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Quem tem a oportunidade de frequentar o CT da Barra Funda ou o Morumbi em dias de jogos já se acostumou com o estilo de Nenê fora das quatro linhas. Os passos acelerados, seja para treinar ou para ir embora, não o impedem de cumprimentar quem passa por perto e de brincar com os amigos mais íntimos. Nesse ritmo, entre uma ligação e outra para combinar o próximo compromisso, Nenê chegou e se acomodou no banco à beira do gramado do centro de treinamento do São Paulo para uma conversa com a reportagem da Gazeta Esportiva.
De cara, o meia falou sobre o empate frustrante com o Paraná na última rodada do Campeonato Brasileiro. O camisa 10 tricolor concordou com o chefe Diego Aguirre e aproveitou para tentar explicar o motivo de um primeiro tempo tão ruim em Curitiba.
“Foi o primeiro tempo só. O segundo tempo jogamos muito bem, tivemos chance de ganhar o jogo, mas nós não entramos ligados, como vínhamos fazendo. Acho que foi isso. Nos duelos, não estávamos ganhando a primeira bola, eles estavam mais intensos nessa parte. Faltou isso mesmo. Faltou essa concentração, a intensidade”, explicou.
O tropeço na Vila Capanema se somou às vitórias de Internacional e Flamengo. O resultado disso foi a perda de gordura do São Paulo na liderança do nacional por pontos corridos. Pressão a mais para o confronto com o Ceará, nesse domingo, num Morumbi com mais de 60 mil pessoas?
“Não. Está tudo igual. Foi um contratempo, aconteceu. A gente não é robô. Acontece. Um (jogador) ou outro não estando com a mesma concentração acaba acarretando no que aconteceu, mas não é nada demais. É uma lição, sabemos que não tem jogo fácil, e agora é continuar com a mesma coisa, mesmo clima e mesma vontade e determinação de ganhar”, respondeu um dos principais líderes do grupo são-paulino, assim como Diego Souza, Hudson e Sidão.
Se o reflexo do empate com os paranaenses não preocupa Nenê, o horário do jogo contra o Vovô incomoda o meia. Afinal, jogar às 11 horas altera totalmente a programação alimentar dos atletas. A temperatura também poderia preocupar, mas a previsão é de 13°C e muito vento quando a bola rolar.
“É meio ruim. Ainda bem que aqui em São Paulo não é tão calor. Se fosse no Ceará ia ser complicado”, comentou aos risos, aliviado, antes de detalhar o motivo de sua rejeição. “É mais de acordar cedo, ter de comer como se você estivesse almoçando logo de manhã. Depois que começa o jogo, você acaba nem lembrando, tem a motivação do estádio lotado. A parte ruim é mais isso, ter de fazer uma alimentação mais pesada de manhã, um macarrão”, disse, antes de buscar um olhar mais positivo. “O bom é que acaba cedo e dá para estar com a família rápido logo depois, para aproveitar”.
Falando em percepção otimista, as próximas quatro rodadas, na teoria, podem dar ao São Paulo a chance de disparar na ponta da tabela, ou ao menos recuperar sua gordura em relação aos seus concorrentes. É inegável que Inter, Flamengo, Grêmio e Palmeiras terão missões mais árduas a seguir. Nenê, porém, pondera.
“A gente não fica pensando nisso, não. É jogo a jogo mesmo. Não tem jogo fácil, se é o lanterna ou não, a gente viu aí, empatamos com o Paraná. Muita gente falou ‘ah, mas é o último colocado’. Poxa, mas é um time complicado, jogando em casa, pressionado, tendo de buscar resultado. Então, não tem isso de 10º, 8º, 1º, todos os jogos são difíceis, ainda mais quando você está na situação que a gente está. Todo mundo quer ganhar de quem está na primeira colocação. Por isso, a gente não fica imaginando muita coisa, não, além do jogo seguinte”.
O discurso não muda quando o assunto é artilharia. Com o gol marcado na quarta-feira, o meia passou a ser o goleador maior do São Paulo tanto na temporada (12 gols) quanto no Campeonato Brasileiro (8 gols). A boa fase faz lembrar seus momentos áureos no Paris Saint-Germain.
“É bom a gente ficar pensando em época boa, né?”, brincou. “A gente fica lembrando: ‘olha, já fui bom mesmo’”, continuou, bem-humorado. “Mas não tem isso de artilheiro, não. Eu me surpreendo um pouco, claro, porque não é minha primeira função, mas não fico pensando nisso, em gols, em artilharia. Se eu puder fazer, vou ficar feliz, mas é só um lucro, não é uma coisa que eu fico pensando. O mais importante é ganhar os jogos”, avisou, com a serenidade retomada.
A cara só fechou quando o assunto virou para a eventual ‘obrigação de título’ que o São Paulo passou a carregar depois da eliminação na Copa Sul-Americana. Não que Nenê tenha se irritado, longe disso, mas no auge de seus 37 anos, o experiente jogador fez questão de minimizar os comentários nesse sentido e a repercussão que o tema gerou por causa da situação de momento do Tricolor.
“Isso é coisa de rede social, da imprensa, de fora. Agente já sabia do nosso potencial. A gente tinha de estar brigando lá em cima, entre os primeiros colocados, e é isso, jogo a jogo a gente vai focando para a gente estar no lugar que a gente quer. Mas não que ter saído da Sul-Americana nos deixa obrigados a conquistar o título. A gente não tem que sentir esse peso. Não colocamos esse peso em nenhum dia, o de ser campeão, quanto menos o de obrigação”, esclareceu.
De fato, seria surpreendente alguém no São Paulo assumir tal responsabilidade tão cedo, em meio a uma disputa acirrada como tem sido esse Brasileirão. Em compensação, Nenê aproveitou para reiterar a frustração que foi a queda para o Colón no torneio continental, diferentemente do que alguns torcedores e jornalistas imaginaram à época.
“A gente ficou muito frustrado, porque acredito que a gente poderia ter sido campeão da Copa Sul-Americana. Saímos por uma coisa que normalmente não acontece. Jogamos os dois jogos muito melhor que o adversário e acabou acontecendo um resultado adverso”, lamentou, negando qualquer desinteresse do São Paulo.
“Nunca existiu, tanto é que nós demos a vida até o último segundo. Conquistamos o resultado lá e o time acabou nos pênaltis saindo. O goleiro deles fez uma defesa espetacular no pênalti do Bruno (Alves) e acabou acontecendo. A parte boa é que fisicamente teremos mais tempo de recuperação para o Brasileiro, mas não que isso nos obrigue a nada”, concluiu.