Amigos e amigas tricolores. Primeiro, perdão pela ausência das últimas três semanas. Algumas tarefas particulares tiraram-me do prumo. Mas é sempre bom retornar para tentar contar um pouco mais da história do São Paulo Futebol Clube. Digo “tentar” porque acredito que não sou tão indicado para isso. Existem muitos por aí que sabem muito mais da nossa gloriosa saga. Mas vivo tentando.
Aliás, esse espaço nasceu lá pelos idos de 2005 para contar a nossas glórias e, porque não, também as doídas derrotas – como essa da última quarta-feira. Aliás, poucos entendem o sentido da letra do hino do São Paulo. Por que “as suas glórias vêm do passado”? Ora, um grande clube só se torna importante para milhões de pessoas pelo seu passado de luta, de alegrias e de tristezas. É preciso reverenciar aqueles que lutaram pela nossa soberania, com sangue, lágrimas e suor para hoje usufruirmos da fama de clube mais vencedor do Brasil.
O nosso hino não foi feito, por exemplo, pela genialidade musical de Lamartine Babo, mestre da música brasileira e autor dos hinos dos cinco principais clubes do Rio (Flamengo, Vasco, Bota, Fluminense e América). Coube ao tenente da Força Pública (atual Polícia Militar), Porfírio da Paz, em 1935, escrever as tenras frases que deram origem ao hino tricolor. Em um momento de extrema tristeza e preocupação, depois de receber a notícia de que perderia sua casa por falta de pagamento, saiu pelas ruas cantarolando o que mais tarde seria o hino oficial do São Paulo Futebol Clube. Talvez falte musicalidade, mas não há ninguém que possa dizer que falta emoção e lágrimas.
Enfim, tudo isso para dizer que estou de volta com o “Memórias” aqui na SPNet, espaço de amigos fraternos e generosos. Textos feitos com carinho pelo abaixo-assinado, um jornalista e torcedor apaixonado pela belíssima história do São Paulo Futebol Clube. E hoje, mesmo ainda doído pela eliminação na competição que tanto gostamos e nas vésperas do Majestoso, relembraremos um jogo que poderá servir de exemplo para o nosso treinador Bauza: invista na molecada e deixe de lado figurões que nada nos dão. Em 1993, Paton, tínhamos um time de grandes jogadores juniores (hoje Sub-20) que depois nos deram alegria no profissional, como um tal de Rogério (que depois virou Rogério Ceni). Final da Copa São Paulo de Futebol Juniores: Pacaembu amarrotado para ver o Majestoso – São Paulo 4 x 3 Corinthians. O caneco dos meninos tricolores em uma tarde de glória de Rogério, Jameli, Catê, André, entre outros tantos, comandados pelo técnico Marcio Araújo. Reviva conosco, Paton!
No seu aniversário, a cidade comemora a vitória do clube mais querido
O dia 25 de janeiro de 1993 ficará marcado para sempre na história da cidade de São Paulo. Além da comemoração de mais um aniversário da cidade, a municipalidade pôde acompanhar no mais charmoso estádio paulistano, amarrotado com mais de 50 mil torcedores, um autêntico clássico do futebol brasileiro. E o mais saboroso ainda: ver o nascimento de futuros craques do nosso esporte bretão. E tudo em grande estilo.
O calor de 29º C não inibiu as duas equipes, técnicas e de grandes valores individuais. O time do Parque São Jorge trazia os habilidosos André Santos, Silvinho e Marques; já a equipe do Morumbi apresentava ao Brasil a segurança de um magro e esguio goleiro de nome Rogério. A habilidade do lateral canhoto André, a ginga do ponta Toninho (irmão do ídolo Sidiney), a velocidade impressionante de Catê e a precisão do artilheiro Jameli. Ingredientes para um jogaço.
O São Paulo era melhor, mais organizado em campo. Logo aos 16 minutos, saiu o primeiro tento tricolor. Pavão bateu lateral da direita, campo de ataque. Catê recebeu e devolveu ao lateral que, de primeira, cruzou para a área. O atento Jameli ganhou da zaga alvinegra e, de primeira, no alto, mandou um petardo para as redes adversárias. Um golaço com assinatura de gente grande! Um a zero!
Com o gol, o jogo pegou fogo. Era lá e cá. Chance de um lado, chance de outro. Numa bela jogada individual, Fabinho entortou a zaga tricolor e concluiu para uma bela defesa de Rogério. Mas o segundo tento são-paulino não demorou sair. Aos 31, Jameli fez bela jogada pela esquerda e tocou para Robertinho. O meia ganhou do zagueiro corintiano e tocou na saída do goleiro, com classe, a bola correu e ficou limpinha, macia, para Catê aumentar o placar: 2 a 0!
Três minutos depois, o Corinthians diminuiu. O bom meia Ricardinho (não aquele que jogou pelos dois clubes) fez bela tabela com Hermes. Da linha de fundo, cruzou para Marques (ídolo da torcida do Galo) fazer o primeiro dos alvinegros: 1 a 2!
Ao final da primeira etapa, Catê, que barbarizou o lado esquerdo do time do Parque, deu passe açucarado para Jameli, que, desta feita, pegou mal na bola. No contra-golpe, Marques foi lançado com categoria, ficando frente a frente com Rogério. O resultado? Claro, mais uma bela defesa daquele que se tornaria mais tarde um dos maiores nomes da dinastia tricolor.
No começo da segunda etapa, o Corinthians empatou. Hermes puxou pelo meio e, sem querer e após falha bisonha da zaga são-paulina, serviu a Marques que, com categoria, tirou um Sergio Baresi da parada e colocou o empate no placar: 2 a 2!
A partir daí, o São Paulo voltou a dar as cartas. Toninho barbarizava de um lado e lembrava os bons tempos do mano mais velho. Cate em dia de Cafu humilhava de outro. Já Jameli continuava levando perigo à meta do rival. Portanto, não demorou a sair o terceiro. Aliás, valeu pela jogada que lembrou a equipe de Mestre Teles: toques rápidos, evolventes. Letais. Jameli abriu na esquerda pra Toninho. O ponteiro esperou a passagem de André e rolou. O lateral cruzou para o meio da área e o zagueiro Gino empurrou o meia Robertinho: pênalti. Na cobrança, Jameli lembrou a categoria de um veterano ao cobrar forte, no canto direito do arqueiro Marcos: 3 a 2! Na sequência, André Santos reclamou da penalidade e foi expulso.
Com um a mais, ficou mais fácil. O São Paulo perdia um gol atrás do outro. Primeiro, com Catê; depois, com Pereira. Em seguida, foi a vez de Robertinho perder e, por fim, Catê, que perdeu mais duas chances de fechar o caixão corintiano. E como narrou o imortal Silvio Luiz na transmissão saudosa da Bandeirantes “o São Paulo está brincando com fogo”. E brincou mesmo. Aos 30, após cruzamento de Fabinho, e erro de Rogério, Caio César fez 3 a 3. Tensão no Pacaembu. Teríamos penalidade para definir o campeão?
Mas a tarde era mesmo do Maior do Mundo. Aos 34, o zagueiro Baré, de triste memória para eles, bateu um horroroso tiro de meta. A bola caiu nos pés de Robertinho. O meia abriu na direita para Catê. Desta vez, ele não deu mole: após belo drible de corpo, característica que se adquire no ninho tricolaço, serviu o nome do jogo, o iluminado do dia. Jameli não perdoou e colocou o quarto tento no placar e fez explodir em vermelho, preto e branco o caloroso Pacaembu: 4 a 3! Aí foi tocar a bola, dar totó, ouvir das arquibancadas os gritos de “olé” e correr para o abraço. A Copa São Paulo era do dono da cidade, do Brasil e do planeta.
São Paulo 4 x 3 Corinthians
Local: Pacaembu
Data; 25/01/1993
Juiz: Luis Antonio do Nascimento
Expulsos: André Santos, Fabinho e Robertinho
Público: 50.000 pessoas
Gols: Jameli 16’, Cate 31’, Marques 34’ (1° tempo) Marques 5’, Jameli (pênalti), Caio 30’, Jameli 34’
São Paulo:Rogério; Pavão, Sergio Baresi, Nelson e André; Mona, Pereira e Robertinho; Cate, Jameli (Douglas) e Toninho
Técnico: Marcio Araujo
Corinthians: Marcos; Antonio Carlos, Gino, André Santos e Silvinho; Embu, Hermes e Ergos (Caio); Ricardinho (Renato), Fabinho e Marques
T: Ivan Silva
Videos
Melhores Momentos – Band
Globo Esporte
Jogo completo
https://www.youtube.com/watch?v=bErLqSh4CwI
Campanha Tricolor na Copa SP de 1993:
1ª Fase – GRUPO B
São Paulo 2×0 Uberlândia (07/jan)
América (SP) 0x1 São Paulo (10/jan)
Bahia 1×0 São Paulo (12/jan)
2ª Fase – GRUPO 1
São Paulo 1×0 Matsubara (15/jan)
Palmeiras 1×1 São Paulo (17/jan)
Comercial (SP) 0x2 São Paulo (19/jan)
SEMIFINAL
Vitória 0x1 São Paulo (22/jan)
FINAL
São Paulo 4×3 Corinthians (25/jan)
*César Hernandes, o Cesinha, tem 40 anos e muitos deles vividos com emoção por ter sido testemunha ocular de tantas conquistas do Tricolor. Jornalista de formação e historiador por devoção, crê que é importante preservar a memória são-paulina com textos e imagens que servirão de inspiração para as novas gerações. Escreve nesse espaço todas as sextas-feiras.