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Caíque Toledo
Depois de quase quatro anos, chegou ao fim o ciclo de Paulo Henrique Ganso no São Paulo. Como já esperado, o jogador foi anunciado pelo Sevilla e, neste sábado (16), já se despediu do CT da Barra Funda. O negócio? Belos 9,5 milhões de euros, sendo 4,5 para nós e 4,5 para a DIS — os 500mil restantes são do próprio jogadores. Ao todo, são quase R$ 35 milhões, valor justo para quem, a partir de março, já poderia assinar um pré-contrato e sair de graça.
Para o São Paulo, a saída de Ganso é o bem difícil de se lidar: sem o camisa 10, o time perde sua principal referência e, mesmo na inconstância, seu melhor jogador dos últimos anos. Ganso não foi a joia que se esperava dos tempos de Santos, mas, no Morumbi, se mostrou um ótimo jogador. Não dava, porém, para segurá-lo por aqui: Paulo Henrique sempre falou do sonho de jogar na Europa, e a chance de atuar em uma das maiores ligas, em um time forte e que normalmente exporta craques para os gigantes do conentinete, com um treinador que ligou por conta própria para convencê-lo a se transferir.
Nesses quatro anos, tivemos muito do melhor e do pior de Ganso. Apesar de muitas vezes nos irritar, o saldo é positivo, principalmente pelos últimos meses: o jogador que vimos em 2016 mostrou consistência, coletivismo e atuações dignas do melhor jogador do Brasil.
Quem não assiste jogos do São Paulo, ou mesmo quem assiste e tem má vontade, vai insistir em dizer que Ganso é enganação, que nunca mais jogou bem na vida, que acabou para o futebol ainda no Santos. É mentira, e das maiores. Nos últimos anos virou moda odiar o jogador, e, mesmo quando ele mostrava o contrário dentro de campo, a maioria não queria torcer o nariz.
Falar que Ganso não jogou bola no São Paulo é brigar contra o óbvio. Apesar de este ter sido o ano de mais destaque, o camisa 10 teve ótimas atuações em pelo menos outras três oportunidades — apesar da irregularidade, é claro, foi um jogador de fases. Primeiro no segundo semestre de 2013, quando, ao lado de Rogério, Rodrigo Caio e Aloísio, foi um dos poucos que se salvou da vexatória temporada são-paulina. Depois, após uma queda de rendimento, voltou bem na segunda metade de 2014: jogando ao lado de Kaká, foi o melhor jogador do time vice-campeão brasileiro e semifinalista da Sul-Americana, em suas melhores atuações com a nossa camisa até este ano. Veio 2015 e Ganso teve seus piores dias vestindo a camisa do São Paulo, e o desejo de sua saída se tornou praticamente uma unanidade. No entanto, melhorou muito na reta final e nos fez aceitar outra chance para a temporada seguinte.
Em 2016, Ganso voltou aos holofotes. Por falta de informação ou puro oportunismo, só lhe deram agora o destaque que já deveria ter tido em outras temporadas. Mas, assim sendo, brilhou: foi o melhor jogador do time na Copa Libertadores, teve atuações magistrais e voltou para a Seleção Brasileira, como Patón Bauza disse que faria. Não é coincidência: é premiação de um trabalho duro. Jogou muito por aqui, sim, e merece tudo o que está acontecendo em sua carreira.
Se encantou o mundo inteiro no Santos, Ganso se viu obrigado a mudar no São Paulo. A convivência com o ídolo Kaká, as broncas de Osorio e, principalmente, a disciplina de Bauza, tornaram o camisa 10 um jogador diferente. Hoje, ele não é só o meia clássico, parado em uma faixa do campo e esperando para dar o passe final: se tornou produtivo para o time. Ganso volta para marcar, é um dos maiores desarmadores da equipe, um dos líderes em distâncias percorridas e volta para buscar a bola com os zagueiros, fazendo todas as jogadas se iniciarem nos seus pés. Virou um jogador coletivo, que entendeu que o futebol não pode ser só magia. Não se enganem: um carrinho na lateral e palavras de incentivo e raça se tornaram frequentes para ele. Não é mais ‘morto’, ‘sem sangue’, ‘nulo’, ‘preguiçoso’, ‘dorminhoco’, o que falaram aos montes nos últimos tempos. É decisivo, é participativo, fundamental. É craque e ponto.
Falam do ”’baixo”’ número de gols e assistências ao longo da passagem pelo São Paulo, mas, entre nós, sabemos que analisar só por isso é coisa de gente que quer puxar sardinha a seu favor. Ganso se tornou muito mais que isso: é um meio-campista completo. Não é à toa que Sampaoli o escolheu a dedo para montar um renovado (e fortíssimo) meio-campo no Sevilla.
É bom que lembremos: Ganso não vai para o Real Madrid ou para o Barcelona, como apontavam em seu brilhante início de carreira, mas também não vai para um time qualquer, como insistiam em dizer aqueles que não davam o braço a torcer pelo futebol do jogador. Nas mãos de Sampaoli, Ganso tem tudo para, se não for o jogador de destaque que muitos esperavam, ter um papel fundamental em um dos principais times da Espanha — vice-campeão da Copa del Rey, quinto colocado do torneio nacional e atual tricampeão da Europa League.
Parece que foi ontem que Ganso surgiu no Santos, como um extraterrestre, teve atuações brilhantes e foi colocado como camisa 10 da Seleção Brasileira, logo aos 20 anos. O tempo passou. Hoje, Paulo Henrique tem 26, passou por muita coisa na vida, se reiventou como jogador e vai, enfim, ganhar sua chance na Europa. Mais maduro, com outra cabeça, e com menos pressão: o mundo precisa aceitar que ele nunca vai ser aquilo que se esperava quando surgiu no começo da carreira, mas, sim, que é um excelente jogador. E tem tudo para provar isso.
Voe, Ganso. Vá viver seu sonho, jogue com os melhores e ganhe o mundo. Sabemos que a tendência é que seus números sejam baixos, até pelo estilo de jogo que tens, mas não se abale com críticas: quem não tiver má vontade, vai enfim enxergar o craque que és. Enquanto isso, ficamos aqui, órfãos de toda essa genialidade com a bola nos pés. Espero em alguns anos cumpra a promessa e volte ao Morumbi para conquistar títulos. Nós cobraremos, e estaremos te esperando de braços abertos.