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Felipe Schmidt, Montevidéu
No Uruguai com equipe sub-20, ex-jogador quer contrapartida à torcida: “O São Paulo tem tanto acesso ao povo que a responsabilidade é infinitamente além de chutar a bola e fazer gol”.
Terminada a entrevista com Lugano no hotel onde o São Paulo sub-20 está hospedado em Montevidéu, ele permanece na mesa, um pouco afastada do resto do saguão, e fica sozinho com seu mate.
Por pouco tempo. Rapidamente, quase como uma procissão para falar com o ex-jogador acontece: são jovens jogadores de River Plate (Uruguai), Independiente del Valle e Nacional que chegam respeitosamente para pedir uma foto; mães com filhos pequenos; amigos do futebol.
Nestes pequenos gestos, Lugano desempenha sua nova função no São Paulo. De capitão e ídolo dentro das quatro linhas, ele agora é superintendente de relações institucionais do clube. Um cargo que ele mesmo tem dificuldade para definir: afinal, inquieto, tenta ajudar de diversas formas, até mesmo em consultas da direção do futebol.
Com pouco menos de um mês na função, Lugano diz que interveio em variados assuntos. Mas tem claro aquilo que vê como mais importante para o São Paulo: aproximá-lo da sociedade e fugir da eterna pressão por resultados do futebol.
– Que o São Paulo seja socialmente mais ativo. Tem tanta, tanta, tanta coisa para fazer. Um monstro como o São Paulo tem tanta coisa para ajudar. Mil exemplos. Pode ter participação social como fazem os grandes clubes do mundo.
Que não se limite ao resultado do próximo jogo, mas que gere uma imagem, um perfil, valores que você consiga transmitir ao torcedor e à sociedade. Algo que vale muito mais que o resultado. O São Paulo tem tanto acesso à sociedade e ao povo que a responsabilidade é infinitamente além de chutar a bola e fazer gol.
Lugano também quer ser um representante do São Paulo na Conmebol e na CBF. QPretende ajudar em projetos de marketing. Já conversou com Raí sobre assuntos do futebol. Procura conversar com os meninos do sub-20 para dar exemplos – incluindo uma cartilha que ele define como “dicas de comportamento”. Tudo isso ele explica na entrevista abaixo:
GloboEsporte.com: Sua primeira missão internacional é justamente no Uruguai. É duplamente significativa para você?
Lugano: Não foi minha primeira missão, porque em apenas 20 dias em São Paulo, por sorte minha ou necessidade do clube, já tive que intervir em muitas coisas. Mas é minha primeira viagem. É muito especial, tem toda uma simbologia para mim e para o São Paulo, por seu vínculo com o Uruguai.
Estamos tentando aproveitar, ajudar o pessoal a fazer contatos, a conhecer um pouquinho mais do nosso futebol, porque acho que é possível também assimilar, ver, ouvir e, por que não?, aprender sobre coisas que o Uruguai pode ajudar.
Não sempre precisa olhar para a Europa, China, Japão, Estados Unidos. Na América do Sul tem muita coisa com que se pode olhar, e isso é um pouco da nossa função aqui.
Você vê o Brasil muito distante da América do Sul?
É a cultura brasileira. Não só no futebol, mas no país. Na música, na arte, no cinema. Normalmente o Brasil é fechado para a América Latina e um pouco mais aberto para os Estados Unidos e a Europa. No futebol não é diferente.
A nossa presença no clube faz com que se abra um pouco esse aspecto. Porque sempre tem coisas para interagir. É interagindo que você sempre agrega. Acredito muito nisso. Estou um pouco tentando fazer isso.
Queria você explicasse um pouco sua nova função.
Quando o São Paulo me propôs ficar, pensamos juntos qual seria a área ideal para mim. O São Paulo entendia que na parte esportiva eu tinha muito para ajudar, porque minha imagem é recente. Mas eu também estava um pouco cansado dessa rotina. Se fosse para continuar nisso, eu continuava jogando.
Olhando times europeus, aproveitando o prestígio que tenho no São Paulo e com o torcedor, o respeito que tenho em toda a América Latina, encontramos uma função um pouco mais institucional, que acho que tem mais a ver comigo hoje.
Acho que o São Paulo vai precisar mais de mim assim: a figura de um jogador que se identifica com a massa são-paulina e representa isso no continente, seja na Libertadores sub-20, num papo com os moleques, com os profissionais, com o departamento de marketing.
Ainda mantém contato com o futebol?
Muitos contatos. Quando não viajo fico no CT, tenho muito vínculo com os meninos, com a comissão técnica. Com o Raí já participei de muitas ideias, trocando ideias, ajudando em decisões a tomar. Sou consultado, mas não é minha responsabilidade tomar decisões.
Tanto no esportivo quanto no marketing, que também tem todo um processo de renovação. A área social… Enfim, fazem 25 dias. Sou muito inquieto, gosto de aprender. Como jogador já intervinha em tudo. Para mim é muito natural.
E qual é sua prioridade nesta nova função?
É justamente o que preciso definir. Se você começa a abordar tudo, acaba sendo pouco profundo. Mas há uma área que eu vou tentar participar mais. Algo que o São Paulo nunca fez. Ter um representante conhecido na Conmebol, na CBF, com a torcida. Reuniões, eventos sociais e empresariais. Qualquer um que se aproxima do clube quer ter a imagem do clube para aprofundar esse vínculo.
O Brasil nunca fez isso, como fazem Espanha, Itália, Inglaterra. Também na América do Sul é normal ex-jogadores fazerem essa função. Não ídolos, mas respeitados, com uma visão um pouco mais além. É o que pretendo fazer: aprofundar o vínculo do São Paulo com o torcedor.
Estou convencido disso, e estamos tentando agora, junto com o marketing, fazer um plano para que o São Paulo comece a ter mais presença e atividades sociais. Eu, na verdade, gosto e sempre fiz. Mas o São Paulo, com o potencial que tem, pode atingir e ajudar muita gente.
Você vê o futebol muito afastado da sociedade?
Muito. No Brasil, muito. Na Europa, nem tanto. Os clubes sabem que a área social é importante, é importante retribuir à sociedade, aproximar o clube do povo. No Brasil, não sei por que… A questão é de se traçar um plano e saber quem você é, o que você quer, e ir além dos resultados.
O futebol é tão imediatista, tão fanático, tudo depende tanto do próximo resultado, que é impossível traçar uma linha que não seja ganhar o próximo jogo. Acho que é muito pouco o que se oferece ao torcedor. O torcedor se identifica com uma essência, princípios, valores. O São Paulo, por natureza, os tem, mas não explora como poderia e deveria. Nessa função posso ajudar, porque minha imagem é muito vinculada a isso.
Vimos isso agora no São Paulo, que era questionado mesmo com quatro vitórias seguidas. E, depois da derrota num clássico, aumenta a pressão.
É por isso que o presidente e eu decidimos nos afastar um pouco do resultado imediato. Eu não queria. Por isso estamos numa área um pouco mais ampla. Algo que não depende exclusivamente da paixão do próximo resultado. Obviamente, o que vale mais para o torcedor são os resultados. Assim é o futebol. Mas mesmo assim você pode dar, deve dar, algo além. Algo para que o torcedor se sinta orgulhoso do time, independente de ser campeão ou não. No futebol você perde mais que ganha, essa é a realidade. Então, não pode só fazer o resultado. Vai muito além disso.
Você pensa em ser treinador ou um dirigente mais executivo, ligado ao futebol?
Por enquanto, não. Não é minha ideia. Não sei se é porque deixei de jogar muito recentemente, porque estava um pouco saturado. Não tinha a paciência para a mesma rotina. Mas com certeza tudo o que o clube está fazendo te dá um preparo especial para, em qualquer momento, assumir qualquer outra função.
Apesar de ser jogador, capitão, também vejo, intervenho em muita coisa. A ideia desta nova função é aprender, evoluir como pessoa, profissional e conhecedor do meio do futebol. Acho que isso vai me dar margem para que eu, se amanhã mudar de perspectiva, também mude de horizone. Mas hoje, não. Me vejo nesta área mais de encarar o clube como um todo.
Como foi seu contato com os meninos aqui do sub-20?
Alguns eu já conhecia da Barra Funda. A verdade é que não gosto muito de dar mensagens específicas. Gosto de, com a convivência, dar exemplos. É como eles assimilam. Muito mais que palavras, mas exemplos. Compartilhar momentos, ver como você atua em diferentes circunstâncias. E nessas conversas curtinhas você pode passar certos valores e princípios que acho que são importantes para qualquer jovem.
Como conseguir estas conversas mais curtas?
Sábado ficamos o dia todo em contato, passeando. Nesse dia você interage infinitas vezes. Não é chamar, dar uma de sabe-tudo. É trocar ideia. É nesse intercâmbio que você ganha respeito e ouvidos. Senão você se coloca na posição de dissertador e entra por um ouvido e sai pelo outro. Não funciona mais assim o futebol. É outra época. A mecânica e o diálogo são muito diferentes.
Quando os jogadores mais novos chegam, você costuma entregar-lhes uma cartilha. O que há nela?
Sim, tem uma cartilha para os meninos. Coisas básicas de vestiário. Mas nada de futebol, e sim da vida. Quem quer assimila, quem não… Mas tenho a obrigação de passar. São dicas para a vida de jogador, segundo a experiência que eu tive. Informações que é melhor ter aos 18 anos do que aos 35 anos. Para eles terem uma visão um pouco mais da vida. Coisa interna de vestiário. Dicas de comportamento.
Para facilitar a transição deles para o profissional?
É a ideia. Visualizar por que Cotia e Barra Funda estão tão distantes. Às vezes parecem dois mundos diferentes. Eu, como jogador, não entendia muito. Agora tento começar a entender e ver isso. Para que essa transição seja a mais natural possível. Para que seja natural tem que ter um vínculo constante. Se não tem vínculo, qualquer transição vai ser traumática. São coisas que seguramente o São Pauo deveria ajustar. E a nossa visão como jogador, como pessoa de vestiário, pode ajudar. E é para isso que estamos aqui: tentar visualizar e facilitar esse período.
Esse PRESIDENTE incompetente tem que mandar embora esses sangue-suga que não resolve nada como por exemplo RAÍ, RICARDO ROCHA e LUGANO e com esse dinheiro contratar jogadores que resolve e não os que vem de graça, essa raça está faturando mas não faz gol, infelizmente, o melhor seria manter um padrão de salário de time pequeno e valorizar a garotada.