UOL – Bruno Grossi
Rubens Chiri/saopaulofc.net
No último dia de Diego Lugano no CT da Barra Funda como jogador do São Paulo, o uruguaio teve uma sombra. O volante Petros, que em cinco meses tornou-se um dos símbolos da reação do time no Campeonato Brasileiro, praticamente perseguiu o ídolo. Queria observar as reações do companheiro antes de fazer o último jogo pelo Tricolor, no domingo, e acabou recebendo algumas missões para 2018.
“Fiquei o dia todo com ele, tirando a hora de dormir porque não dividimos o quarto. Fiquei tentando perceber reações e a gente conversou muito. Ele passou algumas ordens para mim, para o próximo ano. De cobranças, do que é certo, do que é errado para mudar, não deixar acontecer algumas coisas e manter o grupo como uma família, como finalizamos, e não como estava como chegamos. Só podemos agradecer a ele pela ajuda, pelo caráter. Ele ajuda demais os jovens, a gente. Mesmo sem ter nada a ver com o ano que vem, ele se preocupou em me chamar e passar o que passou, designando coisas importantes. Fico feliz de ter compartilhado vestiário com um cara com essa história e esse coração. Ele sai com a cabeça erguida e paz interior”, conta o camisa 6.
Petros teve rápida identificação com a torcida e, principalmente, com o restante do elenco. Os relatos são de confiança dos atletas, principalmente pelas palavras de apoio nas preleções e pela dedicação em campo. Elementos presentes na trajetória de Lugano pelo São Paulo e que justificam o “bastão passado” no fim de semana. Lugano deu adeus à torcida no empate em 1 a 1 com o Bahia, no encerramento do Brasileirão, e agora decidirá se continuará jogando ou se terminará a carreira. Se optar pela aposentadoria, analisará o convite feito pelo Tricolor para gerenciar a comissão técnica.
“Ele ama o São Paulo em primeiro lugar e não aceita que as pessoas aqui façam corpo mole, não se entreguem 100%. Ele cobra muito. Na minha opinião, isso se posso opinar, acho que é um cara que poderia ajudar muito no ano que vem pela maneira de pensar. Apesar do temperamento forte, é uma das pessoas mais inteligentes que conheci no futebol. É um cara que vai agregar muito ao clube, então espero que fique”, exalta Petros, que segue:
“Lugano falou uma coisa e gostaria de relatar, porque acho muito importante. ‘Petros, se eu pudesse escolher dois momentos para encerrar minha carreira no São Paulo, eu escolheria esse, e não quando fui campeão (entre 2005 e 2006). Porque ajudei muito mais, mesmo sem jogar e quando o São Paulo mais precisou de mim’. É uma atitude louvável, de homem, de quem se dedica integralmente ao trabalho. Falou também que quem faz o grupo ser uma família são os jogadores que não jogam. Uma coisa simples, mas que no fim é fundamental. Porque o reserva é o que treina para apertar o titular, é o que cria o bom ambiente para jogar”.
Com sentimento de “dever cumprido” por ter ajudado o São Paulo a escapar de seu primeiro rebaixamento na história, Petros aposta que o grupo sairá fortalecido para um 2018 de resultados melhores em campo, principalmente após corrigir problemas internos que contribuíram para que o time entrasse na zona da degola e permanecesse por 14 rodadas. Méritos também para o técnico Dorival Júnior.
“A gente se fortaleceu muito pelo que escutou e viveu, com todo mundo desejando nosso rebaixamento. Foi um ano difícil, que me deixou esgotado mentalmente pela responsabilidade que tivemos de assumir. Diria que poucas vezes vi um grupo reagir tão bem a uma dificuldade enorme como essa. Poucos sairiam dessa. Há cinco meses, o São Paulo estava rebaixado e com o vestiário morto. Hoje temos uma família e o Dorival tem muito valor nisso. É um cara que ajudou, se dedicou, é muito humilde e fez um grande trabalho psicológico muito grande. Não há um responsável absoluto. Teve Rodrigo Caio, teve Sidão, Pratto, Hernanes, Cueva, a tia da cozinha, o cara da limpeza e todo mundo que nos proporciona a tranquilidade para fazer o melhor. Estávamos rebaixados e vocês não têm noção do que foi para escapar”, comemora.