Gazeta Esportiva
Conhecido por seu poder de marcação e por levantar a torcida com carrinhos e desarmes, o volante Souza, ex-São Paulo, vem mostrando um novo lado de seu futebol na Turquia. No Fenerbahçe desde 2015, quando deixou o clube do Morumbi por um contrato de quatro anos e R$ 28 milhões, o volante vive fase de “artilheiro” e ostenta a melhor média de gols e assistências da carreira.
Neste domingo, às 13h00 (de Brasília), Souza comanda o meio-campo do Fenerbahçe no maior clássico do país, contra o Galatasaray. A histórica rivalidade é uma das maiores do futebol, e também uma das mais violentas. Em conversa por telefone com a Gazeta Esportiva, o brasileiro contou sobre sua adaptação ao futebol turco, a busca por títulos e a forte relação com o São Paulo.
O volante também comentou a atitude de Rodrigo Caio no clássico do último domingo contra o Corinthians e disse que não conseguiria repetir o ato em um clássico turco. No final da partida, o zagueiro são-paulino admitiu que Jô não fez falta em Renan Ribeiro, ajudando a anular o cartão amarelo do atacante alvinegro. São Paulo e Timão voltam a se enfrentar neste domingo, e Souza acredita na classificação de seu ex-clube.
Quando deixou o Tricolor paulista, em 2015, Souza era um dos homens de confiança do técnico Juan Carlos Osorio, e fazia parte do elenco da Seleção Brasileira, do então técnico Dunga. Aos 28 anos e longe dos holofotes da grande mídia esportiva brasileira, Souza afirmou que não se arrependeu de ter assinado contrato de quatro anos com o Fenerbahçe, e que ainda sonha com uma possível volta a Seleção Brasileira.
Vivendo o melhor momento da carreira, o volante revelado no Vasco e com passagens por Grêmio e Porto, disputou 37 jogos na atual temporada, marcando cinco gols e dando três assistências, mostrando aperfeiçoamento no setor ofensivo. Quando deixou o Tricolor, em 2015, o jogador precisou do dobro de partidas para anotar seis tentos. O carinho pelo time paulista faz Souza “lutar” com o fuso horário para acompanhar os jogos do clube e prestigiar o ex-companheiro e hoje técnico Rogério Ceni.
Gazeta Esportiva: Como está sendo a preparação para o clássico contra o Galatasaray, neste domingo?
Souza: A preparação está boa, tivemos uma semana livre para trabalhar. É um jogo muito importante, por ser um clássico e pela nossa posição na tabela. Infelizmente não estamos conseguindo brigar pelo título, mas é muito importante terminar na frente do Galatasaray. O jogo é na casa deles, e quando jogamos na nossa casa, vencemos. Estamos buscando um bom resultado de olho nas vagas para competições europeias.
Gazeta Esportiva: Qual a diferença dos clássicos no Brasil e na Turquia?
Souza: A paixão do torcedor é diferente, tem muito amor ao clube. Se comparar com o Brasil, é mais ou menos como se fosse um Internacional e Grêmio. Aqui na Turquia temos três times grandes, então muitas vezes os jogos terminam em confusão. Mas me sinto honrado de representar o Fenerbahçe nos clássicos.
Gazeta Esportiva: Fenerbahçe e Galatasaray sempre fazem clássicos com muita polêmica, dentro e fora dos gramados. Você já presenciou algum clássico ‘quente’ aí?
Souza: Hoje está mais tranquilo. Há quatro anos os clubes foram punidos e passaram a jogar os clássicos com torcida única, parecido com o que acontece hoje no Brasil. Nos últimos jogos não teve nenhum incidente, as confusões diminuíram depois da punição. Aqui na Turquia isso funcionou. Agora os jogos voltaram a ter duas torcidas. Quando a partida acaba, os visitantes são escoltados pela polícia. É de se comemorar a evolução aqui. Espero que em São Paulo volte a ter clássicos com duas torcidas.
Gazeta Esportiva: Como a apaixonada torcida do Fenerbahçe, que venera Cristian, hoje no Corinthians, e Alex, ex-jogador, te recebeu?
Souza: A torcida me trata muito bem. Às vezes pega no pé, pede para dar o melhor, mas sempre fui um jogador que deixa tudo em campo, que dá carrinho. Como dou o máximo, eles mostram muito carinho. Por conta do Alex, do Cristian, eles gostam muito de brasileiros, e eu tento buscar construir uma história tão bonita quanto a deles.
Gazeta Esportiva: Como você lida com a barreira do idioma?
Souza: É complicado. Minha esposa está aprendendo turco para se comunicar, nem que seja o básico, com o pessoal local. Quando temos alguma urgência, pedimos ajuda aos amigos. Mas acontece algumas cenas engraçadas. No trânsito, quando tem algum problema, o pessoal já sai do carro gritando, e espera que a gente responda.
Gazeta Esportiva: A adaptação ao futebol turco foi fácil? Quem te ajudou no processo?
Souza: A adaptação foi tranquila. Logo quando cheguei o pessoal do clube me apresentou a algumas pessoas que falam português. Na época, o Diego, hoje no Flamengo, já estava aqui, e cheguei junto com o Fernandão, então foi uma adaptação tranquila. O Diego já tinha uns contatos para nos ajudar.
Gazeta Esportiva: Continua com a amizade com o meia Diego, hoje no Flamengo?
Souza: A gente ainda se fala. Quando ele estava para assinar com o Flamengo, me ligou para pedir algumas dicas de locais no Rio de Janeiro. Quando ele teve a lesão mandei mensagem para saber como estava, até antes de realizar os exames. Desejei boa sorte e uma boa recuperação.
Gazeta Esportiva: O que pensa do futuro? Quanto tempo de contrato ainda resta com o Fenerbahçe?
Souza: Assinei contrato de quatro anos, no total, e ainda tenho um ano e meio pela frente. Espero cumprir até o fim, pois estou muito feliz aqui. Quero brigar por títulos, e espero conquistar o Campeonato Turco até o fim de meu contrato. Penso em prolongar. Eu combinei com o meu empresário de filtrar as propostas que chegam do Brasil, porque não tenho vontade de retornar neste momento. Até as propostas de outros lugares, não quero deixar o Fenerbahçe para algo ‘menor’.
Gazeta Esportiva: Você ainda acompanha o futebol brasileiro? Assistiu ao clássico entre São Paulo e Corinthians?
Souza: O fuso horário é muito complicado, quando aí é de tarde aqui já é de manhã. Mas consegui acompanhar o primeiro tempo do clássico. Acho normal o São Paulo não conseguir emplacar. Não é fácil. O Rogério é estudioso, mas na prática é diferente. Acredito que ainda vá demorar um pouco, talvez no Brasileirão. O bom é que a torcida tem paciência com o Rogério.
Gazeta Esportiva: Entre 2014 e 2015 você atuou ao lado do goleiro Rogério Ceni, antes da aposentadoria e do anuncio da carreira como técnico. Como foi o convívio com Ceni no vestiário?
Souza: Ele era um capitão mesmo dentro do vestiário, e talvez por isso ele conquistou todos esses títulos. Não está no DNA dele perder, está muito acostumado a vencer. Vivi anos maravilhosos no São Paulo. A torcida tem um carinho especial por mim, por tudo que fiz, por tudo que corri, pelos carrinhos que dei. Acho que ele como treinador não é diferente de quando era atleta. Espero que dê certo.
Gazeta Esportiva: O lance de Rodrigo Caio ficou marcado e foi assunto nos debates durante a semana. Você repetiria o ato de seu ex-companheiro?
Souza: Não sei se aconteceria aqui na Turquia. É difícil, pois eles têm uma mentalidade muito fechada para o esporte, muito fanatismo. Eu também não sei se eu faria isso, jogando em um clássico turco. Mas a atitude do Rodrigo Caio foi louvável, não é qualquer um que faz isso. Tem que aplaudir.
Gazeta Esportiva: Neste domingo o São Paulo visita o Corinthians, em Itaquera, para a partida de volta da semifinal do Paulistão e precisa reverter o placar de 2 a 0, sofrido no Morumbi. Acredita na classificação do Tricolor?
Souza: Vou assistir ao jogo. Estou sempre torcendo para o São Paulo e aposto na classificação do time. Sei que é difícil, mas até pelos jogadores que lá estão, meus ex-companheiros, e pelo Rogério, acredito que seja possível.
Gazeta Esportiva: Antes de se transferir para a Turquia havia sido convocado pelo técnico Dunga para defender a Seleção Brasileira. Desde que chegou ao Fenerbahçe, no entanto, não foi lembrado nem por Dunga nem por Tite. Isso o preocupa?
Souza: Não vou mentir, sei que é difícil voltar para a Seleção, sou realista. Futebol turco não é visado, até o futebol chinês está sendo mais visado no Brasil, tem emissora fechada passando os jogos. Eu sei disso, e não me incomoda, continuo trabalhando e jogando do mesmo jeito.
Gazeta Esportiva: Se arrepende de ter deixado o Tricolor para “se aventurar” na Turquia, abdicando da Seleção?
Souza: Não me arrependo. Foi a melhor opção no momento e estou feliz aqui. Mesmo que tivesse ficado no São Paulo, não é certeza que continuaria sendo convocado para a Seleção. O jogador de futebol tem carreira curta e tive uma ótima opção financeira.