Como todo atacante, Getterson não gosta de ver a bola na trave. O som metálico, ao lado de uma grande defesa do goleiro, é o maior anticlímax possível para um jogador: o sorriso que se forma no rosto some em um décimo de segundo, a mão que se fecha para comemorar é levada à cabeça, o grito que vai sair da garganta desaparece na ponta da língua. Não é fácil.
Também não é fácil ter ao menos quatro oportunidades de ver a carreira deslanchar em clubes maiores e todas sumirem.
Getterson ficou mais conhecido no futebol nacional na última quarta-feira. Uma foto ao lado do peruano Christian Cueva anunciava: ele era o novo reforço do São Paulo. Saía do J. Malucelli, da Série D, direto para a Série A. Sem escalas. Mas, como todos sabem, a história foi outra: cerca de seis horas após ser anunciado, o acordo foi desfeito. No Twitter descobriram que ele torcia para o Corinthians e tinha feito uma postagem ofensiva ao time do Morumbi.
Bola na trave. Como nas outras vezes.
“Minha carreira começou aos 12 anos. Fui para o PSTC, de Londrina. De lá, fui para Atlético-PR e fiquei um tempo. Mas os times não entraram em acordo e eu voltei. Depois, fui para o Internacional e fiquei três anos. Joguei ao lado do Eduardo Sasha, do Alisson, Walter, Leandro Damião, Juan Jesus, Agenor… Nosso time era bem legal. Nosso técnico era o Osmar Loss. Minha saída foi chata pelo mesmo motivo. O Inter quis que eu ficasse, subisse para o profissional, mas não teve acordo. Eu tive que sair de novo”, contou em entrevista ao ESPN.com.br.
O jogador na sequência foi para o Coritiba. Mesma história. A outra parada foi o Oeste de Itápolis, o qual ele ajudou a subir da Série C para a Série B. Novamente não teve acordo com o PSTC.
“Todas as minhas saídas não foram pelo futebol, mas situação dos clubes não se entenderem. Daí comecei a rodar por times do interior do Paraná, como Toledo e o Cascavel. Estou no J. Malucelli faz quatro anos, eles que cuidam da minha carreira”, afirmou.
FAMÍLIA
Nascido nem Engenheiro Beltrão, Getterson tem na família um pouco do sangue de jogador. Um de seus tios chegou a jogar no Marília. Um irmão mais velho chegou a passar pelas categorias de base de Vasco e Corinthians, mas não seguiu a carreira de jogador.
Seu pai sempre foi bóia-fria, enquanto sua mãe, cozinheira. Por insistência do pai, que sempre quis vê-lo estudando, nunca foi trabalhar com ele.
“Meu pai nunca deixou faltar nada, apesar das dificuldades. Eu estudei e conciliei com o futebol, que me deu esperança de melhorar de vida. Quando vi que tinha possibilidade de jogar, meu sonho era tirar meus pais desta situação, dar uma casa própria para eles ficarem descansando.”
SÃO PAULO E FUTURO
Depois de assinar o contrato com o São Paulo, tirar foto e ser anunciado pelo clube, Getterson estava no quarto do CT da Barra Funda. Então, a situação mudou rapidamente.
“Um cara do marketing do clube me perguntou se eu tinha Twitter. Eu disse que não. Só que ainda eu lembrei que eu tive uma conta, mas não tenho nem mais a senha, a conta, mais nada. Daí eu fiquei sabendo o que estava acontecendo e a preocupação dele”, contou.
Um reunião rápida com diretores selou tudo. Por conta da pressão da torcida e toda repercussão, todos concluíram que o melhor era cada um seguir um caminho.
“Claro que eu gostaria de mostrar meu trabalho. Uns 20 minutos depois fiquei muito abalado, muito chateado, chorei muito. Era um sonho que eu tinha desde pequeno realizado. Do nada, uma brincadeira que fiz com um amigo no Twitter no passado me prejudicou no presente. Era uma oportunidade única de me destacar para o Brasil todo e acabou o meu sonho naquele momento”.
Getterson também diz que não se sentiu injustiçado com o episódio. Pelo contrário: ele agradeceu ao São Paulo.
“Estavam me dando uma grande oportunidade. O treinador me queria, fiquei feliz. Estava com muita vontade de mostrar que ele estava certo ao querer me contratar. Não tenho mágoa de ninguém, desde o momento em que pisei no clube fui muito bem tratado. Mas infelizmente alguém achou aquilo que aconteceu e não tive minha oportunidade”.
“Eu marquei uma reunião com meu empresário para ver se ele passa uma situação, mas não sei de nada. Se caso não vir nada, ficarei no Malucelli. Apesar de tudo de ruim que aconteceu, espero ter alguma oportunidade nova e que possa mostrar porque o São Paulo queria apostar em mim”, concluiu.
Afinal, uma hora o chute pode bater na trave e a rede, balançar.