O que se pode esperar do São Paulo Futebol Clube em 2017?
Com permissão do novo estatuto, que abre a chance de separar futuramente o futebol do clube social, divido a resposta entre futebol e política.
Ao escolher Rogério Ceni para técnico, além da impossibilidade de fechar as portas ao desejo de seu maior ídolo, o São Paulo optou por um projeto ousado de futebol. Com direito a auxiliar inglês, esquemas táticos pouco usuais no país, mentalidade arrojada e o desejo de inovar.
A cabeça de Ceni tem praticamente só boas ideias para a equipe, mas o pacote que ele oferece contém riscos. Para sair da mediocridade em que o Tricolor se enfiou nos últimos anos, será preciso perder jogos. Ceni é mais Osorio do que Bauza. É mais Klopp do que Mourinho. Isso não significa que vai levar sete como o México do Profe colombiano ou levar viradas inesperadas como o alemão gente boa, mas o São Paulo vai perder. É impossível crescer à proporção da ambição da nova comissão técnica sem sofrer na pele as custas do aprendizado, do risco.
Será provável ver uma equipe com linha de três na defesa, e essa linha poderá ser composta por três zagueiros, ou dois zagueiros e um lateral, ou dois zagueiros e um volante, quem sabe até um único zagueiro de origem. Talvez um atacante seja escalado na ala. Vai depender do gramado, do adversário, do local.
É o conceito de futebol pensado como esporte coletivo, baseado na montagem da equipe. É esse salto da mediocridade para um certo pioneirismo que pode fazer o Tricolor voltar a ser campeão. Nos últimos oito anos, só um título, a Copa Sul-Americana de 2012. Pouquíssimo para quem, nesse intervalo, investiu tanto – e, comprovadamente, tão mal.
Para os 12 próximos meses, a diretoria tem, por enquanto, apenas R$ 17,2 milhões a gastar em contratações. É pouco, mas pode aumentar em caso de vendas. Rodrigo Caio, enquanto estiver por lá, será sempre o favorito a rechear o cofre. Mas seria muito interessante vê-lo sob comando de Rogério Ceni. Poucos no futebol brasileiro têm capacidade de leitura tática, adaptação a um esquema moderno e imposição de jogo como ele. Talvez por isso ele tenha sido o mais regular – não o melhor, porque Neymar estava lá – da seleção olímpica medalha de ouro na Olimpíada. Uma regularidade nota 8, praticamente impecável, que pode alavancar o São Paulo de Ceni.
Sem dinheiro, veremos nomes como David Neres, Lucas Fernandes, Júnior Tavares, Shaylon, Araruna e companhia. Revelados ou amadurecidos em Cotia, bem treinados por André Jardine, com noção de futebol elevada para quem vem da base, e dispostos a crescer com o técnico.
O Campeonato Paulista será apenas o primeiro torneio de Rogério na função, mas o São Paulo deveria dedicar-se a ele como se fosse um Mundial. Além do jejum estadual inaceitável de 12 anos, esse grupo precisa se habituar a ganhar. Vencer é uma rotina. Ou se tem ou não se tem.
SITUAÇÃO x OPOSIÇÃO
Até abril, mês da eleição presidencial, esperem baixarias e estranhezas do nível dos últimos anos. Entre Natal e Réveillon tivemos a aceitação de uma denúncia homologada há nove meses contra o atual presidente. Também houve a eleição de novos conselheiros vitalícios, em que a oposição se uniu para tentar alçar ao posto pessoas sem representatividade no clube. Perdeu.
Há, por enquanto, dois candidatos: um é Carlos Augusto de Barros e Silva, presidente há 14 meses, quando foi votado para suceder Carlos Miguel Aidar, que renunciou após denúncias e mais denúncias envolvendo comissões, vice-presidentes, agentes, namorada e parentes.
Essa gestão-tampão é uma campanha dos dois lados, do início ao fim. Leco teve méritos financeiros, embora espere-se que num mandato estável possa fazer ainda mais pela redução da dívida, destaque para o marketing, que também pode almejar passos mais largos, e mais erros do que acertos no futebol: 2016 foi um ano de escolhas erradas e muitas mudanças.
O outro possível candidato também é da situação. Roberto Natel, ex-vice de Leco, decidiu comandar o clube. Deixou a gestão, mas renegou o outro lado, a oposição, que não pode ser analisada, pois não propôs absolutamente nada além de vetos, denúncias e a produção de vídeos anônimos que atacavam a administração atual.
Por trás desse cenário bélico está Abílio Diniz, a quem a oposição oferece nomes em busca de apoio eleitoral, e de quem a situação não tem apreço. O megaempresário incentivou e aplaudiu a aprovação do novo estatuto, que, de fato, é um conglomerado de avanços, mas só poderá ser cumprido se o São Paulo tiver pessoas e profissionais melhores. Na situação e na oposição.
Depois de eleito até dezembro de 2020, o presidente terá a missão de ir à caça de bons negócios para zerar a dívida, trocar quantidade por qualidade nos patrocínios, encontrar soluções inteligentes para o Morumbi, defasado em relação às arenas dos rivais, e dar ao futebol uma estabilidade que não se vê há décadas, sem trocas repentinas e passionais.