Bastidores políticos do São Paulo têm aliança, dança das cadeiras no Conselho e “eleição distante”

540

Situação e “centrão” formam bloco alinhado politicamente com cerca de 120 conselheiros. Novo estatuto prevê aumento de 240 para 260 conselheiros, o que pode mexer com pleito de 2020

Por Marcelo Hazan — GloboEsporte.com


A eleição para presidente do São Paulo em dezembro de 2020 será a primeira com a nova configuração do Conselho Deliberativo seguindo as normas do novo estatuto.

As atuais 240 cadeiras passarão a ser 260, sendo 100 de conselheiros eleitos e 160 de conselheiros vitalícios. A eleição deste novo Conselho ocorrerá por meio de votos dos associados do clube, em novembro do próximo ano.

Neste momento não há candidatos a presidente confirmados, embora alguns nomes sejam cotados (veja mais abaixo). O atual presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, não poderá tentar a reeleição.

Publicidade

O discurso nos bastidores do São Paulo é de que lançar candidaturas agora seria “queimar a largada” e de que é cedo para tirar conclusões. Mas há articulações políticas em andamento.

Conselho do São Paulo: eleição para eleger novo presidente ocorrerá em dezembro de 2020 — Foto: Marcos Ribolli

Conselho do São Paulo: eleição para eleger novo presidente ocorrerá em dezembro de 2020 — Foto: Marcos Ribolli

A oposição, por exemplo, se reuniu em setembro para debater possíveis nomes em encontro com a presença do vice-presidente Roberto Natel, rachado com Leco desde 2018. A reunião foi convocada por Newton Luiz Ferreira, o Newton do Chapéu, candidato da oposição na eleição de 2015.

A situação, por sua vez, costurou nos últimos meses uma aliança com partidos agora chamados de “centrão”. São grupos que antes eram oposicionistas e nos últimos meses se alinharam a Leco.

Os quatro partidos da base aliada a Leco somados a estes grupos do centrão formam um bloco alinhado politicamente que representa cerca de 120 conselheiros. Na eleição de 2017, por exemplo, Leco venceu José Eduardo Mesquita Pimenta por 124 a 101 votos.

Um exemplo dessa aproximação política é Antonio Donizetti Gonçalves, o “Dedé”, com cargo na gestão de Carlos Miguel Aidar, destituído por Leco em 2015 e de volta ao social do clube desde o começo do ano.

Outros oposicionistas como Douglas Schwartzmann e José Eduardo Mesquita Pimenta, candidato derrotado por Leco na última eleição, estavam entre os 25 conselheiros que viajaram com o São Paulo para a Argentina, no duelo com o Talleres, em fevereiro, pela Copa Libertadores.

Leco não poderá tentar a reeleição no São Paulo em 2020 — Foto: Marcos Ribolli

Leco não poderá tentar a reeleição no São Paulo em 2020 — Foto: Marcos Ribolli

Representantes destes grupos têm se reunido nas últimas semanas para debater mudanças no estatuto do São Paulo. Uma das propostas em discussão é tornar o vice-presidente um cargo de indicação e não mais eleito numa chapa junto com o presidente. Se aprovada, essa mudança já teria efeito para a eleição do próximo ano.

Algumas das outras ideias são:

  • Reduzir o número de conselheiros vitalícios (eles são substituídos a cada dez novas vagas abertas, seja por morte, renúncia ou exclusão) – esta seria uma mudança apenas para a eleição de 2023;
  • Modificar a quantidade de votos que cada sócio tem na eleição de conselheiros (hoje cada sócio vota em 20 conselheiros nominalmente e existe uma ideia de aumentar para 50 votos) – esta seria uma mudança para entrar em vigor na eleição de 2020;
  • Não permitir que o presidente da diretoria seja também o presidente do Conselho de Administração (órgão com nove integrantes que toma decisões globais a respeito do futuro do clube). Hoje, Leco preside a diretoria executiva e o Conselho de Administração, do qual Natel faz parte – esta seria uma mudança para entrar em vigor na eleição de 2020;
  • Tirar a cadeira do vice-presidente do Conselho de Administração – esta seria uma mudança para entrar em vigor na eleição de 2020.

Essas e outras propostas, no entanto, seguem em discussão entre esses grupos políticos e poderão ser modificadas. Para entrar em vigor, as propostas de mudança estatutária precisam ser analisadas por uma comissão do estatuto, votadas numa reunião do Conselho Deliberativo e aprovadas em uma assembleia geral de sócios.

A próxima reunião do Conselho acontecerá neste mês de outubro, mas não está definido quando essas propostas de mudanças estatutárias serão discutidas.

Termômetro político

Júlio Casares é apontado nos bastidores como um nome natural para se candidatar à presidência do São Paulo, embora ele próprio não se posicione desta maneira.

Conselheiro vitalício e membro do Conselho de Administração eleito com mais votos, Casares tem reconhecida força política, mas não se trata de uma unanimidade nos grupos políticos nem do nome preferido de Leco, por exemplo.

No último sábado, houve um churrasco no clube social do São Paulo para comemorar o aniversário de Casares, completado no dia 23 de setembro. O evento foi encarado nos bastidores como uma espécie de termômetro político. A reportagem ouviu diferentes relatos de que cerca de 80 conselheiros ligados a situação e oposição foram ao local.

Julio Casares, conselheiro do São Paulo, é apontado como um dos possíveis candidatos a presidente do clube — Foto: Reprodução/Twitter

Julio Casares, conselheiro do São Paulo, é apontado como um dos possíveis candidatos a presidente do clube — Foto: Reprodução/Twitter

Terceira via?

Ex-diretor do São Paulo e coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha costuma ser frequentemente citado por torcedores nas redes sociais. Mas ele não lançou candidatura à presidência, e nem há certeza sobre a entrada do conselheiro na eleição. Essa decisão, inclusive, só deverá ser tomada em 2020.

Apontado nos bastidores como uma possível terceira via, o nome de Marco Aurélio Cunha divide expectativas. Há dúvidas sobre a força do ex-diretor de futebol dentro do Conselho do São Paulo numa eventual disputa eleitoral, embora ele tenha reconhecimento significativo entre os torcedores.

Leco, Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos deputados) e Marco Aurélio Cunha no CT da Barra Funda — Foto: Leandro Canônico

Leco, Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos deputados) e Marco Aurélio Cunha no CT da Barra Funda — Foto: Leandro Canônico

LEIA TAMBÉM: