Goleiro do Audax, que poderia ter sido Sidão, reencontra amigo no São Paulo

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GloboEsporte.com – Lucas Strabko

Felipe Alves Sidão Audax (Foto: Arquivo Pessoal)Sidão (à esq.) e Felipe Alves foram companheiros de Audax até o ano passado (Foto: Arquivo Pessoal)

Felipe Alves está cansado de ouvir que poderia ter sido Sidão. Destaque do Audax por três temporadas, o goleiro do time de Osasco fraturou uma costela no principal momento da equipe no ano passado, quando estava próximo de jogar a fase final do Paulistão. Com a lesão, o atual arqueiro do São Paulo virou titular, fechou o gol até o vice-campeonato e se transferiu para o Botafogo. Neste domingo, pela primeira rodada da competição estadual, os amigos se enfrentam pela primeira vez, às 17h (de Brasília), na Arena Barueri.

– Será um duelo de gigantes. Cada um vai defender o seu time, mas a amizade continua. Vamos trocar de camisa depois do jogo. Até estou pensando em fazer uma aposta. Ficávamos mais juntos do que com a nossa própria família, já que concentrávamos no mesmo quarto. Ele gostava muito de falar inglês. Eu não tenho muita prática. A gente sempre dava umas quebradas, falava errado. Sidão dança e canta muito bem, principalmente Michael Jackson. Agora ele deu uma ajeitada nos dentes, está com sorrisão brilhante – brinca o goleiro do Audax, que tem 28 anos; o do São Paulo está com 34.

Não foi fácil para Felipe Alves ficar fora das finais do Paulistão do ano passado. O Audax enfrentou São Paulo, Corinthians e Santos. Derrotou os dois primeiros e perdeu o título para o terceiro. Em todas essas partidas, o goleiro foi Sidão. Nos 11 anos como jogador profissional, Felipe sofreu apenas duas lesões, sendo a da costela a mais grave, ocorrida na vitória por 2 a 1 contra o Palmeiras após choque com o atacante Erik.

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– Amadureci muito. É muito triste trabalhar o ano todo e ficar fora do mata-mata. Foram três anos esperando por isso. Fiquei 15 dias no sofá, não levantava nem para ir ao banheiro. Ficava vendo notícias do time, que ia jogar na arena do Corinthians… E você no sofá da sua casa sabendo que não pode ajudar. Passa um filme pela cabeça, faz você refletir sobre a vida, começar a pontuar sobre a família. Foi triste. Quando sua hora tiver que chegar, ela vai chegar – diz o arqueiro.

Audax x Corinthians Bruno Henrique (Foto: Marcos Ribolli)Audax, de Felipe Alves, seguirá usando os goleiros para sair com a bola nos pés (Foto: Marcos Ribolli)

Contra o São Paulo, Felipe Alves também enfrentará uma inspiração do estilo de jogo: o técnico e ex-goleiro Rogério Cei. No esquema do Audax, o goleiro usa muito os pés, quase como um líbero. Felipe demonstra muita habilidade na linha, fruto dos tempos de quando jogava futsal e futebol soçaite. A preferência dele, inclusive, é pelas duas modalides. Felipe diz que no campo a bola demora muito para chegar à sua meta.

– Nunca tive feição por goleiro louco. Eu gostava do Rogério Ceni pela personalidade de bater falta. Como goleiro, gostava muito do Taffarel e da frieza do Dida. Hoje, tem Neuer e Ter Stegen. Depois do vice, todo mundo olhou diferente para o nosso estilo. Os times grandes agora procuram goleiros que saibam jogar com os pés. Quando erramos, somos crucificados pelo nosso sistema, chamam de suicida, bando de louco. É mais crítica da imprensa que não gosta. É questão de tempo para mudar isso.

O que poucas pessoas sabem é que Felipe Alves também é batedor de faltas, porém não o faz no Audax, segundo ele, para evitar críticas da imprensa. Em sua carreira, marcou dois gols, ambos pelo Paulista de Jundiaí: um de falta e um de bola rolando em amistoso contra o Santos, há alguns anos, quando foi para área já que seu time estava perdendo por 2 a 1.

– O Diniz (Fernando Diniz, técnico) até dá essa liberdade de bater falta. Jogamos nesse sistema complexo, faço a sobra, sou líbero… Tem muitas funções. Tem que tomar cuidado para não exagerar. Bate falta, depois quer pênalti, acaba não fazendo nenhuma bem feita. Não teria problema nenhum em bater, mas sabe como é a mídia… Vão falar que estou exagerando. Se acerto, sou o novo Rogério Ceni. Se erro… Quero evitar comentários maldosos – afirma o goleiro canhoto.

Felipe Alves também poderia ter sido Jailson. Em agosto do ano passado, após a lesão de Fernando Prass, o goleiro foi procurado pelo Palmeiras. Os clubes chegaram a abrir negociação, porém, o momento do Audax, que jogava com o nome de Oeste na Série B do Brasileiro, brecou a transferência.

– Estávamos caindo para a Série C. Se fosse em um momento bom, talvez teria mais chance de sair. Não posso perder o foco – completou o goleiro, torcedor do Santos na infância.

*Colaborou sob supervisão de Mateus Benato