Cuca mostra que técnicos brasileiros podem crescer com desafios

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A chegada de técnicos estrangeiros ao Brasil causou certa reação de alguns treinadores brasileiros, de ironias à oposição explícita. Os trabalhos de Jorge Sampaoli e Jorge Jesus, no entanto, mostram que eles têm algo a acrescentar ao futebol nacional e ao rendimento dos seus colegas brasileiros. Foi o que se viu com Cuca no clássico entre São Paulo e Santos. Sua ideia de jogo, claramente, superou a do técnico argentino. E ele foi buscar algumas soluções alternativas que não se via em trabalhos recentes dele.

Logo de cara, Cuca botou o São Paulo com praticamente quatro atacantes, Toró, Raniel, Pato e Everton. Pode se argumentar que o último jogava no meio. Mas, na saída de bola santista, ele estava lá na frente para atrapalhar e sempre teve postura mais ofensiva do que defensiva. Esse é o ponto principal que explica o domínio são-paulino no primeiro tempo. A marcação avançada não era simplesmente no campo adversário, era na área do Santos. Everson não tinha nenhuma liberdade para sair jogando a ponto de quase ter perdido duas vezes a bola em lances de perigo.

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Essa estratégia criava duas situações: fazia um abafa são-paulina se aproveitando do ambiente da torcida e  impedia o tradicional toque de bola santista desde lá de trás. É verdade que, como consequência, o São Paulo não tinha meio-de-campo, apenas com Luan e Tchê Tchê no setor, e por isso dava espaço ao Santos quando o rival superava a primeira linha de marcação. Uma risco calculado por Cuca que nunca foi muito adepto de jogo de meio-campo elaborado com muita posse de bola.

Ressalte-se que o treinador são-paulino sempre teve ideias fora da caixa. Foi assim quando achou jogadores como Josué e Fabão para montar o São Paulo mais tarde campeão mundial nas mãos de Autuori. Foi assim quando montou um Botafogo de estilo intenso e rápido. E foi mais perceptível no Atlético-MG de jogo direito campeão da Libertadores, o chamado “Galo Doido” com suas esticadas para Jô.

Mas, ao se tornar vitorioso, Cuca parece ter se acomodado em determinadas fórmulas que deram certo. Seu Palmeiras campeão brasileiro era bastante eficiente, porém, previsível. No clássico, a criatividade de Cuca estava de volta. Melhor no primeiro tempo, saiu com uma derrota. Foi mudar o time e jogar tudo com Hernanes no meio e apenas um volante fixo em Tchê Tchê. Seu São Paulo era tão francamente ofensivo e ousado quanto Sampaoli nos melhores momentos. Foi premiado com dois gols rápidos no início do segundo tempo.

Mesmo com a saída de Hernanes, não abriu mão de ter quatro jogadores ofensivos. Seu time até deu campo para o Santos, mas se manteve intenso nas retomadas e contra-ataques. Havia Pato e Raniel na pressão da marcação no contra-ataque que selou a vitória são-paulina. Ao final da partida, Sampaoli reconheceu que o Santos não jogou da forma que está habituado a jogar: disse que houve uma queda no rendimento. Afirmou ainda que em determinados momentos o time não encontrou as linhas de passes que costuma executar. Um mérito do São Paulo que soube cortar o jogo santista e força-lo ao erro o tempo inteiro, com ousadia de atuar se expondo. Cuca procurou os pontos fracos do time do argentino e foi corajoso para aproveita-lo.

De saldo para os torcedores, o jogo foi bom praticamente o tempo inteiro, com um ritmo vertiginoso que aos poucos começa a ganhar os gramados nacionais.