Números ruins, time guerreiro: Bauza sai aprovado, mas com restrições

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Marcelo Prado – GloboEsporte.com

Paton Bauza São Paulo x Chapecoense (Foto: Marcos Ribolli)Edgardo Bauza se despediu do São Paulo no jogo contra a Chapecoense (Foto: Marcos Ribolli)

Dia 17 de dezembro de 2015. Através do seu site oficial, o São Paulo confirmou a contratação do técnico argentino Edgardo Bauza, que chegava para ser um dos alicerces da reconstrução de um time que, além de não conseguir resultados dentro de campo, incomodava diretoria e torcedores pela postura despreocupada com que atuava, sem ligar para os sucessivos insucessos ocorridos. A missão não era das mais fáceis. Era necessária uma reformulação não só dentro de campo e com pouco dinheiro em caixa, já que o time vivia uma situação financeira muito complicada.

Sete meses e meio depois, esse trabalho foi interrompido por um convite da seleção argentina. Patón, aos 57 anos, realizará o grande sonho da carreira. Só que, para isso, deixará o trabalho pela metade. Pode-se dizer que Edgardo Bauza sai de campo aprovado em parte pelo que fez. Se fosse um aluno na escola, seria aprovado, mas com restrições.

Analisando o desempenho em campeonatos, o ponto positivo foi a campanha na competição que era a grande prioridade da temporada. Ele levou o São Paulo até a semifinal da Taça Libertadores. O Tricolor perdeu para o melhor time da competição, o campeão Atlético Nacional, da Colômbia, principalmente por não contar com duas peças importantíssimas, Paulo Henrique Ganso e Kelvin, que estavam machucados.

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O time teve momentos épicos na competição, como o empate por 1 a 1 com o The Strongest, na Bolívia, e a classificação contra o Atlético-MG, nas quartas de final.

No Campeonato Paulista, ao contrário, a queda foi um vexame, com uma goleada para o modesto Audax nas quartas de final. No Campeonato Brasileiro, a campanha é apenas regular,com a décima colocação alcançada após 17 rodadas. Hoje, a distância é menor para a zona de rebaixamento (cinco pontos) do que para o grupo da Taça Libertadores (oito pontos).

Para se analisar o trabalho de um treinador, é preciso ir além do desempenho em campo. O time mudou sua postura, passou a ter atitude, a ter comprometimento

Só que, para se analisar o trabalho de um treinador, é preciso ir além do desempenho em campo. É preciso olhar para o dia a dia, para os treinos, para tudo que é feito no entorno. E Bauza agradou bastante. Disciplinador, ele tinha o grupo nas mãos. É aquela história: pode-se não concordar com as ideias do treinador, mas todos faziam o que ele queria.

O time mudou sua postura, passou a ter atitude, a ter comprometimento. Os treinos eram mais pegados, a disputa era intensa. Isso era facilmente perceptível para quem acompanhava a rotina de trabalho do treinador com seus comandados no CT da Barra Funda.

Bauza era a engrenagem de um projeto que começou a ser montado dentro do clube. O São Paulo está modernizando sua estrutura. Passou a ter, por exemplo, um departamento de análise de desempenho.

Ao contrário de de seu antecessor, o colombiano Juan Carlos Osorio, que tinha uma relação conturbada com a diretoria, o argentino se dava muito bem com todos. Sempre conversava com o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva e com o diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira. Mesmo com recursos limitados, conseguiu os reforços que pediu. Até mesmo Buffarini, nome pedido com insistência desde o início da temporada. Que curiosamente, não irá trabalhar com ele. Pelo menos no São Paulo.

Mas Patón também tinha seu lado teimoso. Nas 48 partidas que comandou a equipe, praticamente não mudou o esquema tático: escalou o time sempre no 4-2-3-1, já manjado pelos adversários. Para ele, por exemplo, Rogério era meia e não atacante. O atacante se cansou e pediu para ser negociado. Hoje, o São Paulo se ressente de atacantes no seu elenco.

Os números mostram um desempenho apenas regular de Bauza: 18 vitórias, 13 empates e 17 derrotas, o que resulta no aproveitamento de 46,52%

Bauza sempre priorizou arrumar o sistema defensivo, e o time sofria para agredir o adversário, para tomar a iniciativa. Os números mostram um desempenho apenas regular do treinador: 18 vitórias, 13 empates e 17 derrotas, o que resulta no aproveitamento de 46,52%. Puxando o desempenho dos últimos 13 treinadores no comando da equipe (de 2005 para cá), ele tem apenas a nona melhor marca.

Hoje o torcedor do São Paulo pode não gostar tecnicamente de sua equipe. Certamente, não é possível citar 10 jogos em que a equipe mostrou um grande futebol na temporada. Mas vê um time que luta, que se entrega em campo. Um time que enfrentou seu maior rival atual no estádio em que nunca havia nem empatado e dominou, saindo de campo com uma igualdade injusta: 1 a 1 com o Corinthians. E essa briga é mérito total do treinador, que vai respirar novos ares.

Para o São Paulo, o próximo passo terá de ser cuidadosamente estudado. O que fazer? Trazer outro treinador estrangeiro no meio da temporada seria arriscado? Ou agora seria hora de apostar em alguém que trabalha no Brasil? Os próximos dias serão de muito trabalho pelos lados do Morumbi.