Na prancheta do Tchê Tchê: volante explica como joga o São Paulo de Diniz

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UOL

Bruno Grossi

Logo na segunda rodada do Campeonato Paulista, o São Paulo já tem pela frente um clássico contra o Palmeiras para disputar, às 16h de amanhã (26), em Araraquara. Um momento — mais um — de provação para o estilo de jogo que Fernando Diniz tenta implantar desde o ano passado no Tricolor. E poucas pessoas dominam mais essa junção de fatores do que Tchê Tchê, que atendeu a reportagem do UOL Esporte no CT da Barra Funda na última quinta-feira (23).

O volante ganhou projeção no futebol ao ser lapidado por Diniz no Osasco Audax, foi contratado pelo Palmeiras, onde teve participação na conquista de dois títulos do Campeonato Brasileiro, e agora é um homem de confiança para Diniz colocar em prática seus ideias de um jogo ofensivo e vistoso. Então, a convite da reportagem, ele tentou explicar como o São Paulo quer funcionar em 2020. Mas não espere uma resposta óbvia sobre posse de bola.

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“O futebol praticado por ele muitas pessoas comparam com carrossel holandês, esse tipo de coisa. Mas não é só jogar e sair jogando, é também, e a gente sempre conversa, marcação. É um carro-chefe. A gente toca bastante a bola, tenta envolver o adversário, mas quando perde a posse já temos que pressionar na hora. O primeiro lance de tudo que ele tenta nos passar é que a marcação vem antes de jogar e começa pelos atacantes. Só depois vem o lance de trabalhar a posse de bola para envolver os adversários”, analisou.

Tchê Tchê está à vontade no São Paulo. Depois que passou a ser primeiro volante, sob o comando de Diniz, cresceu de produção e foi importante para a construção do segundo gol sobre o Água Santa na estreia no Paulistão. Ele sabe, entretanto, que ainda precisa de mais para conquistar a torcida. E nada melhor do que um clássico, contra um rival que conhece tão bem, para ganhar mais prestígio.

“A primeira vez que enfrentei foi diferente. Sempre falo que tenho um respeito muito grande pelo Palmeiras, mas agora defendo as cores do São Paulo e vou deixar minha vida em campo para que o São Paulo vença. Não sou hipócrita. Tenho amigos lá e assim é a vida. Você trabalha nos clubes e se faz coisas boas e trata todos bem com respeito e carinho, você vai ser lembrado. Joguei contra no Allianz e não fui vaiado. Então, acho que o respeito é recíproco. Porém, tem essa parte. Cada um defende seu prato. Minha família depende do meu bom desempenho e meus companheiros também. Empenho, dedicação e vontade não vão faltar lá para que o nosso Tricolor vença”, projetou.

Marcello Zambrana/AGIF

Confira um bate-papo exclusivo com Tchê Tchê: Você falou sobre essa marcação imediata após a perda da bola no ataque. Nos treinos da pré-temporada foi bem nítido ver o Diniz gritando “reage, reage”… É, é exatamente isso. E também deu para ver que vocês já estão se cobrando bastante nesse aspecto. O quanto você já vê de evolução no time?

A gente treinou muito no ano passado, mas agora com o respaldo de todos pela permanência de todo elenco e a diretoria confiando na comissão técnica, isso é de uma extrema satisfação para todos. O trabalho mantido faz com que a gente tenha mais tempo para treinar tudo. A cobrança é muito grande sobre reagir após a perda da bola. E não podemos depender dos gritos dele para isso acontecer. Precisa ser algo mais natural e os treinos vão provocar e melhorar isso.

Não era tão comum ver um meio de campo tão técnico e aparentemente sem preocupações defensivas, já que não há um volante brucutu, como diziam. Você é o primeiro sem ser primeiro, Daniel Alves é segundo sem ser segundo, e Hernanes mais à frente. Como é não ter um volante mais pegador e como essa formação impacta na transição ofensiva?

Para iniciar as jogadas, geralmente eu sou o cara que vai estar mais recuado, com o Hernanes e o Daniel um pouco mais à frente. Óbvio, no papel não tem aquele cara que vai ser o marcador, mais forte, mas o que a gente conversa muito é que no nosso estilo de jogo todos precisam atacar e todos precisam defender. Isso ajuda bastante. Eu não sou primeiro volante de origem, mas estou acostumado a essa função, que depende de estar atento e concentrado nos jogos. Isso poderia deixar o time mais vulnerável e o adversário mais confiante para atacar. Então, é preciso estar mais atento na proteção ao Arboleda e ao Bruno Alves não ficarem sobrecarregados. Preciso proteger o time com eles.

O segundo gol contra o Água Santa foi explicado pelo Diniz como fruto de muita repetição. Vocês de alguma forma fizeram o Água Santa sentir confiança de que dava para subir a marcação, como uma armadilha? Como a gente acabou saindo na frente do placar cedo, com menos de seis minutos com o gol do Pablo. Seria óbvio que eles fossem sair um pouco mais, e estávamos preparados caso eles resolvessem pressionar a saída. Assim como também nos preparamos para o caso de eles fecharem bem as linhas lá atrás.

Essa foi uma dificuldade grande do ano passado, não? Foi, sim. O que estão fazendo de diferente para melhorar isso? A gente tem treinado bastante, todos os dias. E fazemos de tudo, porque os treinos são mais longos com o Diniz. A gente já se acostumou com isso. Precisamos evoluir nesses pontos em que pecamos no ano passado e manter as coisas boas, como a defesa que foi a menos vazada do Brasileiro.

Mas diante das retrancas a dificuldade era técnica e tática ou pesava também a falta de confiança para arriscar? A gente arriscou bastante, mas, infelizmente, algumas vezes o placar não era amplo ou a gente esbarrava nessas retrancas. A sobrecarga por não sair gols vai para o ataque, mas deveria ser de todos. Inclusive de quem está mais atrás, como Bruno e Arboleda. Agora, até os dois atacam mais, carregam a bola. E isso é fruto da confiança que o Diniz nos passa. A gente procura dar o passe cada vez mais limpo, porque nossos jogadores de frente são muito bons e assim terão mais facilidade para resolver os jogos.

O que mudou na preparação de vocês por ter um clássico logo na segunda rodada? No ano passado, um clássico contra o Santos no começo do Paulistão ajudou a tirar a confiança do time… Não muda praticamente nada, por mais que haja um peso maior de um clássico. A gente se prepara para encarar todos jogos, de Paulista e Libertadores, como se fossem finais. Pouco muda se é o Palmeiras ou o Água Santa. O que importa é estar preparado. O Paulista é o Estadual mais difícil que tem. O nível de exigência é alto em todas partidas.

E o São Paulo está preparado na parte tática e técnica para um clássico tão grande, tão cedo? Sim. Creio que sim. A gente treina bastante e não vai mudar muita coisa para o clássico. A gente não tenta se adequar ao adversário, a gente mantém uma linha de trabalho consistente. Vamos tentar repetir no domingo.

O São Paulo manteve o técnico, a diretoria e a linha de trabalho. O Palmeiras fez o oposto e fez uma ruptura maior. O que você espera do Palmeiras, que antes era mais reativo e de imposição física, e agora quer jogar de forma mais ofensiva? São clássicos e a gente não pode ficar esperando o que o Palmeiras vai fazer. Temos nossas preocupações do lado de cá, as coisas que precisam ser melhoradas. Deixa que eles treinam essas mudanças deles do outro lado do muro.

Você fez uma análise tática do São Paulo boa. E pelo que teve de experiência jogando do outro lado, o que pode falar sobre o Palmeiras? Pontos fortes, pontos fracos… Não, não (risos)! Só consigo analisar o São Paulo. Normalmente você entra nos times e quase nunca sai. Aqui só perdeu dois jogos por suspensão e um que foi usado o time dos meninos na última rodada do Brasileirão. Qual o segredo para isso?

Acho que meu biotipo me favorece. O pessoal até brinca falando que não carrego nada no corpo (risos). Mas eu canso do mesmo jeito, viu? Procuro treinar fisicamente em casa, mas não musculação, que não gosto muito. Faço a parte mais de resistência, de corrida, treinos funcionais, coisas que mantenham o corpo firme e aguente toda temporada. Sempre tento ajudar da melhor maneira, na função que for preciso jogar. Gosto de jogar sempre e sou grato a Deus por tudo o que tem acontecido comigo.