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Bruno de Oliveira
Janeiro é o mês da copinha e o Tricolor, sempre apontado como um dos favoritos ao título, venceu os primeiros jogos e chegou àquela fase que realmente importa, quando do outro lado do campo reconhecemos contra qual camisa disputaremos o caneco de melhor time de aspirantes. Batemos em Chapecoense e Botafogo-SP, duas vezes. Hoje à noite, oremos, o Cruzeiro.
Resultados e camisa nos credenciam como a principal força. Tem sido assim e não há dúvidas que seguirá sendo neste que é o único torneio do mundo onde a taça é o que menos importa. No certame de verão, vale mais lapidar o escrete, encontrar o craque que falta ao profissional e, talvez, angariar recursos com seu inexpugnável adeus rumo ao time forasteiro.
Não há dúvidas de que ao longo da história o clube fez bem o seu papel neste campo – criamos Muricy, Cafu, e a lista segue. Quem diz nunca ter ouvido falar dos Menudos o faz por maldição ou inveja, é só prestar a atenção na veia gorda que brota da testa do mentecapto junto com as mil gotas de suor quando finge ignorar os estragos que fizeram Muller, Silas e Sidney.
Exemplo mais recente, o menino Ricardo saiu de nossos domínios para ser rei de Milão e, depois, do mundo. A trajetória do rapaz deveria inspirar a instalação de uma placa em Cotia: saiu daqui para conquistar o planeta. Se existisse, teria mais valor que nove ou dez taças da copinha expostas numa vitrine qualquer.
Isso porque, uma vez erguida na portaria, motiva o garoto que, nariz escorrendo e olhos tímidos, chega pela primeira vez ao clube para defender nossas cores. O punhado de taças no canto do museu? Nem o mais incauto dos turistas se dispõe a fotografar a si e aos filhos com elas servindo de pano de fundo. É triste, e dói, mas é a verdade.
Acontece que nos últimos anos a fama que precede a história da nossa base tem prejudicado a formação dos aspirantes e nos proporcionado alguns vexames. O tamanho da máquina de produzir craques, as goleadas homéricas contra times de empresários, tal qual o veneno de um predador peçonhento, minaram as estruturas dos nossos quadros. Perdemos a fibra antes do bote fatal.
Quando não levamos viradas históricas, passamos vergonha em decisões de pênaltis e, pior dos cenários, demos vida a criaturas bizarras que nunca conseguiram se firmar no tal do futebol, o que escancarou, de nossa parte, uma tremenda falta de responsabilidade social e compromisso com o desporto.
Este ano, por outro lado, o São Paulo da copinha me fez sonhar. A letargia das últimas campanhas me levou a acompanhar os jogos por obrigação moral porque não havia o que pudesse acelerar a pulsação, dilatar a pupila, morder um lábio para acordar do sonho. O peito, antes um semiárido de emoções, hoje se inunda de esperança.
E antes que os beócios se cubram de estatísticas e mandingas para concluir que estou precipitado, que ainda é cedo, que no mundo profissional são outros quinhentos, reafirmo de forma categórica: há uma espécie de aura no elenco desta oportunidade. O time, em linhas gerais, parece ter resgatado os fatores que fizeram campeões os grandes esquadrões do São Paulo ao longo da história – marcação firme, toque de bola ofensivo e arremates precisos.
Contra o Cruzeiro-DF, a goleada veio da frieza que tomou conta do time, vejam só, após o gol do rival nos primeiros minutos. O Sergipe, na sequência, fez o time mostrar que consegue jogar compacto e tivemos um sem-fim de desarmes.
A partida contra a Chapecoense, que nos eliminou em 2017, e os dois jogos contra o Botafogo-SP, foram fundamentais para que eu pudesse me entusiasmar definitivamente com o time. Foram atuações que me proporcionaram aquela felicidade que nos faz capazes de operar milagres. A mesma que leva o animador de auditório a pular e assumir para si a responsabilidade de contagiar as massas sem se importar com o ridículo.
Alguns nomes mostram que o horizonte do time profissional pode ser menos obscuro nos próximos anos, e isso, no atual momento, me anima mais do que ver uma volta olímpica sendo realizada no Pacaembu, no dia 25.
Sozinho na zaga, um dia, Walce será capaz de parar qualquer esquema com três atacantes. Cássio e Luan, a dupla de volantes que protege a defesa como se fossem cérberos famintos e que pode, no curto prazo, reestabelecer o respeito que a volância tricolor perdeu desde que Mineiro e Josué decidiram trilhar seus caminhos em clubes de estrela menor. Liziero, enfim, um lateral que marca e apoia e isso, apenas isso, me faz ver a silhueta de deus nas nuvens.
Mas gostaria de dedicar um parágrafo ao Jonas Toró, o atacante, ainda que seus predicados mereçam destaque maior. O chutes a gol não são apenas chutes, mas episódios de manifestação divina que conduz a bola rumo às redes. Apenas isso explicaria a potência e a precisão dos arremates do camisa 7 ao longo do campeonato, e que campeonato: quatro gols em cinco jogos.
Campeões ou não da copinha temos cinco nomes para comemorar. Ainda que a vida não seja justa, e o futebol muito menos, espero que este mesmo poder divino que move o atacante rumo ao arco adversário ilumine a mente da cartolagem: Toró está no clube por empréstimo até 2019, e se faz urgente a necessidade de contratá-lo antes que as aves de rapina, que já sobrevoam o clube, o faça. Assinem o contrato para que o sonho, ao fim, se torne realidade.