GloboEsporte
Marcelo Hazan
Meia afirma que Tricolor não é o time que perdeu os dois jogos mais recentes no Morumbi.
Capitão do São Paulo, o meia Daniel Alves citou frustração com a eliminação no Campeonato Paulista, criticou o “imediatismo” de analistas, defendeu o trabalho de Fernando Diniz e fez críticas à política do clube nesta terça-feira.
Foi a primeira entrevista coletiva de um atleta do São Paulo desde a derrota para o Mirassol, nas quartas de final do estadual, na semana passada. O time agora se prepara para a estreia do Campeonato Brasileiro, domingo, contra o Goiás, fora de casa.
– Nós não somos esses dois últimos jogos no Morumbi, somos trabalho, dedicação e entrega de antes da pandemia. Infelizmente, aconteceu esse “X” na nossa caminhada, mas não vai mudar nossa rota, nossa fé no que fazemos no dia a dia, porque é a única coisa que vai fazer mudar a história do São Paulo – afirmou Daniel Alves, referindo-se às derrotas para Mirassol e Bragantino em casa.
O jogador fez defesa enfática do trabalho de Fernando Diniz:
– Não só merece defesa, como ataque e meio de campo. Não é por ter relacionamento especial, porque gostamos das mesmas coisas e temos os mesmos valores pessoais. Acreditamos na verdade do que fazemos e entregamos – declarou Daniel Alves.
– Infelizmente, passamos por situações. Mas implementar num clube da grandeza do São Paulo, com déficit de conquista, é muito mais difícil do que pensam. Mas nem por isso nos acovardamos. Aumenta nosso ímpeto e vontade, de responder a esse desafio.
Daniel Alves no treino desta terça-feira, em Cotia — Foto: Erico Leonan / saopaulofc.net
Ele também reclamou das análises feitas sobre o time tricolor:
– Algumas coisas não têm sentido. Há uma semana eu era destaque, e o time (estava) bem. E um resultado mudou tudo. Mas mudou para fora – afirmou.
– Falam que é um dos piores momentos do São Paulo porque perdeu para um catado. Não existe catado, existem dois times profissionais se enfrentando. Para nós, foi impactante, porque vínhamos numa crescente e tomamos essa – completou, sobre o Mirassol, que perdeu 18 jogadores durante a pandemia.
Na mesma entrevista, Daniel Alves negou a possibilidade de se transferir para o Flamengo e afirmou que, no Brasil, só joga no São Paulo.
O São Paulo foi eliminado precocemente do Campeonato Paulista ao ser derrotado pelo Mirassol, nas quartas de final, por 3 a 2. A queda gerou reação de torcedores, que protestaram em frente ao CT da Barra Funda logo depois da partida. No domingo, um grupo de homens soltou rojões no CT de Cotia e quebrou o vidro de um carro que estava no local.
– Se pudéssemos protestar, nós também iríamos. Não com vandalismo. Precisamos entender que jogamos no mesmo time, conceitos e cores e queremos a mesma coisa. Não estamos de férias, brincando, mas batalhando pra entregar e conseguir o que eles querem. Nunca vou defender vandalismo, respeito opiniões e exigências – criticou Daniel Alves.
Fernando Diniz e Daniel Alves no CT da Barra Funda, do São Paulo — Foto: Érico Leonan / saopaulofc.net
Política
Daniel Alves respondeu uma pergunta sobre se o período eleitoral aumenta o número de pessoas no clube que torcem contra. Em dezembro, o Tricolor vai eleger um novo presidente para suceder Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, que não pode concorrer à reeleição.
– A maior dificuldade que vejo no São Paulo e no futebol brasileiro na gestão é que nem sempre o objetivo é o São Paulo. É sempre muito interesse pessoal, ou interesses não sei quais. Isso acaba conduzindo os clubes para um caminho que poderia ser muito melhor.
– Agora, na política, todo mundo está cheio de dedos para apontar, mas nem todos pensam no bem do São Paulo e sim no bem em estar aqui. Enquanto estiver aqui o São Paulo terá uma mínima verdade, que sou eu, porque não trabalho para mentiroso ou gente oportunista que minimiza os outros para crescer.
Ele citou o Flamengo como referência em seu raciocínio.
– O Flamengo mudou o time de um treinador para o outro? Não. Flamengo mudou o clube, gestão. Tomava café todos os dias com presidente do Flamengo na Copa América, era chefe da nossa delegação. Gosto de gestão. Nossa bandeira exemplifica: ordem e progresso. Sem isso não muda nada.
Em outra resposta, ao comentar sobre o marketing, ele voltou a falou dos bastidores do São Paulo e do futebol brasileiro.
– Ninguém faz nada com as mãos atadas. Para o clube estar em evidência, crescimento e evolução, as pessoas à frente das posições precisam ter poder de decisão. Acredito que um clube não evolui sem esse poder de decisão. Se tudo tem que passar pelo Conselho, tudo tem que passar por isso. No futebol brasileiro no geral e no São Paulo muita gente opina na tomada de decisão, mas não sabemos se realmente são as melhores decisões que são levadas ao Conselho e voltadas a expor para construir alguma coisa. Isso gera dificuldade.
– O São Paulo não é apenas os jogadores que estão sempre expostos, é um todo. Se esse todo não estiver conectado, dificilmente vai fluir. Nós precisamos controlar a nossa área. Se conseguirmos isso, até os ruins nos clubes vão passar a ser bons. No São Paulo, a sensação é de que nem todo mundo quer a mesma coisa. Então vai expor quem está à frente: treinador, presidente, diretor esportivo. Nós, jogadores, eu que vim com expectativa muito alta. Sempre nós ficamos expostos, mas temos liberdade de convencer todo um clube que esse é o caminho para fluir, de todos lutarem pela mesma coisa.
Fora do Paulista, o São Paulo está em um jejum de títulos que já dura oito anos, desde a Copa Sul-Americana de 2012. A pressão por taças não fez com que a diretoria, até agora, admitisse a possibilidade de demitir o técnico Fernando Diniz, que comanda a equipe desde setembro do ano passado.
O São Paulo volta a campo no próximo domingo, quando enfrenta o Goiás, fora de casa, na estreia do Campeonato Brasileiro.
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