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Alexandre Lozetti
Craque do título contra o Barcelona agora veste terno para resgatar o clube do jejum.
No dia 13 de dezembro de 1992, Raí ganhou o mundo para o São Paulo. De camisa branca com as listras vermelha e preta, calção branco e chuteiras pretas, clássicas, o craque colocou a bola duas vezes na rede do poderoso Barcelona e levou o clube ao andar mais alto.
Passados 25 anos, Raí precisa, de novo, tirar o São Paulo do lugar onde está e colocá-lo noutro patamar. Daquela época ele só manteve a classe, mas agora veste terno e gravata. As missões são incomparáveis, mas devolver ao Tricolor o respeito, o pioneirismo e a credibilidade poderá ser tão difícil quanto derrotar o que, no início dos anos 90, chamavam de “Dream Team”.
Raí foi uma escolha certíssima de Leco, mas não pode ser um móvel novo numa sala de decoração empoeirada. Não pode ser apenas o apelo à figura, que certamente passa a melhor das imagens. É preciso que o São Paulo esteja interessado em suas ideias, em percorrer o caminho que o executivo pode abrir, em mudar e construir, de fato, sua identidade.
Em 92, Raí era protagonista de uma engrenagem que beirava a perfeição. Telê Santana, o comandante, tinha a sensibilidade de distribuir suas peças de maneira a potencializar o jogo dos craques, e a presença de companheiros como Muller, Cafu, Cerezo, Zetti e companhia era essencial para que o capitão pudesse deitar e rolar, como fez em Tóquio.
Em 2018, no futuro breve, o novo diretor do São Paulo também vai precisar de uma equipe. Ao contrário da maioria dos que passaram recentemente pelo cargo, Raí não tem qualquer característica de vaidade. Não vai querer ser o pai da criança. Seu perfil de trabalho coletivo e a necessidade de outras mentes mais leves, jovens e abertas exigem parceiros também agora.
Pelo menos outro profissional para tocar a base, hoje sob comando político, é essencial. Pessoas que compreendam o futebol com toda sua complexidade também.
O São Paulo começará o ano em dúvida. Quanto tempo ficará seu treinador? Quanto tempo ficará seu diretor? Quanto tempo ficarão seus principais jogadores e suas revelações da base?
Os últimos anos levam a essas questões. O São Paulo muda demais, destrói o que constrói, não termina seus projetos, é uma coleção de obras inacabadas. É pesado o fardo que Raí precisa carregar, ter sobre seus ombros a esperança de milhões de torcedores cansados de frustrações.
Raí não sentia o peso da camisa. Quanto mais decisivo era o jogo, melhor ele se saía. Em finais de Libertadores, fez gol de pênalti e de peito. Fez gol ao estrear numa final. Fez três gols sobre o maior rival em outra decisão.
Aquele 13 de dezembro de 1992 foi o auge. Com direito a chapéu em Guardiola – aquele! Esse! O gênio dos técnicos! – e caneta em Stoichkov. O maior time da história do São Paulo, sob o comando do maior técnico, no maior título. E Raí pode construir novos capítulos agora.