UOL – Bruno Grossi
Gabriela Di Bella-18.jan.2016/Folhapress
Leco está no presidência do São Paulo desde outubro de 2015
A gestão do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva no São Paulo, desde o mandato tampão iniciado em outubro de 2015, pode ser dividida em dois opostos. De um lado, um trabalho aparentemente firme para recuperar as finanças do clube. Do outro, a instabilidade constante do departamento de futebol, que se traduz em resultados ruins em campo, como a briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro pelo segundo ano consecutivo.
Não é apenas com trocas seguidas de jogadores ou treinadores que o futebol do Tricolor sofre. Há uma ciranda também entre os dirigentes que trabalham diretamente no CT da Barra Funda. Em quase dois anos de administração de Leco, a lista de diretores estatutários, executivos e vice-presidentes de futebol é extensa, com ideais e projetos interrompidos por pressão política, da torcida e decorrente da falta de resultados.
Quando venceu as eleições emergenciais após a renúncia de Carlos Miguel Aidar, em outubro de 2015, Leco tinha Ataíde Gil Guerreiro como vice-presidente de futebol, Gustavo Oliveira como diretor-executivo e Rubens Moreno como diretor estatutário da pasta. Cinco meses depois, a perseguição de torcedores contra Ataíde fez Leco mudá-lo para a diretoria de relações institucionais. Moreno também foi dispensado. A solução foi buscar Luiz Cunha para dividir as obrigações com Gustavo.
Cunha fazia trabalho elogiado na base e apresentou perfil menos administrativo e mais pessoal, com bom relacionamento com o elenco. O trabalho de vestiário era exaltado e o cartola ganhou força, até que divergências com Leco e Gustavo sobre a compra de Cueva o fizeram pedir para sair. Uma semana depois, uma nova diretoria foi formada. O cargo de vice de futebol foi reativado e José Alexandre Médicis, mais um oriundo de Cotia, recrutado. Para o lugar de Cunha, José Jacobson foi tirado da vice-presidência de administração e finanças.
Os dois dirigentes estatutários tinham bom trânsito no conselho deliberativo e poderiam gerar fôlego a Gustavo Oliveira, muito criticado internamente pelo salário recebido e pela política de gastar pouco em poucos reforços. Em menos de três meses, no entanto, Leco sucumbiu à pressão, que começou a ser exercida também pela torcida, e optou pela saída do sobrinho de Raí.
Para acalmar os ânimos das arquibancadas e tentar melhorar o ambiente no CT, a solução foi a volta de Marco Aurélio Cunha. O antigo superintendente de futebol, cargo que deixou em 2011, pediu licença do posto de coordenador de seleções femininas na CBF e ajudou no planejamento para 2017. Em janeiro deste ano, encerrou sua participação e a diretoria de futebol seguiu com Jacobson e Médicis até a eleição presidencial de abril.
Pelo novo estatuto, o futebol deve ficar na mão de um diretor-executivo remunerado, com experiência reconhecida na área. Leco, entretanto, prezou pela confiança para nomear seu escolhido: Vinicius Pinotti, de trabalho elogiado como diretor de marketing, assumiu a missão tendo o conselheiro Fernando Chapecó como diretor ajunto.
A troca de pessoas não deveria, necessariamente, alterar também os projetos e a visão de futebol da gestão. Pelo menos era essa a pregação de Gustavo Oliveira, que defendia que dirigentes, técnicos e jogadores precisavam estar enquadrados em uma filosofia de longo prazo do clube. Assim, as pessoas passariam, a ideia permaneceria e as mudanças poderiam ser mais suaves. Um ano depois da saída do executivo, tudo mudou.
Edgardo Bauza, por exemplo, era visto como um treinador ideal para esse modelo de gestão. Concentrava-se no trabalho de campo, na gestão do grupo e era flexível ao debater possíveis reforços com a diretoria. Tinha seus preferidos – e até emplacou Buffarini e Chavez -, mas entendia quando os cartolas vetavam um nome por não vê-lo no perfil desejado. Já sem Gustavo e com Rogério Ceni no comando, o inverso apareceu: o Mito colecionou indicações que hoje são contestadas pela diretoria, deu autonomia para que os reforços fossem contratados.
Da comissão técnica fixa, mantida pelo São Paulo por quase duas décadas, sobraram apenas médicos e fisioterapeutas. Não há mais nenhum auxiliar permanente, como foram Milton Cruz e Pintado. Na preparação física, o modelo começou a ser resgatado com a promoção de profissionais que estavam em Cotia, enquanto a fisiologia tem novo projeto em fase inicial de implantação com Altamiro Bottino como coordenador científico.
São breves sinais de um recomeço, defendido por Pinotti. O problema é que, assim como seus antecessores, o diretor-executivo já entrou na mira das reclamações de torcedores e até de outros dirigentes. A diferença para os últimos casos está na resistência e no apoio que a oposição tem dado ao homem forte do futebol são-paulino.
Diretores
Rubens Moreno (outubro de 2015 a março de 2016)
Luiz Cunha (março de 2016 a junho de 2016)
José Jacobson (junho de 2016 a abril de 2017)
Diretores-executivos
Gustavo Oliveira (outubro de 2015 a agosto de 2016)
Marco Aurélio Cunha (setembro de 2016 a janeiro de 2017)
Vinicius Pinotti (no cargo desde abril de 2017)
Vice-presidentes
Ataíde Gil Guerreiro (outubro de 2015 a março de 2016)
José Alexandre Médicis (junho de 2016 a abril de 2017)