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Alexandre Lozetti
Com mais qualidades para impedir gols do que para criá-los, São Paulo e Corinthians ficam no empate, mas descobrem caminhos para tentar a taça na próxima semana.
São Paulo e Corinthians têm média inferior a um gol por partida no Paulistão. Era inimaginável o título ser decidido na primeira final, pelo que os ataques não fazem. O 0 a 0 era a bola de segurança da casa de apostas.
Depois de 90 e tantos minutos, os únicos fatores que colocam o Corinthians à frente na corrida pela taça são históricos: o fato de o São Paulo jamais ter vencido em sua arena e um plantel habituado aos títulos – somem os de Cássio, Fagner, Henrique, Ralf, Jadson, Ramiro e Vagner Love.
De concreto, há imenso equilíbrio entre times que não encantam, mas são seguros, firmes. Carille precisará fazer seu time rodar a bola no campo de ataque e só conseguirá isso se atacar com mais jogadores, mais volume. Cuca, que tem um apreço maior por correr riscos, terá de buscar mais agressividade no setor ofensivo. Hernanes será imprescindível.
Em 17 jogos:
- São Paulo no Paulistão: 16 gols marcados; 11 gols sofridos
- Corinthians no Paulistão: 14 gols marcados; 12 gols sofridos
Não concordo com a tese de que o anfitrião precisaria ter definido o confronto no Morumbi. Simplesmente porque não é essa a característica de momento desta metamorfose ambulante chamada São Paulo.
O único traço mantido com seus três técnicos no campeonato – André Jardine, Vagner Mancini e Cuca – é a segurança do setor defensivo, reforçada pelas presenças de Hudson na lateral direita e Luan à frente da boa dupla de zaga. O volante de 19 anos é quase sempre um dos melhores em campo. Neste domingo foi, assim como há uma semana, o principal destaque.
Se um time tem na defesa seu trunfo, passa a ser maior a probabilidade de aproveitar buracos criados pela movimentação rival do que reunir talento para criar espaços de infiltração.
O Corinthians novamente protegeu sua área como se fosse o quarto de seus filhos, com empenho e organização exemplares. Com a bola retomada, entretanto, careceu de meio-campistas. Júnior Urso tem capacidades técnica e física para unir os setores, mas se machucou cedo. E Jadson esteve muito longe do meia decisivo e organizador de tempos passados.
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Para a próxima semana, em Itaquera, Fábio Carille terá de encontrar o equilíbrio exato entre não abandonar seu estilo e conseguir ser mais perigoso. São os possíveis desencaixes desse ajuste que Cuca terá de explorar, com mais precisão, para tentar o título após 14 anos.
Everton, do São Paulo, encaixotado entre defensores do Corinthians — Foto: Marcos Ribolli
A lesão de Liziero, rotineira, aliás, foi dura para o São Paulo. O meio-campista costuma ditar o ritmo com aproximação e bons passes. Não há um substituto no grupo, como também não há um centroavante reserva para Pablo. Revezaram-se na função Gonzalo Carneiro, Everton Felipe e Nenê. Todos sem brilho.
Os buracos no elenco provam: se o título vier será apesar da gestão, e não graças a ela, diferentemente dos fantasiosos autoelogios recentes do presidente Leco.
Deslocado para o meio, Everton não conseguiu estabelecer posse de bola criativa. A superioridade no quesito deve-se aos minutos improdutivos de trocas de passes entre o goleiro Tiago Volpi e os zagueiros Arboleda e Bruno Alves, todos órfãos de Liziero.
O Corinthians tratou de proteger o jovem Carlos Augusto, substituto de Danilo Avelar na lateral esquerda, para impedir o “um contra um” entre ele o veloz Antony – que, de acordo com Cuca, passou mal e não teve condição física de apresentar seu melhor futebol.
Corinthians recuado quando o São Paulo tem a bola. Clayson cola em Antony e permite que Carlos Augusto feche a linha de quatro — Foto: reprodução
Para permitir o mano a mano ao seu prodígio, o São Paulo teria de ter circulado a bola com mais velocidade. Não tinha, entretanto, jogadores com tais atributos.
Mesmo assim, fundamentais as ajudas de Clayson e Richard, que entrou no lugar de Urso, no sistema de cobertura. Ralf teve de neutralizar um espaço maior e conseguiu por dois fatores: sua experiência e noção de posicionamento, e também a fragilidade criativa do São Paulo.
No intervalo, Cuca trocou Gonzalo por Hernanes, um dos maiores saltos de qualidade da história numa substituição. O Profeta ofereceu artigo raro: o passe vertical, entre as linhas de marcação. Com a bola, enxergou e arriscou a jogada. Sem a bola, posicionou-se para recebê-la.
Hernanes entrou no intervalo de São Paulo x Corinthians — Foto: Marcos Ribolli
Assim, teve a melhor chance de marcar. Helinho o encontrou com passe firme na entrada da área. O domínio, o giro e o chute venceriam até o gigante Cássio, mas a bola subiu um tantinho além da conta.
O goleiro, aliás, defendeu boa cabeçada de Arboleda e chute forte, de canhota, de Hernanes. É ele o maior diferencial do Corinthians finalista e em busca do tricampeonato.
Na reta final, o Timão só deu ao São Paulo a opção de saída com Everton Felipe para consagrar Fagner. O lateral-direito ganhou todas no duelo individual contra o meia-atacante, estafado e pouco inspirado.
Com o cansaço geral, os visitantes até conseguiram se aproximar da área adversária com mais velocidade, mas ainda faltou aproximação entre os jogadores. Faltou Jadson, faltou Urso, faltou meio-campo. Gustagol passou fome.
O VAR
Reveja lances importantes de São Paulo x Corinthians analisados pelo VAR
Correto nas revisões dos lances em que a bola explodiu na mão de Ralf e, depois, no pedido de puxão de camisa de Hudson em Henrique. Não houve nada. Mas o jogo não pode parar por quase três minutos para constatações do vídeo, principalmente em lances que o árbitro de campo, no caso Luiz Flávio de Oliveira, estava correto.