Ex-goleiro, criador de Jason reforça torcida do São Paulo na Libertadores

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GazetaEsportiva.net

Helder Júnior

Victor Miller está feliz porque Jason encontrou outra ocupação além de matar (foto: reprodução)
Victor Miller está feliz porque Jason encontrou outra ocupação além de matar pessoas (foto: reprodução)

Victor Miller tem uma espécie de dívida de gratidão com o São Paulo. Dos Estados Unidos, o roteirista do primeiro filme da consagrada série “Sexta-feira 13” viu o personagem que trata como filho – o assassino Jason Voorhees – enfim se regenerar como símbolo das ressurreições da equipe brasileira e herói dos torcedores que frequentam o Morumbi.

“Estou muito feliz que Jason tenha encontrado alguma coisa para fazer além de matar pessoas”, comentou Victor, um goleiro nos tempos de colégio, quando conversou com a Gazeta Esportiva, na última sexta-feira 20.

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Em uma troca de e-mails com a reportagem, o escritor de 76 anos, autor de outros 11 roteiros de filmes, de sete romances, dois livros não ficcionais e vencedor de três prêmios Emmy (pela série “All my children”) mostrou ainda que “Sexta-feira 13” é a sua obra com a qual mais se familiariza. “Victor Miller, o verdadeiro pai de Jason”, ele se identificou.

No Brasil, os torcedores do São Paulo adotaram o filho de Victor a partir de 2009, quando o time que era comandado por Ricardo Gomes assassinou os seus problemas para virar protagonista na disputa pelo título do Campeonato Brasileiro. O troféu acabou com o Flamengo, porém o terceiro colocado daquela temporada ganhou o eterno vínculo com Jason Voorhees como legado.

“Alguns anos atrás, fui informado que havia fãs do Jason no Brasil, mas ainda não sabia muito sobre o clube”, confessou o criador do personagem, que nem assim diminuiu a sua felicidade por ter inspirado uma torcida. “Sou muito orgulhoso por saber que o Jason vive nos corações dos fãs de futebol no Brasil. Nunca poderia imaginar isso quando estava escrevendo, em 1979.”

Na Libertadores, são-paulinos tiraram do armário as máscaras que proliferaram em 2009 (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Na Libertadores, são-paulinos tiraram do armário as máscaras que proliferaram em 2009 (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)

Victor também não havia previsto que Jason viraria um psicopata. No primeiro filme “Sexta-feira 13”, que tem a assinatura dele, o personagem batizado dessa forma em homenagem aos filhos do escritor (“Jason” é uma combinação de “Joshua” com “Ian”) pouco aparece. A grande vilã da trama é a sua mãe, Pamela, disposta a vingar a morte do menino, por afogamento no acampamento de Crystal Lake.

Nove sequências, um crossover (“Freddy x Jason”) e uma refilmagem mais tarde – não assistidos pelo roteirista de 1980 –, Victor ainda lamenta os 285 homicídios cometidos por Jason, que pretendia apresentar como uma vítima. Por isso, ao perceber que o personagem ganhou contornos de herói nos tons vermelho, preto e branco, ele não titubearia em também usar a famosa máscara de hóquei e vestir uma camisa do São Paulo com o número 13 às costas para agradecer pela retratação que o futebol concedeu à sua criação.

“Sim. Veramente”, bradou, ao ser questionado sobre a sua adesão à torcida do São Paulo na Copa Libertadores da América, com o cuidado de explicar que afirmou “certamente” em italiano por não saber se comunicar em português. No torneio continental deste ano, muitos são-paulinos como Victor Miller tiraram as suas máscaras de Jason do armário. Afinal, a equipe do argentino Edgardo Bauza também provou ser capaz de ressuscitar, matando a crise para alcançar as semifinais.

O filho de Victor Miller foi concebido como uma vítima no primeiro "Sexta-feira 13" (foto: reprodução)
O filho de Victor Miller foi concebido como uma vítima no primeiro filme da série “Sexta-feira 13” (foto: reprodução)

Os fãs do São Paulo e de Jason agora podem esperar um Victor Miller dedicado a agradar como reforço na Libertadores. Nascido em Nova Orleans, cidade de uma famosa equipe de futebol americano e outra de basquete, o escritor assegurou que sempre gostou de futebol. “Eu era goleiro no colégio”, contou, apesar de hoje ter pouco conhecimento para se juntar aos críticos de Denis e saudosos de Rogério Ceni. Ele prefere acompanhar os jogos com mais atenção apenas de quatro em quatro anos. “Ainda sigo times, especialmente em época de Copa do Mundo.”

Em 2016, dois anos após a Copa do Mundo do Brasil e dois anos antes da Copa do Mundo da Rússia, Victor Miller se contenta com uma série televisiva sobre futebol. “‘Club de Cuervos’ é o meu show favorito. É uma delícia, uma comédia sobre o terrível proprietário de um time no México”, recomendou o pai de Jason Voorhees, animado para ajudar a transformar a Copa Libertadores em outro roteiro divertido para o São Paulo – e aterrorizante para os adversários.