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Pedro Cuenca
Quando Edgardo Bauza chegou ao São Paulo, muitos torcedores se perguntaram quem era aquele argentino. Foram precisos muitos programas de TV, muitas matérias em sites e também buscas pela internet para descobrir que o novo treinador do clube era conhecido na América Latina e bicampeão da Libertadores, com LDU (2008) e San Lorenzo (2014).
Não sabíamos, ao menos aqui no Brasil, o que esperar do trabalho de Patón no São Paulo. Era óbvio que ele mexeria na defesa, principalmente porque a do clube era uma bagunça e essa é sua especialidade. Por mais que o time não tenha engrenado no início, havia uma esperança de que ele poderia fazer o time jogar bem.
Os tropeços na Libertadores e a eliminação no Campeonato Paulista fariam qualquer técnico brasileiro ser demitido. Sério, qualquer um. O São Paulo, no entanto, decidiu aposta na continuidade do projeto de Bauza, talvez por um trauma pelo que aconteceu no ano passado com Osorio.
OK, não foi legal ver o Tricolor perdendo para The Strongest ou empatando com Trujilanos. Muito menos perdendo para o Audax por 4 a 1. Entendo, porém, que ali eram mais problemas dos jogadores do que do técnico. Patón estava fazendo o seu melhor ao comando do clube, mas não era correspondido. E a diretoria do São Paulo viu isso, lhe dando vários votos de confiança, o mantendo no cargo, por mais que muitos pedissem (e ainda peçam) sua cabeça. Ponto para os dirigentes tricolores.
O tempo passou, o São Paulo se achou na vida e chegou até a semifinal da Libertadores jogando bola de verdade, orgulhando sua torcida como há muito tempo não fazia. Passar do Atlético Nacional era uma missão complicada e não aconteceu por diversos fatores, mas nunca por culpa de Patón.
O problema é que seu sucesso aqui no Brasil acabou chegando na Argentina. O técnico foi convidado para comandar a seleção de seu país, na qual já defendeu em Copa do Mundo como jogador. A sensação de filme repetido bate na cabeça dos são-paulinos a cada momento.
Pausa. Vamos voltar para o ano passado.
Em 2015, o time contratou Juan Carlos Osorio. O colombiano vinha com novidades táticas e mudanças que prometiam revolucionar o time, como as constantes mudanças no time titular. Jogadores e dirigentes, atrasados que são, não gostaram muito. Houve um certo boicote ao treinador, rapidamente perseguido pelo presidente do clube, o pavoroso Carlos Miguel Aidar. Falhou, não deu certo. Quando foi convidado pela seleção mexicana, arrumou suas malas e foi ser feliz, longe da turbulência vivida pelo São Paulo na época.
Osorio ainda teve um grande problema. Com problemas financeiros, o São Paulo se desfez de mais da metade do elenco, o forçando a improvisar jogadores ou subir jovens meninos da base para a equipe principal. O time sentiu, claro, as mudanças e não fez um grande Brasileirão em muitas rodadas. Seu trabalho acabou sendo marcado com um asterisco porque poderia ter sido muito diferente.
Voltamos a julho de 2016.
Patón tem total apoio da diretoria. O desmanche não aconteceu com muitas peças, apesar das poucas que saíram serem importantes, como Ganso e Calleri. Mesmo assim, a base que começou o ano praticamente se mantém. Não há crise política no momento e o clube vive uma boa fase no geral, que pode ainda melhorar dependendo dos resultados no Brasileirão.
O São Paulo também foi atrás de reforços na última janela. Revirou a Argentina para trazer algumas peças e contratou (ainda não oficialmente) o sonhado lateral Buffarini, um sonho antigo de Patón quando chegou ao Brasil. O clube, querendo ou não, fez um baita esforço para atender as demandas do treinador, lhe tudo que foi possível. Talvez até como forma de agradecimento pela boa campanha na Libertadores e pela paz atual.
Se Patón virar as costas, mesmo que seja para assumir um sonho, acredito que não teria o mesmo carinho que o são-paulino teve com Osorio. O colombiano precisava sair porque não teria futuro naquele bagunçado cube de 2015, diferente do argentino agora em 2016. A continuidade do projeto de Patón tem que acontecer, para que Tricolor consiga mais e mais bons resultados, cada vez mais com a cara do treinador.
A passividade do São Paulo nesse caso talvez seja reflexo dessa confiança no treinador, acreditando que ele não interromperia o projeto na metade para se juntar a uma seleção argentina com problemas no comando e presidente indefinido. O problema é que muita passividade, porém, dá a impressão de desdém e os dirigentes precisam tomar esse cuidado.
Fica apenas a esperança de que “jerarquia” continue no Morumbi. Não só até o fim do ano, mas por muito tempo.