A transferência de Neymar é a maior da história do futebol mundial. Por isso, quando se fala em R$ 800 milhões, não existe paralelo possível com nenhuma outra, em nenhum outro tempo. Mas, ressalvando-se comparações financeiras, a chegada de Neymar ao aeroporto Charles de Gaulle tem a ver com outra, mais modesta, há 75 anos: a chegada de Leônidas da Silva, de trem, à estação do Norte, no Brás, vindo do Rio. Para defender o São Paulo.
Os 200 contos pagos pelo São Paulo foram a maior contratação do futebol brasileiro até então. E, com Leônidas, o São Paulo tentava o mesmo que o PSG tenta agora, com Neymar. Subir de patamar, tentar igualar-se aos grandes clubes. Do mundo, no caso dos franceses, do estado, no caso do São Paulo.
Fundado em 1970, o PSG, a partir da inversão de dinheiro estrangeiro, foi se fortalecendo. Ganhou muitos títulos franceses, mas quer a Liga dos Campeões. Quer lutar pelo domínio do futebol mundial com o Real Madrid. Bayern, Barcelona, Juventus, nada disso assusta o PSG. Eles querem a Liga. Depois de Neymar, está chegando Mbappé.
O São Paulo não tinha títulos paulistas. O de 1931 só foi reconhecido agora, quando o clube oficializou em seu novo estatuto a data de 25 de janeiro de 1930 como data de sua fundação. O estatuto antiga dizia que dizia que o clube ”foi fundado em 16 de dezembro de 1935, como continuidade do São Paulo Futebol Clube nascido em 25 de janeiro de 1930”. O São Paulo encerrou as atividades em janeiro de 1935, por questões financeiras e foi refundado em 25 de dezembro do mesmo ano.
Palestra Itália e Corinthians eram os donos do futebol paulista. Com a chegada de Leônidas, o artilheiro da Copa de 1938 e maior jogador do Brasil naqueles tempos, o São Paulo tentava mudar o jogo. E conseguiu, apesar das desconfianças. Leônidas já tinha 29 anos e fama de indisciplinado. Havia cumprido pena, acusado de falsificar documentos em 1935 para não servir o Exército. Foi chamado de bonde dos 200 contos. Mas a torcida tricolor levou dez mil pessoas à Estação do Norte, no Brás para recepcionar o ídolo, em abril de 1942. A estreia foi em 24 de maio, com 70 mil pessoas no Pacaembu. Nada de excepcional. No segundo jogo, o primeiro gol (vitória de 4 x 2 contra o Santos) e no terceiro, gol de bicicleta, sua marca, na derrota por 2 x 1 para o Palestra.
E vieram os títulos. Campeão paulista em 1943, quando ”a moeda caiu em pé”, derrubando a dualidade então existente. E foi campeão novamente em 1945, 1946, 1948 e 1949. Todos com Leônidas, que fez 144 gols em 212 partidas. Média de 0,68 gols por jogo. Na seleção, foram 37 gols em 37 jogos.
Leônidas transformou o São Paulo em um gigante paulista. Neymar vai transformar o PSG em protagonista mundial? A Liga está aí, as pedras estão lançadas.