas, motivado por pressões internas e pelos resultados, o São Paulo reformulou parte dos cargos diretivos. Assim, Rubens Moreno deixou a direção de futebol para a entrada de Cunha. Aos 63 anos, o industrial da área de embalagens tem grande experiência no comando da base tricolor, conquistando os títulos da Libertadores e da Copa do Brasil da categoria.
Foram exatamente os títulos que o credenciaram ao emprego. O novo diretor não é conselheiro são-paulino, não tem direito a voto e muito menos pode ser vice. Só que experiência e conhecimento em relação ao clube não faltam. Luiz está no São Paulo desde 1974, indo de sócio a cartola.
Agora membro da diretoria do profissional, Cunha começa a mudar o cotidiano do futebol tricolor. Mais presente do que antecessores no CT da Barra Funda – o que era um dos maiores desejos dos conselheiros -, ele tenta comandar com um estilo mais transparente, “conquistando” o elenco na base da conversa. E a postura não é apenas com o time. Ciente de que o momento não é dos melhores, o diretor se diz na obrigação de dar satisfação aos são-paulinos carentes de conquistas.
Luiz Cunha sabe que o reconhecimento da torcida em relação ao trabalho está ligado aos resultados dentro de campo. E a classificação para a próxima fase da Libertadores daria o fôlego necessário para o desempenho da função. Logo, uma vitória sobre o Trujillanos nesta terça-feira é mais do que necessária. Atualmente, o São Paulo ocupa o terceiro lugar no grupo 1, com apenas dois pontos, três a menos do que o segundo colocado River Plate-ARG.
Em entrevista ao ESPN.com.br, o novo diretor tricolor analisou a situação no torneio internacional, falou sobre as ideias para o clube e pediu um futebol à altura das tradições são-paulinas.
Confira a entrevista com Luiz Cunha:
ESPN: Você chega em um momento conturbado. A situação do São Paulo coloca te pressiona de alguma forma?
Luiz Cunha: Conturbado foi o momento anterior. Tivemos são-paulinos nadando contra o São Paulo, remando contra o barco. Saímos das páginas esportivas para outras não tão boas. Isso conturbou e sentimos isso quando chegamos aqui. Estamos trabalhando para que o São Paulo retome o ritmo normal de sempre.
Eu enfrentei muitos desafios profissionais. No São Paulo não porque sempre navegamos em águas tranquilas. Na vida profissional tive vários desafios. Isso não me assusta não, é estimulante.
ESPN: O Leco (presidente do São Paulo) te fez algum pedido especial quando te chamou para assumir o cargo?
Luiz Cunha: O Leco me conhece bem desde a base. De setembro para cá eu estava firme na base, enquanto o Leco estava no conselho deliberativo. Sempre conversamos. Ele sabe minha conduta, o que eu penso. Não houve pedido para eu ser diferente do que ele acha que eu sou.
ESPN: Como está o orçamento do São Paulo? O Edgardo Bauza fala em reforços para o meio do ano, mas há dinheiro?
Luiz Cunha: As finanças do São Paulo estão equilibradas, não estão sanadas. O nosso passivo não está pago, mas está equilibrado. Hoje temos uma gestão muito competente. O último contrato do Ataíde Gil Guerrero com a televisão nos deu estabilidade, e o próprio contrato nos dá uma garantia frente ao mercado financeiro de que os compromissos serão honrados. Então, estamos em uma situação estável. Claro que não podemos sair por aí querendo comprar jogadores caros. Outro dia eu disse que a minha escola de samba saiu um ano dizendo que tinha que tirar da cabeça o que não tinha no bolso. Ou seja, temos que usar a criatividade, usar de outros meios de trazer jogadores, como empréstimos, trocas e aproveitar a boa safra que nós temos no futebol de base.
ESPN: O departamento de análise de desempenho só deu informações sobre um jogador contratado, que foi o Kieza. O setor precisa evoluir?
Luiz Cunha: Por aí você vê que ele já funciona. Já nos deu informações sobre um jogador, está funcionando. Ainda está em desenvolvimento, em pouco tempo estaremos iguais a qualquer outro clube que tenha o departamento.
ESPN: Qual é a sua avaliação do trabalho do Bauza? Ele está em adaptação, mas está em um clube com histórico vencedor. Há cobrança?
Luiz Cunha: Minha avaliação é muito boa. Você lembrou que o São Paulo é um clube acostumado a vencer. O Bauza também. Ele venceu a Libertadores duas vezes com equipes que não são de ponta no cenário sul-americano. Isso quer dizer que ele é vencedor, com a história vencedora do São Paulo tem tudo a dar certo. A avaliação é muito positiva, gostamos muito dele e estamos apoiando integralmente.
Falta nosso time jogar à altura das nossas tradições
ESPN: As pessoas dizem que você é “linha dura”. Você acredita que o elenco precisa de alguém com um perfil assim para crescer?
Luiz Cunha: Não me considero linha dura e não acho que o elenco precisa de alguém com esse perfil. O elenco é muito bom, com pessoas são flexíveis, inteligentes e não precisam de pessoas de alguém com essa postura linha dura. Tenho dialogado, sentido algumas personalidades diferentes e isso você trata de forma a conquistar. É uma conquista todos os dias. A partir do momento em que tivermos uma relação mais estável, de acreditar uns nos outros, vamos melhorando o relacionamento e, com isso, a tendência é o grupo ganhar.
ESPN: Cinco pênaltis perdidos, indefinição sobre quem seria o capitão no começo do ano, desavenças sobre falar ou não com a imprensa. O Rogério Ceni tem feito falta para o elenco? Ele deveria ajudar de alguma forma na transição?
Luiz Cunha: Claro que faz falta, ninguém deixa de ter um Rogério Ceni sem sofrer a ausência dele. É uma coisa natural, outras lideranças surgirão, outros cobradores de falta e de pênaltis também. A liderança do Rogério era muito grande, sua personalidade muito marcante. Pelo gabarito técnico e de líder, estamos tateando até encontrarmos outros líderes. Acho que o Ceni aposentou e ele deve seguir a sua própria vida. Quem sabe em outro dia retornar em outra função.
ESPN: O Michel Bastos tem sido muito cobrado pela torcida, e você já deu declarações positivas sobre ele. Falta “carinho” do torcedor para entender o momento dele?
Luiz Cunha: Acho que falta o nosso time jogar à altura das nossas tradições. Quando isso acontecer, nenhum jogador do gabarito do Michel Bastos, com grande capacidade técnica, vai ser alvo de protesto. Quando a torcida está acostumada a ver o time ganhar e tem um intervalo na trajetória, normalmente se elege um vilão, que na verdade não é. Perdemos pênaltis, quem vai lá e pega a bola corre o risco de perder, mas só quem faz isso erra. Temos que ver por esse lado, de alguém que tem a coragem de representar o grupo e ir lá bater o pênalti.
ESPN: O que o time precisa fazer para bater o Trujillanos? Uma queda na Libertadores pode mergulhar o São Paulo em uma crise?
Luiz Cunha: Precisamos ver a real situação. Nossa situação na tabela é muito ruim. Precisamos ganhar as três partidas para depender apenas das nossas forças. Após isso, ver nossas possibilidades. Acho que temos plenas condições de vencermos esses adversários. O mais difícil tecnicamente é o River Plate. Se tirar da partida que jogamos lá, é muito provável de vencer aqui. O The Strongest tem o bom momento da equipe e a altitude a seu favor, mas acho que com a tecnologia e com a estratégia de chegar pouco antes da partida, podemos superar. Se você analisar jogador por jogador, podemos bater o The Strongest e, claro, o Trujillanos
A situação é muito difícil. Se você pegar a tabela, vai ver que temos poucas chances.
mais um zé ruela representando o tricolor…
que fase!